Leandro Luiz Marcuzzo –Professor e pesquisador – Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sul – leandro.marcuzzo@ifc.edu.br
Gilmara Elisa dos Santos – Graduanda em Agronomia – IFC/Campus Rio do Sul
No Brasil, a cultura do alho (Allium sativum L.) ocupou, em 2018, uma área de 10.657 hectares, com uma produção de 118.837 toneladas e um rendimento médio de 14.257 kg/ha. A cultura tem destaque entre as hortaliças de maior expressão econômica do País e constitui atividade socioeconômica de grande relevância para os Estados da região sul e sudeste.
O Estado de Santa Catarina compreende a 4ª maior área de cultivo e na safra 2018 a produção atingiu 16.250 toneladas, numa área plantada de 1.771 hectares, com um rendimento médio de 9.176 kg/ha (IBGE, 2018).
Fitossanidade
A ferrugem do alho, causada por Puccinia porri (Sowerby) G. Winter (sin. Puccinia allii), é uma das principais doenças da cultura e comumente encontrada em todas as regiões produtoras, mas com mais intensidade no Sul e Sudeste do Brasil, onde a doença promove a destruição da parte aérea da cultura.
Os sintomas apresentam pústulas amarelas devido à produção de uredósporos. Sob condições favoráveis ao desenvolvimento da doença, as pústulas podem ocupar a lâmina foliar, fazendo com que a folha seque (Figura 1).
Em um estágio mais avançado da doença, a formação de uredósporos (esporos infectivos) é menor e a produção de teliósporos ocorre, o que confere às pústulas uma cor marrom escura ou preta.
Folhas com alto índice de severidade podem se tornar amareladas e morrer , causando depauperamento das plantas, com formação de bulbos de tamanho reduzido (Becker 2004; Massola Jr. 2011; Pavan et al. 2017).
Condições para a doença
Temperaturas entre 10 e 24ºC e períodos prolongados de molhamento foliar favorecem o desenvolvimento da doença, sendo que o ideal é de 16 a 21°C e acima de quatro horas de molhamento foliar.
Temperaturas abaixo de 10ºC e acima de 24ºC desfavorecem o desenvolvimento da doença, que tem maior intensidade quando o índice pluviométrico é menor (Massola Jr. et al., 2011; Napier, 2012; Pavan et al. 2017). O vento é o principal disseminador dos esporos, enquanto que a chuva contribui para fazer a deposição dos esporos suspensos no ar (Becker, 2004).
Experimentos
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Em relação à epidemiologia, foi realizado um trabalho no IFC/Campus Rio do Sul para avaliar a viabilidade de sobrevivência dos uredósporos ao longo do tempo. Uredósporos foram removidos das folhas de alho com auxílio de um pincel (n°8) em placas de Petri estéril e deixadas armazenadas com tampa aberta nas condições laboratoriais com presença luz natural.
Foi avaliado o percentual germinativo no dia da coleta e o período de sobrevivência ao 0, 1, 2, 3, 7, 15, 30, 45 e 60 dias da coleta. Em cada período uma suspensão de 100 µl de suspensão de uredósporos contendo a concentração de 1×105 uredósporos/mL foi espalhada com uma alça de Drigalski em placas de Petri contendo meio agar-água 1%.
Em seguida, as placas foram incubadas por 24 horas em câmaras de germinação do tipo D.B.O (Demanda Biológica de Oxigênio) a temperaturas de 17ºC e 12 horas luz. A germinação foi quantificada sob microscópio óptico com a objetiva de quatro vezes, visualizando-se 100 uredósporos aleatórios na placa. Foi considerado germinado o que tivesse o tubo germinativo maior que o tamanho do esporo.
Com base nos resultados obtidos, constatou-se que os uredósporos de P. porri perdem sua viabilidade ao longo do tempo (Figura 5). Observa-se que a maior percentagem de germinação ocorreu no segundo dia, com 35,6%, mas semelhante ao 7º dia, com 33,8% (Figura 5).
A germinação dos uredósporos de P. porri é bruscamente reduzida a partir dos 15 dias, que passou para 2,4% e depois aos 30 e 60 dias, com apenas 0,2% (Figura 5).
Em relação a germinação de uredósporos ao longo do tempo observou-se uma resposta polinomial de 2º (Figura 5), que através da equação y = 0,0089×2 – 1,0083x + 27,645 (R² = 0,7225) verificou-se que aos três primeiros dias o percentual permanece inalterado em torno de 96% do total germinado em relação ao coletado e reduz drasticamente para 85, 69, 37 e 5% aos 7, 15, 30 e 45 dias, respectivamente, após a coleta, zerando a germinação após os 45 dias.
Essa é uma informação importante no manejo da ferrugem do alho com fungicidas protetores, pois se a planta não ficar constantemente protegida, pode haver geminação dos esporos presentes na superfície foliar e pode iniciar o processo infeccioso e gerar uma nova epidemia de doença, havendo dessa maneira a necessidade de usar fungicidas sistêmicos ou translaminares para controlar a doença.
Carência
A maioria dos fungicidas protetores registrados para a ferrugem na cultura do alho possuem sete dias de carência, ou seja, mantém sua efetividade de proteção na superfície foliar durante esse período, evitando a infecção do patógeno.
Mas, se nesse período houver acúmulo de chuva igual ou superior a 20 mm (Becker, 1988), a eficiência do fungicida é comprometida, já que a chuva promove a retirada do fungicida na superfície foliar, havendo necessidade de realizar novamente a aplicação deste na cultura para manter a parte área do alho protegida.