O mais recente relatório de análise geoespacial do Cerrado mostra que a soja quase triplicou sua área cultivada no bioma desde 2000, passando de 7,4 milhões de ha em 2000/01 para 21,4 milhões de ha em 2021/22. Essa área representa 11% do Cerrado e 52% da atual área de soja do Brasil.
O levantamento, desenvolvido pela Agrosatélite em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), revela que a taxa média de crescimento da sojicultura nesses 21 anos foi de 667 mil ha/ano, sendo que nas últimas duas safras (2020/21 e 2021/22) dobrou, passando para 1.320 mil ha/ano.
Apesar do aumento significativo do desmatamento no Cerrado entre 2021 (853 mil ha) e 2022 (1,07 milhão de ha), que corresponde a um incremento de 26%, é importante ressaltar que as taxas de desmatamento nos primeiros cinco anos do monitoramento do PRODES Cerrado (2001 a 2005) apresentaram uma média de 2,6 milhões de ha anuais. Porém, sofreram uma queda significativa nos últimos cinco anos (2018 a 2022), com média anual de 810 mil ha, ou seja, três vezes menor.
Além desta diminuição nos anos mais recentes, observa-se uma diferença marcante entre as regiões do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e Outros Estados (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo e Paraná). Quanto à participação da soja na conversão de vegetação nativa do Cerrado, do desmatamento de 2021 (853 mil ha), foram convertidos para a sojicultura 52 mil ha (6,2% do total), dos quais 9 mil ha nos Outros Estados e 43 mil ha no MATOPIBA. Ou seja, 94% da vegetação convertida no Cerrado em 2021 não foi para a cultura da soja.
O gerente de Sustentabilidade da ABIOVE, Bernardo Pires, comenta sobre esta tendência. “O levantamento mostra claramente esta distinção entre as duas regiões produtoras de soja no bioma. A região dos Outros Estados, considerada mais consolidada, possui amplos estoques de terras abertas com aptidão agrícola, de tal forma que a pressão sobre a vegetação nativa em propriedades produtoras é menor. Já no MATOPIBA os estoques de terras abertas há mais tempo são restritos quando comparados aos de terras aptas com vegetação nativa, fazendo com que parte significativa da expansão com desmatamento ocorra nesta região”, finaliza Pires.
De fato, uma análise detalhada da dinâmica de mudança de uso e cobertura da terra associada à expansão de 5,9 milhões de ha de soja no período de 2013/14 a 2021/22 mostrou que ela se dá prioritariamente pela intensificação do uso da terra por meio da conversão de pastagens. Nos Outros Estados, 190 mil ha expandiu com desmatamento e no MATOPIBA foram 700 mil ha de expansão com desmatamento.