Igor Botega Junqueira – igorbotega@gmail.com
Anna Carolina Abreu Francisco e Silva – annacabreufs@gmail.com
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Letícia Silva Pereira Basílio – Doutoranda em Agronomia/Horticultura – UNESP – leticia.ufla@hotmail.com
Durante muito tempo, quando se pensava em produção agrícola o retorno econômico desta atividade era visto como prioridade, principalmente quando se tratava do meio ambiente. Entretanto, este pensamento está cada vez mais sendo modificado, uma vez que o mercado vem exigindo produtos com origem de sustentabilidade.
Sendo assim, estão surgindo exemplos de sustentabilidade atreladas a um ótimo retorno financeiro, já que antigamente investir em sustentabilidade era uma prática vista como um desperdício de tempo e dinheiro frente à agricultura convencional, priorizando os investimentos neste método de cultivo.
Os investimentos em sustentabilidade vêm crescendo cada vez mais quando se referem à produção de alimentos, fibra e energia. De acordo com os novos conceitos e exigências, muitas vezes a parte quantitativa da produção está deixando de ser a variável mais importante, sendo a qualidade final do produto um atributo que vem crescendo muito.
Com isso, a grandeza de uma propriedade não será apreciada pelo número de máquinas ou pelo tamanho das mesmas, mas sim pela forma como é realizada a produção daquela soja, milho, café ou algodão, por exemplo.
A importância da sustentabilidade vem sendo difundida e adotada por parte dos produtores, principalmente pela exigência do mercado consumidor, que cada vez mais está atento ao que está consumindo, desejando saber a origem, a procedência e também como o produto que está consumindo foi produzido.
Adaptação
Como forma de adaptar-se às novas exigências, os produtores podem implantar métodos de manejo que não são tão complexos quanto parecem. Dentre os exemplos das práticas podemos citar: redução do uso de adubos químicos; uso de técnicas para evitar a poluição do solo, água e ar; uso de sistemas de captação das águas das chuvas para futuro uso na irrigação; uso de biológicos; respeitar as leis trabalhistas dos trabalhadores do campo; usar fontes de energia limpa, como etanol, biodiesel, biogás e biomassa; evitar, se possível, desmatar áreas verdes para a progressão da área agrícola, controle de queimadas e investir em ações de reflorestamento.
Com a adoção de práticas sustentáveis, os produtores são capazes de manter a proteção natural proveniente da biodiversidade da própria área, evitando assim o constante ataque de pragas e doenças, fazendo com que o produtor reduza o uso de defensivos químicos, o que, consequentemente, dará um bom retorno de produção e também financeiro no final do ciclo de produção, além de melhorar e conservar os recursos naturais provenientes da área.
Todo esse processo gera um mínimo impacto ambiental, e além disso, praticar a sustentabilidade rende ao produtor um lucro maior.
Colocando em prática
Para tornar uma propriedade mais verde e com a presença de uma maior diversidade, há exemplos de sucessos já consolidados e que podem ser adotados, como os SAFs (Sistema Agro Florestal) que mesclam a utilização de culturas agrícolas juntamente com espécies florestais e o sistema ILPF (integração lavoura pecuária e floresta), que proporciona que se tenha na propriedade uma máxima produção de alimentos, fibras e energia de forma conjunta, além de proporcionar diversas vantagens, como a recuperação de áreas de pastagem degradada, melhor infiltração e retenção de água no solo, produção de forragem nas entressafras, ciclagem de nutrientes, conforto térmico e bem estar animal, diversificação da produção e aumento da renda da propriedade.
O ILPF vem sendo bastante difundido e está em constante crescimento, principalmente por trabalhos recentes realizados pela Embrapa, que verificou a eficiência do sistema tanto na parte econômica quanto ambiental.
Por fim, temos as produções orgânicas, que têm gerado bastante lucro e rentabilidade aos produtores de café, quando realizadas de forma correta e eficiente. Todas essas técnicas agregam valor ao produto final, que muitas vezes é vendido por preços acima do mercado convencional.
Além disso, as propriedades que obtêm os selos de qualidades e origem de seus produtos apresentam um grande diferencial quando se trata da valorização de sua produção. Os selos de qualidade são certificações que atestam a qualidade, a sustentabilidade da produção, a procedência do produto e que a propriedade atende a legislação vigente, a segurança alimentar, entre outros, atendendo a padrões tanto nacionais quanto internacionais.
Selo de qualidade
Uma propriedade que apresenta estes selos de qualidade beneficia não apenas os produtores, mas também o consumidor final para o qual será destinada a produção.
Uma gama de selos de qualidade pode ser obtida por uma propriedade, sendo alguns obrigatórios por leis nacionais e internacionais e alguns são opcionais, porém, podem agregar ao empreendimento inúmeros benefícios.
Entre os benefícios, o principal é que a propriedade que está enquadrada na legislação e de acordo com as exigências dos órgãos regulamentadores, tem melhor gestão interna, incentivando a profissionalização do negócio.
Porteira adentro
Como exemplo de sucesso, pode-se citar a fazenda Santa Cruz, localizada na cidade de Paraguaçu, no Estado de Minas Gerais, onde ocorre o cultivo de café desde 1998. Visando a melhoria constante da qualidade do produto oferecido, de forma a atender as normas do mercado nacional e internacional, deu início ao processo de certificação da propriedade, contando atualmente com os selos UTZ Certified Good inside, Rainforest Alliance Certified, Certifica Minas Café e BSCA Cafés Especiais do Brasil, que fornecem ao produto a oportunidade de ser reconhecido em âmbito mundial e aos consumidores a garantia de optarem por um sistema de certificação que visa a sustentabilidade.
O sistema adotado na fazenda tem como objetivo buscar a responsabilidade social e ambiental durante todo o processo produtivo, mantendo o crescimento econômico de maneira equilibrada e sustentável.
Além disso, busca promover um ambiente seguro para todos os colaboradores, identificando interesses da comunidade interna e externa no que diz respeito à saúde, segurança e recursos naturais, além de utilizar produtos e serviços que não prejudiquem a fauna e a flora existente, proporcionando a conectividade dos ecossistemas, a conservação dos recursos hídricos, protegendo a vida silvestre, a conservação e recuperação dos ecossistemas naturais e promovendo programas de capacitação e educação.
Unindo forças
Realizar uma mudança nem sempre foi tão confortável, entretanto, como podemos ver em exemplos, a sustentabilidade junto à agricultura vem tomando força para se tornar uma grande aliada do produtor. Pode ser que demore um pouco até todos adotarem o sistema, mas uma coisa é certa, cada vez mais teremos consumidores exigindo a sustentabilidade junto ao produto final, o que exigirá e acarretará mudanças futuras.