MaurÃcio Cesar Iung
Engenheiro agrônomo e professor do Curso de Agronomia da PontifÃcia Universidade Católica do Paraná, campus Curitiba
O processo de colheita da batata consiste em três operações básicas: arranquio ou levantamento, quando os tubérculos são desenterrados e deixados sobre o solo; catação ou recolhimento, quando as batatas previamente arrancadas são acondicionadas em utensÃlios ou equipamentos para transporte (sacas, “big bags“, carretas, etc.), e transporte, quando o material é retirado da lavoura e encaminhado para processamento e/ou comercialização.
Estes processos podem ser didaticamente classificados como:
ðManual: quando todas as operações são realizadas manualmente.
ðSemi-mecanizado: quando parte das operações é feita manual e parte mecanizada. É o tipo mais comum, sendo a catação a parte da operação que é manual e as demais mecanizadas. Ainda é o tipo mais comum no Brasil
ðMecanizada: quando todas as operações são mecanizadas.
Mecanização
Nos últimos 20 anos a prática da mecanização na bataticultura vem sendo gradativamente utilizada pelos produtores.Embora a tecnologia exista há vários anos, e a colheita mecanizada fora do Brasil, sobretudo nos países desenvolvidos, seja a regra, aqui ainda há resistência dos produtores na sua utilização.
A resistência se dá pela exigência de altos valores de investimentos, em alguns casos até milhares de euros; incertezas do mercado, sobretudo com as oscilações constantes do preço do produto na lavoura; e até descrédito quanto à qualidade do produto colhido pela colheita totalmente mecanizada, quando a batata é para consumo in natura.
Vantagens da colheita mecanizada
Entre as vantagens da colheita mecanizada estão: rapidez na colheita; menor gasto com mão de obra; maior produtividade em virtude de redução de perdas na colheita e maior jornada de trabalho, otimizando máquinas e equipamentos.
Estima-se que o custo da colheita da batata em sistemas semi-mecanizados corresponda de 06 a 9,0% do custo total da lavoura. Este valor chega a cair pela metade quando se utiliza o sistema totalmente mecanizado, mesmo que o investimento em maquinário seja pelo menos seis vezes maior do que no semi-mecanizado.
Em tempos de enxugamento de custos, baixa de preços e estreitamento da margem de rentabilidade do produtor, qualquer ação que diminua custos trará segurança ao produtor.
Quanto à mão de obra, está cada vez mais escassa. O trabalho na colheita da cultura, fazendo catação dos tubérculos, se dá a pleno sol e com grande probabilidade de danos ergonômicos aos trabalhadores, afastando, sobretudo, os mais novos da atividade.
A legislação trabalhista, ao contribuir positivamente para as relações de trabalho, exigindo a contratação mesmo que temporária dos trabalhadores e lograr melhores condições de higiene e segurança do trabalho (Norma Regulamentadora nº 31 de 2011), contribui para aumentar o custo da atividade.
No entanto, nem tudo são vantagens. O alto valor inicial dos investimentos; a dificuldade do recebimento de batata a granel em algumas lavadoras; a exigência de cultivo em solos menos argilosos e com um preparo ainda mais apurado (ausência de torrões, pedras e/ou plantas daninhas); e a desconfiança do mercado ante a possibilidade de danos ocasionados nos tubérculos colhidos mecanicamente, depreciando o produto e, consequentemente, diminuindo o preço, contribui para desestimular o produtor a colher de forma totalmente mecanizada.
Sobre este último aspecto, há produtores que, mesmo já tendo o sistema para colheita mecanizada, quando a produção se destina ao consumo in natura utiliza o semi-mecanizado. A opção pelo mecanizado se dá somente para batatas que são destinadas à indústria.
Mecanização x qualidade
A qualidade do produto colhido é inerente à prática agrícola utilizada durante todo o ciclo e, principalmente, à maturação da epiderme do tubérculo, ou como o produtor diz, “firmar a pele da batata“ em área onde se promove a dessecação da parte aérea com operação antecedente à colheita.
É importante deixar um intervalo de pelo menos 12-15 dias para realizar a colheita. É nessa fase que os maiores problemas com a colheita mecanizada acontecem. Caso o produtor prefira colher um pouco mais cedo para aproveitar a oportunidade de preço, corre o risco de colher um tubérculo imaturo e que pode apresentar defeitos (esfolamento) quando chegar à lavadora.
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