Gabriela Araújo Martins
Engenheira agrônoma e mestranda em Olericultura – Instituto Federal Goiano – Campus Morrinhos
gabriela.martins@estudante.ifgoiano.edu.br
João Pedro Elias Gondim
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e Supervisor de Desenvolvimento de Mercado pela TIMAC Agro Brasil
joao.gondim@timacagro.com.br
Rodrigo Vieira da Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia, professor e pesquisador – Instituto Federal Goiano – Campus Morrinhos
rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br
Nos cultivos agrícolas brasileiros, o parasitismo dos nematoides é responsável por perdas significativas de produtividade na maioria das culturas de importância econômica. Na cultura do algodoeiro, o cenário não é diferente, sendo as principais espécies que atacam esta planta: Meloidogyne incognita, Rotylenchulus reniformis, Pratylenchus brachyurus e Aphelenchoides besseyi.
O controle eficiente dos fitonematoides em áreas de cultivo onde estes vermes de solo estão estabelecidos não é tarefa fácil. Assim, o tratamento de sementes representa uma excelente ferramenta de proteção da semente, contribuindo para seu máximo potencial produtivo.
Foco
O tratamento de sementes tem o intuito de proteger a mesma contra os nematoides, desde o início de seu contato com o solo até a fase inicial de desenvolvimentos das raízes, que é a mais crítica do parasitismo dos nematoides.
O ataque dos fitonematoides causa diversos danos às lavouras de algodão, com destaque para a formação de tumores e/ou necrose das raízes, além de baixo desenvolvimento do sistema radicular e da parte aérea, em razão da redução da translocação de água e nutrientes.
Como reflexo, as plantas expressam sintomas que se assemelham aos de deficiência nutricional e/ou hídrica (folha carijó). Os danos impactam diretamente na produtividade da pluma. Segundo estudos estatísticos de redução de produtividade, a estimativa é de perdas da ordem de 10 a 15% da produção total de algodão por nematoides no Brasil.
Rotylenchulus reniformis
Algumas espécies de fitonematoides parasitam o algodoeiro em nosso país. Porém, merece destaque o nematoide Rotylenchulus reniformis, conhecido como nematoide reniforme, considerado um dos principais problemas fitossanitários da cultura do algodão.
Aumento populacional deste nematoide tem sido observado, principalmente em solos do Cerrado, em que o algodão é cultivado em áreas de sucessão com a soja. O nematoide se caracteriza por ser um semiendoparasita sedentário.
Na ausência do algodoeiro, o nematoide consegue sobreviver em plantas daninhas hospedeiras. Em condições de baixa umidade, R. reniformis entra em estado de anidrobiose.
Além disso, pode conter populações significativas do nematoide no decorrer do perfil do solo. Em locais com altos níveis populacionais deste patógeno e a utilização de cultivares suscetíveis, pode ocasionar perdas de produtividade superiores a 50%.
Porta para outras patógenos
Os nematoides, por meio de seu estilete presente em seu aparelho bucal, durante a sua penetração e/ou alimentação, provocam ferimentos nas raízes do algodoeiro, de maneira que em áreas infestadas com fitonematoides ocorre o favorecimento de infecções por fungos habitantes de solo, a exemplo dos causadores de murchas vasculares, Fusarium e Verticilium.
Os nematoides não apenas facilitam a entrada dos fungos, mas predispõem as plantas ao ataque destes patógenos. Nas plantas infectadas pelos nematoides, ocorre uma interação fisiológica com a planta hospedeira, aumentando a sua suscetibilidade a outras infecções secundária.
A interação do parasitismo simultâneo pelo nematoides e do fungo dentro da planta, que ocorre sistemicamente, é caracterizada por um sinergismo, onde os sintomas e danos provocados por ambos os patógenos são potencializados.
Importância do manejo eficiente
Um conjunto de práticas integradas faz parte do manejo eficiente de fitonematoides no algodoeiro. Sua implantação bem realizada por profissionais qualificados pode ser capaz de propiciar, no decorrer do tempo, uma produção satisfatória de algodão, mesmo em áreas contaminadas por estes vermes de solo.
Monitorar os fitonematoides por meio de amostragem e diagnose em laboratórios idôneos é fundamental para mensurar o problema e, assim, proporcionar informações para planejar as práticas de controle que visem um manejo mais eficiente.
Negligenciar tal manejo pode acarretar, com o tempo, prejuízos econômicos, ou até mesmo a inviabilidade das áreas de plantio em função de altos níveis populacionais dos fitonematoides.
Estratégias preventivas
Visando o manejo preventivo de fitonematoides no algodoeiro, busca-se, em primeiro lugar, evitar a entrada desses fitopatógenos nas áreas, realizando a limpeza e desinfestação de maquinários e implementos agrícolas.
Até mesmo o trânsito de carros particulares e pessoas pode disseminar os nematoides, por meio dos pneus e calçados, respectivamente. Portanto, na área de cultivo deve-se evitar a entrada de veículos de terceiros que não estejam desinfestados e colocar proteção descartável sobre os calçados das pessoas que venham a transitar.
Além disso, deve-se priorizar a aquisição de sementes certificadas e tratadas com nematicidas, monitoramento do histórico da área de plantio, manter o equilíbrio nutricional e da microbiota do solo.
Tratamento de sementes: papel crucial
O tratamento de sementes consiste em aplicar produtos químicos ou biológicos nas sementes antes do plantio, buscando proteger e minimizar o ataque de pragas e doenças nas sementes e plântulas.
Portanto, é considerado uma ferramenta crucial no controle de nematoides em lavouras de algodão, pois a utilização de sementes não tratadas pode servir de veículo para introduzir fitonematoides nas áreas de produção.
Os patógenos causadores de doenças no algodoeiro podem estar relacionados às sementes de formas distintas, a saber: primeiro, externamente contaminando a semente, segundo, presentes no interior da semente, infectando-a e terceiro, como acompanhante junto às impurezas contidas nos lotes de sementes.
Logo, para utilizar o tratamento de sementes é necessário se atentar ao grau de associação do patógeno e a semente. Quando o tratamento atua na superfície da semente seu efeito é desinfetante, e quando o patógeno já infectou a semente sua ação deve ser erradicante.
Direto ao ponto
Vale ressaltar que o tratamento de sementes possui como principal objetivo reduzir os nematoides durante as primeiras semanas de após a semeadura. Esse tratamento age reduzindo a penetração e infecção dos nematoides e protege as plântulas.
Assim, permite que as plantas tenham um crescimento inicial vigoroso, ficando mais tolerante a um possível futuro ataque de fitonematoides. Ao utilizar o tratamento de sementes, também ocorre redução dos custos com nematicidas e menor impacto ambiental, devido a reduzir as aplicações de produtos químicos.
Muitas vezes, o efeito benéfico em utilizar o tratamento de sementes pode ser notado na produtividade da cultura, pois proporciona uma lavoura mais homogênea, com bom estabelecimento e desenvolvimento inicial, crescimento radicular e vegetativo vigorosos, além de conferir tolerância ao ataque de patógenos, especialmente de fitonematoides.
Inovações
Segundo informações obtidas no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), os nematicidas químicos registrados para tratamento de sementes, na cultura do algodoeiro, possuem como princípio ativo a abamectina (avermectina), cadusafós e fluensulfona.
Esses são empregados em várias concentrações e associados ao tratamento com fungicidas e inseticidas. Salienta-se que a realização do tratamento de sementes em algodoeiro tornou-se indispensável para reduzir os prejuízos decorrentes do parasitismo dos nematoides.
Buscando técnicas inovadoras no manejo de fitonematoides na cultura do algodão, via tratamento de sementes, destacam-se os produtos biológicos. Entre os bioagentes com potencial de uso na cultura do algodão, podemos citar o fungo Purpureocilium lilacinus, que afeta diretamente a reprodução dos nematoides via parasitismo de ovos, penetrando e destruindo o embrião, atacando fêmeas sedentárias que são colonizadas e mortas e infectando os juvenis de segundo estádio (J2).
É um produto inovador e benéfico, minimizando os impactos ao meio ambiente. Já a bactéria Pasteuria nishizawae tem se tornado uma nova estratégia, pois seus endósporos, quando em contato com o nematoide, ficam aderidos e reduz a infecção na raiz. Além disso, também pode tornar as fêmeas inférteis.
Já a bactéria Bacillus subtilis pode atuar interferindo no ciclo reprodutivo dos nematoides, principalmente afetando a oviposição e a eclosão de juvenis.
Desafios do tratamento de sementes
Um grande desafio no tratamento de sementes encontrado pelos agricultores é a falta de informação. Logo, muitos produtores evitam usufruir dos benefícios oferecidos pelo tratamento de sementes por acharem que é um processo de custo elevado e pouco eficiente.
Porém, o tratamento de sementes é considerado uma ferramenta de custo baixo e oferece muitos ganhos, não somente em produtividade, mas também em proteção da lavoura.
Um aspecto importante que o produtor deve se atentar é em relação ao tempo após a semente ser tratada. Recomenda-se realizar o tratamento de sementes e, em seguida, proceder o plantio para evitar perdas de eficiência do produto, principalmente de biológicos.
Por fim, recomenda-se conciliar o tratamento de sementes com outras medidas no manejo integrado de nematoides, em especial em áreas com altas infestações. Vale lembrar que somente o tratamento de sementes não assegura a total proteção do sistema radicular contra esses fitopatógenos.
Em situações mais complexas de problemas com fitonematoides, recomenda-se, além das sementes tratadas com nematicidas, aplicar o nematicida de forma líquida no sulco de plantio em proximidade com as sementes para melhor proteção.
“ Recomenda-se conciliar o tratamento de sementes com outras medidas no manejo integrado de nematoides, em especial em áreas com altas infestações”.
LEIA TAMBÉM:
- Sakata iField: evento online oferece conteúdo técnico gratuito aos produtores
- Hedgepoint analisa movimentação nos preços do açúcar com influência do cenário macro
- Traça-dos-cereais: uma ameaça silenciosa aos armazéns de milho
- Usando o Instagram para Lançar Produtos e Atrair Público para Sua Marca
- Mix de plantas de cobertura para cereais: quais as opções?