Catherine Amorim
Engenheira agrônoma e doutoranda em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP
catherine.amorim@usp.br
Ana Paula Preczenhak
Doutora, pós-doutoranda em Fisiologia e Bioquímica de Plantas na ESALQ/USP e professora – Faculdade de Ensino Santa Bárbara (FAESB)
appreczenhak@usp.br
Lucimara Rogéria Antoniolli
Doutora em Engenharia Agrícola e pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho
lucimara.antoniolli@embrapa.br
Fernando José Hawerroth
Doutor em Agronomia e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho
fernando.hawerroth@embrapa.br
A região sul é responsável, atualmente, por cerca de 83% da produção nacional de maçãs, tendo alcançado cerca de 332.756 toneladas no ano de 2021 (Conab, Prohort). A concentração da produção dessa fruta na região sul, em sua maioria em municípios de elevada altitude, está relacionada às condições climáticas exigidas pela cultura, ou seja, mais de 600 horas de frio (abaixo de 7,2 °C), a depender da cultivar, durante o período de repouso hibernal.
Apesar das características climáticas favoráveis, tais como amplitude térmica diária e elevadas altitudes que proporcionam baixas temperaturas durante o inverno, frequentemente os pomares de maçãs localizados na região sul são atingidos por precipitações de granizo, que acarretam perda da qualidade dos frutos, problemas fitossanitários e até perda da produção, caso a precipitação ocorra durante a floração.
É importante ressaltar que a maior incidência de granizo ocorre entre os meses de setembro a novembro, justamente a época da florada da cultura. Em função de tais adversidades, a utilização de telas antigranizo tem sido a principal estratégia utilizada pelos produtores para minimizar os riscos de danos.
Telas como barreiras
O sistema de telas antigranizo forma uma barreira física contra os danos causados pelo granizo, sendo composto por malhas de filamentos de polietileno de alta resistência com proteção ultravioleta (UVs) sobre uma estrutura de postes.
A malha funciona como um filtro, que transforma a luz que incide diretamente em luz difusa, que é distribuída mais uniformemente e acaba, por sua vez, interferindo diretamente sobre a qualidade dos frutos.
As telas, além da barreira contra o granizo, fornecem proteção contra a incidência de ventos, danos causados por animais (pássaros, morcegos, insetos) e também contra a radiação solar excessiva, que causa queimaduras solares nos frutos.
As telas também servem para minimizar o surgimento de outros distúrbios nos frutos, como rachaduras na casca e “bitter pit”. Foi observado em maçãs ‘Gala’ e ‘Fuji’ cultivadas na região sul do País sob tela antigranizo branca, uma redução de 4,8 % e 1,7 %, respectivamente, na incidência de “bitter pit” durante o armazenamento refrigerado a 0°C.
As telas são fabricadas, principalmente, de polietileno de alta densidade (PEAD) e apresentam durabilidade estimada de 15 a 20 anos. Comumente, para a finalidade de proteção contra o granizo, são utilizadas na coloração preta e branca, entretanto, outras colorações têm surgido como opção nos últimos anos.
Com o tempo, existe a tendência de perda da coloração da malha, a exemplo das malhas vermelhas que tendem a se tornar alaranjadas, enquanto malhas pretas e brancas tendem a se tornarem acinzentadas. Essas mudanças de coloração influenciam no teor de sombreamento da tela, tornando necessária a substituição com o fim da sua vida útil.
Fotosseletividade
A fotosseletividade das telas é obtida por meio da coloração da malha, adição de elementos dispersivos, absortivos e reflexivos da luz que a atravessa. Ou seja, cada tipo de tela altera a qualidade da luz que incide no pomar de uma forma específica.
Telas antigranizo coloridas se tornaram disponíveis no mercado em 2007, apontando efeitos fisiológicos positivos para as plantas. As malhas de telas fotosseletivas são fabricadas em dois grupos, telas coloridas (vermelho, amarelo, verde e azul) e telas coloridas neutras (pérola, branco e cinza), podendo absorver espectros de luz mais curtos ou mais longos.
Sabe-se que o genótipo e a época do ano são fatores importantes para garantir os benefícios de cada uma das cores. As cores de rede preta e branca são as mais utilizadas atualmente. A tela de proteção de coloração preta é a mais comum e não apresenta nenhum espectro de cor selecionado, sendo todo ele reduzido e, assim, a difusão de luz também é diminuída.
Por isso, é a mais eficiente na redução da densidade de fluxo de prótons fotossinteticamente ativos. A maior difusão de luz é observada nas malhas de coloração vermelha, pérola, azul e amarela.
Tudo a ver com a cor
A tela mista (preta e branca) permite maior transmissão da radiação difusa quando comparada às telas coloridas, provavelmente devido às mudanças na composição física (aditivos) que influenciam na sua transmissividade espectral.
As malhas desta cor podem reduzir até 50% a radiação solar. A malha pérola incrementa a disponibilidade de luz no interior do pomar, especialmente a luz difusa, diminuindo a temperatura e melhorando a coloração das maçãs (Umanzor et al., 2017).
Telas vermelhas e verdes transmitem cerca de 3 a 6% mais luz vermelha ou verde, respectivamente, influenciando parâmetros como a síntese de antocianinas e assimilação de CO2.
Telas azuis podem aumentar os teores de carotenoides. Estes pigmentos são importantes na dissipação do conteúdo de radiação solar excessivo recebido pelos tecidos, de forma a ajudarem na manutenção da estabilidade e rentabilidade do aparato fotossintético.