Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia (UFRRJ) e professor – Instituto Federal do Paraná (IFPR)
carlos.santos@ifpr.edu.br
Os nematoides são vermes microscópicos causadores de danos às lavouras e que provocam, anualmente, prejuízos milionários para a agricultura brasileira e mundial. Como são encontrados, principalmente, nos solos, estes agentes atacam as raízes das plantas onde podem causar galhas, escurecimento, lesões radiculares, redução das raízes ativas e injeção de algumas toxinas. Também abrem portas para a entrada de outros patógenos presentes no solo, podendo potencializar ainda mais as perdas.
Na parte aérea das plantas, as consequências são percebidas como redução do crescimento e da produção, com sintomas semelhantes à deficiência hídrica e nutricional.
Tipos de nematoides
Diferentes gêneros de nematoides têm causado perdas nas lavouras brasileiras, destacando-se, dentre os principais, os gêneros Meloidogyne, Heterodera, Pratylenchus e Rotylenchulus, que podem atacar uma série de culturas, como a soja, milho, cana-de-açúcar, café, algodão, feijão e outras.
Os nematoides do gênero Meloidogyne, também conhecidos como nematoides das galhas, se destacam dentre os mais importantes devido a sua alta capacidade destrutiva e também pela habilidade de infectar ampla gama de culturas de importância econômica.
Desafios
Por se tratarem de agentes habitantes do solo, o controle de nematoides é um desafio para os produtores. Com isso, diferentes estratégias necessitam ser utilizadas visando manejo eficiente e redução das perdas.
Dentre as estratégias indicadas está a rotação de culturas com espécies não hospedeiras dos nematoides predominantes na área, utilização de plantas antagonistas (como as crotalárias), adição de matéria orgânica ao solo, uso de agentes de controle biológico, utilização de cultivares resistentes (quando disponíveis), limpeza das máquinas e implementos, utilização de sementes e mudas de qualidade, e o manejo adequado da fertilidade do solo.
Onde entra o silício
Diante dos desafios na redução das perdas causadas pelos nematoides, diferentes alternativas têm sido estudadas nos últimos anos baseando-se na premissa de que um manejo nutricional adequado auxilia no crescimento das plantas e pode também auxiliar no aumento da resistência a agentes patogênicos.
Dentre estas alternativas, destaca-se o uso do silício (Si), considerado um elemento benéfico para as plantas e que tem sido associado à redução de estresses bióticos e abióticos em uma série de cultivos.
Com relação aos agentes causadores de doenças, a absorção de silício pelas plantas, e posterior deposição nas paredes celulares, atua como uma barreira física que dificulta a entrada de fitopatógenos.
Ainda, inúmeros estudos também comprovam que o silício pode atuar por meio de diferentes mecanismos, como a indução de respostas de defesa da planta a nematoides e outros fitopatógenos, aumento de atividades das enzimas antioxidantes, produção de compostos químicos, expressão de genes de defesa da planta, dentre outros.
Sem limites
Além da redução dos danos causados por fitopatógenos, alguns estudos também demonstram que o silício atua aumentando a atividade fotossintética e os teores de clorofila, favorecendo a absorção de nutrientes, reduzindo a transpiração, melhorando a arquitetura das plantas e aumentando a interceptação de luz, com melhor resistência ao acamamento, dentre outros.
Em cana-de-açúcar, por exemplo, o silício também está associado a benefícios como melhor desenvolvimento dos colmos e aumento da capacidade de perfilhamento.
Resultados de pesquisa
Estudos científicos que comprovam a atuação do silício como estratégia no manejo de nematoides têm sido feitos ao redor do mundo. Um exemplo é o trabalho de Yu e colaboradores, publicado em 2022, “Silicon Mediated Plant Immunity against Nematodes”, (tradução: Imunidade vegetal mediada por silício contra nematoides).
O trabalho detalha diversos mecanismos de defesa da planta contra nematoides, podendo envolver uma barreira física, atividade enzimática associada à defesa da planta, síntese de compostos antimicrobianos e regulação de genes relacionados com a defesa.
Resultados deste conjunto de novos estudos recentes apontam os efeitos positivos do silício no manejo de nematoides e os mecanismos envolvidos nesse processo. No cafeeiro, por exemplo, a utilização de silicato de cálcio aumentou a atividade das enzimas polifenoloxidase (PPO) e fenilalanina amônia-liase (PAL), além de diminuir os juvenis de Meloidogyne exigua, nas galhas, raízes e ovos.
No algodão, a utilização de silicato de potássio diminuiu a população de Meloidogyne incognita. Em cana-de-açúcar, o uso de silicato de potássio aumentou a atividade de peroxidases (POD) nas plantas infectadas com M. incognita.
Em plantas de arroz, o silício favoreceu a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), reduziu o número de indivíduos de M. graminicola e atrasou o desenvolvimento destes.
Recomendações técnicas
A aplicação de silício pode ser feita por meio de aplicações no solo ou via foliar. As doses e recomendações são variáveis de acordo com as características do produto utilizado, cultura-alvo e características do solo.
A depender do produto, poderá haver variações quanto à maior ou menor solubilidade, por exemplo. Uma das fontes de aplicação no solo é na forma de silicato de cálcio e magnésio, em área total, apresentando como vantagens o fornecimento desses nutrientes, aumento do pH do solo e da saturação por bases (V%) e neutralização do alumínio tóxico.
Os silicatos de cálcio e magnésio, no entanto, apresentam solubilidade mais baixa e, com isso, necessitam ser aplicados com antecedência ao plantio, caso se deseje alcançar um efeito corretivo.
Manejo integrado
É importante ressaltar que, apesar dos benefícios comprovados do silício, o manejo de nematoides é algo complexo. Logo, a utilização do silício deve ser feita como uma prática adicional dentro da concepção de manejo integrado de nematoides, podendo ser alcançados benefícios tanto do ponto de vista de redução das perdas pelos nematoides quanto do favorecimento do crescimento das plantas.
O produtor deve levar em consideração as estratégias anteriormente discutidas visando o manejo integrado. Nesse contexto, outra abordagem que também tem crescido é o controle biológico de nematoides como ferramenta potencial.
Inovações no segmento de bioinsumos, como por exemplo o uso de bactérias do gênero Bacillus e Pasteuria, e de fungos do gênero Pochonia e Purpureocillium, têm sido adotadas em complemento a outras abordagens no manejo de nematoides.