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quinta-feira, maio 2, 2024
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Tecnologia para proteção contra fitopatógenos

Marcos Roberto Ribeiro Junior

Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP

marcos.ribeiro@unesp.br

Daniele Maria do Nascimento

Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP

donascimentodm@gmail.com

Adriana Zanin Kronka

Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e docente – UNESP

adriana.kronka@unesp.br

Segundo a Associação Brasileira da Batata, nesses últimos anos a ocorrência de doenças como a canela preta, requeima, pinta preta, sarna comum, fusariose e rizoctoniose tem se destacado nas regiões produtoras, e muitas delas são causadas por patógenos habitantes do solo, inviabilizando totalmente a área de cultivo.

Uma das doenças que se destacam nessa cultura é a murcha bacteriana (Ralstonia solanacearum), ocorrendo nas principais regiões produtoras. Essa bactéria tem potencial para dizimar todo o cultivo.

Ademais, pode condenar a certificação, dada a ocorrência de uma única planta doente em campos de produção de batata-semente. As plantas infectadas apresentam sintomas em qualquer estádio de desenvolvimento, sobretudo nos vasos lenhosos e nos tubérculos, que exsudam pus bacteriano ao serem cortados e pressionados.

Tubérculos doentes, quando colhidos e armazenados, apodrecem rapidamente. A campo, a doença pode ser facilmente diagnosticada: pedaços da haste são suspensos em um copo com água por até quatro minutos. Se ocorrer a saída de um “filete”, que representa a exsudação bacteriana, da haste para a água, já indica a presença da bactéria.

Não se engane

Engana-se que pensa que condições desfavoráveis ao patógeno impedem o desenvolvimento desta doença. Na verdade, a bactéria pode estar infectando a planta mesmo que esta não apresenta sintomas, e seu desenvolvimento é visivelmente comprometido.

A isso chamamos de “infecção latente”. Para entendermos o que leva os tubérculos acometidos pela bactéria a expressarem ou não sintomas, é necessário antes esclarecer que R. solanacearum é classificada em raças (de acordo com o hospedeiro) e biovares (testes laboratoriais), das quais a raça 1 (biovares 1, 3 e 4) e raça 3 (biovar 2) atacam a batateira.

Esta última predomina em regiões de clima temperado (condições desfavoráveis à bactéria) e produz as infecções latentes. A raça 1, por sua vez, ocorre em regiões de clima quente e possui maior capacidade de se manter no solo. Muitas vezes, a presença desse patógeno na área inviabiliza todo o cultivo e o produtor precisa deslocar a cultura para uma nova área.

A podridão mole, causada por espécies de Pectobacterium spp. e Dickeya spp., tem seus sintomas mais acentuados durante o armazenamento, quando a infecção é facilitada por ferimentos decorrentes da colheita e transporte. Os tubérculos apresentam áreas encharcadas de coloração creme, em virtude da destruição da lamela média – uma membrana que une as células vegetais entre si – por enzimas produzidas pelas bactérias.

Com isso, todo o tecido vegetal se desintegra, ocorrendo a exsudação bacteriana. Tubérculos sadios em contato com os infectados rapidamente são afetados e deterioram. Quando essas bactérias atacam a planta em estádio vegetativo, a doença recebe o nome de “canela preta” ou “talo oco”, porque os ramos apresentam um escurecimento no colo. O tecido vascular também se descolore e, nas horas mais quentes do dia, as plantas podem murchar.

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Espalhada pelo mundo

A actinobactéria Streptomyces scabies, agente causal da sarna comum, está amplamente disseminada em áreas produtoras do mundo todo, afetando principalmente a aparência externa dos tubérculos, embora estes possam ser consumidos normalmente.

Os tubérculos afetados apresentam lesões elevadas (sarna superficial) ou deprimidas (sarna profunda) que, com o tempo, se intensificam e adquirem a superfície áspera e suberificada.

Doenças fúngicas

A sarna prateada, causada por Helminthosporium solani, é uma doença que atinge somente os tubérculos, provocando manchas que adquirem um brilho prateado, fazendo com que essas batatas sejam rejeitadas pelos consumidores.

Espécies do gênero Fusarium causam a podridão seca e murcha de Fusarium (quando ocorre no campo). A podridão dos tubérculos é do tipo seca e deprimida, podendo, em condições de alta umidade, apresentar micélios fúngicos com aspecto cotonoso.

O mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) é um problema maior quando ocorrem plantios sucessivos de soja, feijão e batata na mesma área, tornando o solo altamente infestado, e condições favoráveis ao patógeno, com temperatura em torno de 16 a 22ºC, e entre 95-100% de umidade.

As lesões são cobertas por micélios esbranquiçados e escleródios. Outro patógeno que também não é comum, mas cuja incidência pode agravar-se após o plantio de outras plantas hospedeiras, nesse caso, o alho ou a cebola, é o Sclerotium rolfsii.

Na planta, esse fungo causa a podridão de colo e raízes, podendo produzir micélios e numerosos escleródios, enquanto que nos tubérculos o patógeno irá se desenvolver de forma radial sobre sua superfície, apresentando um micélio branco que, com o tempo, vai adquirindo uma coloração mais escura.

A ocorrência de Rhizoctonia solani (rizoctoniose) também está relacionada ao uso intensivo do solo, onde a rotação de culturas não é empregada. Diversos são os sintomas decorrentes do ataque desse fungo, como cancros, cloroses, enrolamento foliar, entre outros.

Cylindrocladium clavatum (olho pardo) tem ocorrido somente em algumas regiões, onde foram registradas perdas de até 2%. É uma doença que afeta apenas os tubérculos e, apesar da infecção ocorrer ainda no campo, os sintomas são notados somente na pós-colheita. Caracteriza-se pelos tubérculos com lesões escuras, irregulares e levemente depressivas.

A pinta preta, ou mancha de alternaria (Alternaria spp.) é mais frequente no verão, em razão das altas temperatura e umidade. Como o próprio nome insinua, surgem pequenas manchas escuras nas folhas e o tecido entre essas lesões e ao redor delas torna-se clorótico. Os danos foliares podem reduzir significativamente a produtividade da cultura.

Outros patógenos

Embora ainda sejam chamados genericamente de fungos, em termos de classificação estes patógenos não pertencem mais ao reino Fungi. É o caso de Spongospora subterranea f.sp. subterranea (reino Protozoa), Pythium spp. e Phytophtora infestans, ambos oomicetos, pertencentes ao reino Chromista.

Uma das principais doenças na batata no mundo todo e responsável pelo uso de enormes quantidades de defensivos na cultura é a requeima, causada por P. infestans, com potencial de destruir toda a lavoura, caso ocorram condições favoráveis (temperaturas amenas e alta umidade), o patógeno ataca as folhas, hastes e tubérculos.

Espécies de Pythium spp. estão associadas à doença denominada de podridão aquosa. Isso porque os tubérculos apodrecem totalmente e, ao serem apertados, escorre um líquido que facilita a identificação da doença.

Por fim, a sarna pulverulenta (S. subterranea f. sp. subterranea) é favorecida por climas frios e úmidos, verificando-se lesões elevadas, semelhantes a pequenas erupções na casca que, gradualmente, se deprimem.

Manejo de doenças na batata

Muitas doenças são agravadas pelo plantio sucessivo de culturas hospedeiras aos eventuais patógenos. Logo, a rotação de culturas é uma medida recomendada por, no mínimo, três anos, atentando-se para o histórico de ocorrência de doenças da área.

Uma vez que o patógeno se instala na lavoura, o manejo torna-se mais complicado e, por isso, o produtor deve ter sempre em mente que o manejo preventivo pode evitar custos e dores de cabeça no futuro.

O manejo preventivo visa impedir ou retardar o aparecimento de doenças, começando pelo uso de batata-semente certificada e tratada, e em áreas livres de quaisquer fitopatógenos que possam ocorrer no solo. Isso também vale para as plantas daninhas – é essencial manter a lavoura limpa, pois elas podem ser hospedeiras de vários patógenos.

Na irrigação, certificar-se que a água esteja livre de fitopatógenos, como as bactérias, que são facilmente disseminadas por esse meio. Ao captar água de áreas que recebam enxurrada de outras áreas com plantios infectados, é provável que essa lavoura se contamine também.

Sempre realizar a desinfestação de equipamentos (tratores e implementos), principalmente se estes transitarem por culturas afetadas. Durante os tratos culturais, colheita, transporte e estocagem dos tubérculos, evitar ao máximo danos mecânicos, uma vez que estes favorecem a infecção por patógenos.

Atualmente, temos disponíveis no mercado algumas variedades de batata com resistência a doenças. A variedade Asterix apresenta resistência à sarna comum, Phytophtora e Alternaria. BRS Camila, desenvolvida pelo programa de melhoramento genético da Embrapa, é moderadamente suscetível à requeima e à pinta preta e tem despertado o interesse dos produtores nesses últimos anos.

Para o controle químico, seja no tratamento da batata-semente ou em aplicações foliares durante o ciclo, deve-se sempre consultar os produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a cultura.

Novas tecnologias

As plantas desenvolvem uma série de mecanismos de defesa para combater as pragas e doenças, que se tornam ativos após entrarem em contato com determinado patógeno, ou pelo tratamento com certos produtos químicos, naturais ou sintéticos, chamados de elicitores. A exposição de raízes ou tecidos foliares a elicitores leva à produção e ao acúmulo de proteínas específicas (proteínas PR), que irão lutar contra estes invasores.

A isso chamamos de resistência sistêmica adquirida (RSA), e uma das proteínas envolvidas nesse processo são as quitinases, enzimas hidrolíticas que degradam a quitina, um polissacarídeo que compõe a parede celular dos fungos. Além do mais, ocorre uma maior lignificação da parede celular da planta, dificultando a entrada desses patógenos.

Certos produtos químicos, como o ácido salicílico (AS), podem ativar todo esse mecanismo de defesa, que sabemos ser efetivo contra diversos fitopatógenos, mas principalmente os fungos.

Muitas pesquisas já mostraram que aplicações de AS reduzem a incidência de doenças e, mais recentemente, comprovou-se que, em batateiras infectadas por A. solani, o AS ameniza o desenvolvimento de sintomas em tubérculos e folhas.

O tratamento de sementes e a aplicação foliar desse hormônio em sementes e plantas infectadas por R. solani resultaram em maior emergência de plântulas, menor severidade da doença e tubérculos de maior peso em comparação às plantas que não receberam esse tratamento.

Em estudos realizados em laboratório, plantas cultivadas em meio suplementado com AS e inoculadas com Dickeya solani não apresentaram quaisquer sintomas após 14 dias. Por outro lado, 100% das plantas infectadas que cresceram na ausência de AS expressaram sintomas graves.

Todas essas descobertas evidenciam o potencial do AS como uma ferramenta alternativa no manejo de doenças na batateira e, diante da imensa quantidade de doenças que podem acometer essa cultura, esse é mais um aliado em potencial.

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