Maria Aparecida do C. Mouco
Engenheira agrônoma, mestre e pesquisadora da Embrapa Semiárido
João Antônio Silva de Albuquerque
Engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Semiárido
A possibilidade de produção durante o ano todo é o que desperta o maior interesse na exploração da mangueira, nas condições do semiárido brasileiro, e a informação de que todo fator que reduz o vigor vegetativo, sem alterar a atividade metabólica, favorece a floração, é o que vem orientando os trabalhos para produção de manga, visando atender todos os mercados disponíveis.
O frio e o estresse hídrico são condições naturais que induzem a paralisação do crescimento vegetativo da mangueira, nas condições de clima subtropical e tropical, respectivamente. A ocorrência de temperaturas baixas, nas condições subtropicais, define o período de floração e produção da mangueira.
Passo a passo
O primeiro passo no processo de indução floral da mangueira, nas condições tropicais semiáridas, visa cessar o crescimento vegetativo. Nesta região, pode-se preparar a planta para florir por meio do manejo da irrigação.
O método consiste na redução gradual da quantidade de água, visando uma maturação mais rápida e uniforme dos ramos. Quando bem conduzido, e dependendo do estado nutricional da planta, deve permitir o efeito desejado em 30 a 70 dias. O grande inconveniente deste método é que restringe a produção a um determinado período do ano.
Os trabalhos testando o paclobutrazol (PBZ), como regulador do crescimento vegetativo da mangueira, foram iniciados com o objetivo de desenvolver um manejo da floração da cultura que permitisse a produção de manga em qualquer época do ano.
O PBZ regula o crescimento vegetativo da mangueira por meio da inibição da síntese das giberelinas. A forma de aplicação mais eficiente é feita pela diluição do produto em um ou dois litros de água, que depois é despejado junto ao colo ou na projeção da copa.
É importante que esta área seja irrigada normalmente depois da aplicação, pois é a água que leva o produto até as raízes, para ser absorvido pelas plantas. O PBZ deve ser aplicado à planta depois da emissão de pelo menos dois fluxos vegetativos, após a poda pós-colheita.
Quanto aplicar?
Uma das decisões mais difÃceis no trabalho com PBZ é a determinação da dosagem a aplicar. Em trabalhos experimentais são mencionadas doses, sem especificar tamanho e condições de vigor das plantas, tipos de solo e irrigação, e determinam, de modo geral, um grama por metro linear de diâmetro de copa.
Entretanto, o que se verifica é que esta recomendação, embora se ajuste para plantas entre 3 e 5 m de diâmetro, fica excessiva para plantas de diâmetro inferior, e insuficiente para plantas maiores.
A dosagem de PBZ é dependente de alguns fatores: o vigor, que é o resultado de um conjunto de características que pode tornar a planta mais ou menos vegetativa, é favorecida pelo teor de nitrogênio foliar, aspecto da planta e presença de umidade no solo.
O fator variedade está relacionado com a capacidade da planta de vegetar mais intensamente, como a Haden e a Kent, que requerem uma dosagem de PBZ maior que a Tommy atkins, considerada padrão.
Por último, o fator resíduo, que pode persistir na planta oriunda de aplicações anteriores. É comum, depois da poda pós-colheita, utilizar o aspecto dos fluxos vegetativos para serem comparados com fluxos de plantas testemunhas, que não tiveram aplicação de PBZ.
Assim, para o segundo ano de aplicação, dependendo do tipo de brotação vegetativa depois da poda pós-colheita (se normal ou compactada), pode-se usar 70 ou 50% da dosagem de PBZ, utilizado na safra anterior.
Recomendações
Em casos onde a dosagem de PBZ utilizada foi elevada, tendo provocado emissões de panÃculas e vegetação muito compactadas, deve-se ter bastante cuidado no ciclo seguinte da planta, recomendando-se:
Ø Evitar poda drástica da planta na pós-colheita, devendo-se quebrar apenas o ráquis floral.
Ø Adubação com nitrogênio (pós-colheita).
Ø Pulverização, via foliar, com nitrato de potássio + sulfato de zinco.
Ø Aguardar a emissão da brotação vegetativa que, se for muito compacta, deve-se esperar a emissão do segundo fluxo, para reinício do ciclo produtivo.
O sulfato de potássio também pode ser usado para conter a emissão de ramos vegetativos, devendo ser utilizado em duas ou três aplicações, em concentrações de 2,0 a 2,5%.
Com relação à utilização do ethephon no manejo da floração, o objetivo é a liberação de etileno nas plantas, o mesmo que vai participar no processo de maturação das gemas e promover a floração. É um produto que não apresenta bom resultado isolado, mas que tem eficiência quando combinado com o estresse hídrico e/ou PBZ. Deve ser aplicado por meio de pulverizações, em dosagens entre 200 a 300 ppm.