O novo conceito de produção agrupa todas as vantagens da produção intensiva de peixes com a hidroponia, em que as plantas não têm contato com o solo e são cultivadas em água e/ou substrato, dentro de estufas
A Secretaria da Agricultura e Abastecimento, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), apresentou um sistema de produção com integração de lambari e hortaliças. O sistema se chama aquaponia e está sendo introduzido pela APTA no Estado de São Paulo.
Com a tecnologia, é possível reduzir em até 95% a quantidade de água necessária para a produção de peixes e em 80% o uso de agrotóxicos aplicados nas hortaliças. O lambari agrega mais uma vantagem ao sistema: precisa de metade do tempo que a tilápia, por exemplo, para ter tamanho comercial.
Na unidade de pesquisa da APTA, em Ribeirão Preto (SP), foram instalados 28 sistemas aquapônicos experimentais. Cada sistema consiste em um canteiro para hortaliças com dois metros quadrados, acoplado ao tanque de lambaris com recirculação da água e filtragem independente.
Em teste
Recentemente foram expostas 12 dessas unidades experimentais. Segundo o pesquisador da APTA, Fernando André Salles, nessas instalações foram realizadas pesquisas sobre economia da água. “Pretendemos quantificar a necessidade de água para a produção de peixes e hortaliças em diferentes sistemas aquapônicos, sob as condições climáticas do Estado de São Paulo“, afirma o pesquisador da APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O projeto de aquaponia da APTA consiste em utilizar os resíduos do sistema de produção do lambari para o cultivo hidropônico. Com isso, é possível cultivar peixes e plantas, consumindo até 95% menos água. “Na aquaponia, não há necessidade de renovação de água, pois as plantas capturam o excesso de nutrientes. A perda de água dentro de um sistema aquapônico em condições normais se dá unicamente por evaporação e transpiração das plantas. A intensidade da perda varia conforme o microclima onde o cultivo está instalado“, afirmou Salles.
A ideia dos pesquisadores é introduzir o sistema em São Paulo, por ser um Estado bastante populoso e possuir demanda crescente por alimentos e água. A tecnologia é utilizada em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália. “A agricultura é uma atividade extremamente dependente de água para conseguir adequada produtividade de alimentos, o que acaba competindo com recursos hídricos para a população urbana. Qualquer técnica que consiga reduzir a quantidade de água na produção de alimentos é extremamente bem-vinda“, afirmou Salles.
O uso de lambari para o sistema também é interessante, já que 70% da produção nacional deste peixe abastecem o mercado paulista. O lambari é usado, principalmente, como isca viva na pesca esportiva.
Realidade
O novo conceito de produção agrupa todas as vantagens da produção intensiva de lambari com a hidroponia, em que as plantas não têm contato com o solo e são cultivadas em água e/ou substrato, dentro de estufas.
Neste ambiente, há diminuição na ocorrência de pragas e doenças e proteção contra intempéries climáticas e ataques de aves. Os resultados são plantas com melhor qualidade e redução de até 80% no uso de agrotóxicos. Em alguns casos, o controle químico é totalmente dispensado.
A principal diferença entre o uso de lambari e de outros peixes é o tempo necessário para atingir tamanho comercial. O lambari precisa de três a quatro meses, enquanto espécies como a tilápia precisam de oito meses. “O resultado, em termos de produção, é a possibilidade de ter maior número de ciclos ao longo do ano“, afirma o pesquisador da APTA, Fábio Sussel.
Soma-se a isso a redução do tempo de cultivo das hortaliças, facilitação da mão de obra e reaproveitamento dos nutrientes presentes na solução aquosa. Para se ter ideia, o custo do fertilizante para produzir mil plantas está estimado entre R$ 30,00 e R$ 40,00. O custo total de produção por planta na hidroponia varia de R$ 0,20 a R$ 0,40. Para o consumidor, a vantagem está no maior tempo de conservação das folhosas e facilidade na higienização, pois não há contato com o solo.
De acordo com Sussel, os pesquisadores da APTA estão, a princÃpio, propondo a produção aquapônica em módulo familiar, em compartimentos de 1 m3, onde são usados 600 litros de água e é possível produzir 400 lambaris e três ciclos de hortaliças, em três meses.
Esse modelo representaria uma opção prática, moderna e sustentável de produzir alimentos de qualidade, no próprio quintal. “No entanto, em sistemas comerciais de aquaponia o lambari é mais rentável quando comparado com outras espécies, por ter valor agregado por unidade, já que é comercializado como isca viva para a pesca esportiva, não havendo perdas e nem custos, com abate e processamento“, explica.
Entenda como funciona o sistema
No sistema aquapônico é possível produzir qualquer hortaliça de fruta ou folhas, além de outras espécies de plantas de valor econômico, como plantas aromáticas e medicinais. “Não há restrição quanto às espécies de peixes, desde que sejam adaptadas a condições de confinamento, como as trutas e as tilápias“, diz Salles.
O pesquisador explica que a proteína presente na ração é metabolizada para formação do tecido muscular do peixe, porém, parte é excretada diretamente pelas brânquias dos animais na forma de amônia ou é perdida por meio das fezes. A amônia, mesmo em baixas concentrações, é tóxica para o peixe.
“No sistema de produção aquapônica, a amônia presente na água passa por um filtro biológico, onde ocorre a nitrificação, transformando-a em nitritos e em nitratos, sendo este último de baixa toxicidade para os peixes e prontamente absorvido pelas plantas na produção hidropônica“, explica.
Além dos nitratos, a mineralização dos dejetos dos peixes fornece às plantas boa parte dos elementos necessários ao crescimento, como o fósforo, cálcio e ferro, entre outros. Com isso, não há a necessidade do uso intensivo de fertilizantes químicos.
A tecnologia poderá ser utilizada por pequenos, médios e grandes produtores. Os pesquisadores da APTA trabalham em conjunto com técnicos de extensão da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) para fomentar e divulgar os resultados das pesquisas, que devem começar a ser disponibilizados em dois anos.