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Dentre as 20 maiores empresas do agro, 1/3 são controladas por estrangeiros, ou aproximadamente um milhão de hectares
Terras agricultáveis viraram ouro no mercado global do agronegócio. Seus preços subiram mais do que qualquer ativo nos últimos 10 anos. Entre 2009 e 2014, a evolução média do preço das terras no Brasil foi de 94%, e muito mais no Centro-Oeste, com 131% nesse período.
A recente “corrida mundial por terras” transformou a América Latina, em geral, e o Brasil, em particular, em alvos preferenciais para negócios, com aumento considerável de investimentos estrangeiros no setor agropecuário, inclusive na compra de terras, com a participação de empresas do setor financeiro.
De acordo com pesquisas de campo, a maioria dos investimentos recentes está relacionada à produção de grãos (principalmente soja) e de cana-de-açúcar (produção de açúcar e etanol), mas também à mineração, resultando em aumento dos preços da terra, entre outras consequências em algumas regiões do Brasil. Essa “corrida por terra” levou o governo federal a restabelecer um mecanismo legal para “controlar” esses investimentos estrangeiros em terra.
Do mundo para o Brasil
Grandes empresas japonesas já têm no Brasil cerca de 1% do total das áreas agricultáveis do país. O Japão estuda ainda investimentos logÃsticos no país. Argentinos formam outro grupo de estrangeiros no Brasil, e muitos deles em parceria com empreendedores brasileiros.
José Luiz Tejon Megido, conselheiro fiscal do Conselho CientÃfico para Agricultura Sustentável (CCAS), não encontra temor, nem fantasmas, na questão de companhias e produtores estrangeiros produzirem no Brasil. “Estarão sujeitos às leis do país e investindo aqui. Há muita ficção a respeito. Algo que será cada vez mais inexorável, a globalização do lado de dentro das porteiras das fazendas pelo mundo inteiro“, avalia.
Marcelo Prado, proprietário da MPrado Consultoria, concorda: “Primeiramente, precisamos desmistificar esse conceito de investidor estrangeiro. Vivemos em uma economia global, em que empresas brasileiras que são competitivas exploram mercados nos EUA, Ásia, Europa, assim como empresas desses países podem explorar negócios aqui. A terra é um bem produtivo, que se explorado com critério gera riqueza e desenvolvimento. Não vejo problema algum em empresas internacionais investirem no país, o que tem acontecido com americanos, argentinos, australianos, chineses e japoneses. Isso vai aumentar ainda mais a competitividade do setor de agronegócio“, expõe.
A vantagem desses investimentos estrangeiros, apontada por Tejon, é a possibilidade da agropecuária de escala, que se dá principalmente no cerrado brasileiro, onde ainda se tem terra agricultável. “A tendência é de a pecuária liberar terras para agricultura. São regiões que aceitam atividade de escala pois ocupam 30, 40, 50, 60, 70 mil hectares em produção de escala intensiva“, calcula Tejon.
Investimentos
As regiões mais procuradas pelos estrangeiros são as fronteiras agrícolas, que possuem terras a um custo um pouco mais baixo que as tradicionais, entre elas: oeste da Bahia, Tocantins, Maranhão, PiauÃ, Pará e Mato Grosso. Já os investimentos acontecem principalmente na cultura de grãos, com fazendas altamente profissionalizadas e mecanizadas. A justificativa de Marcelo Prado é que, como os investidores estão fora, para que o empreendimento se torne viável, normalmente precisa ter um porte maior.
De toda forma, Tejon informa que as terras agricultáveis estão sendo valorizadas não só no Brasil, mas no mundo todo, em função da escassez já existente. “O preço do hectare nos últimos 15 anos teve valorização extraordinária, não por causa do interesse estrangeiro pelas terras brasileiras, mas porque o setor agropecuário está globalizado, o que leva à necessidade de produtores e cooperativas brasileiras fazerem um trabalho eficiente, já que a grande competição agropecuária se dá em tecnologia“, expõe o especialista, que responsabiliza a tecnologia pela permanência dos produtores na atividade.
Vizinhos próximos
O Grupo El Tejar, da Argentina, é um dos principais produtores de commodities agrícolas da América do Sul, com atuação focada na produção e comercialização de soja, algodão e milho, e de outras commodities agrícolas.
“A América do Sul, região na qual atuamos, possui terras de alta qualidade e uma das maiores reservas do mundo de áreas agricultáveis, resultado da combinação de bons solos e clima ideal para a produção de commodities agrícolas. Nossas terras se concentram no estado brasileiro do Mato Grosso, que possui o melhor potencial de exploração agrícola do mundo e na BolÃvia, na região de Santa Cruz de La Sierra. Nossas atividades se desenvolvem em terras em sua maior parte próprias, localizadas estrategicamente e com alto perfil de valorização, seguindo rigorosamente os critérios de agricultura sustentável“, afirma o Grupo, em nota à imprensa.
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