Vinícius Ribeiro Rossignoli – vinicius.rossignoli@outlook.com
Natanael Motta Garcia – natanaelmottagarcia@outlook.com
Graduandos em Agronomia – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (Unifio)
Aline Mendes de Sousa Gouveia – Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia e professora – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (Unifio) – aline.gouveia@unifio.edu.br
A safra de trigo 2021 teve um volume total de produção de 7,7 milhões de toneladas, o que representa safra e preço recorde. O resultado final ficou acima do obtido na temporada passada, mesmo com as adversidades climáticas e as perspectivas para a safra 2022 continuam em alta.
Outro ponto positivo é que a produção de trigo no Brasil mudou e nas últimas safras está sendo cultivado em outras regiões, graças ao melhoramento genético, que propiciou cultivares adaptadas. A produção no Cerrado Mineiro, por exemplo, é uma excelente opção, devido à alta qualidade do trigo.
Preços elevados
Os preços do trigo se mantêm em alta devido à alta do dólar, o que torna cara a importação deste cereal pelo Brasil. Segundo boletim da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), os custos de importação, a alta cambial, entre outros fatores, são os principais fatores que sustentam as cotações.
Vale ressaltar que a cultura bateu safra recorde em 2021, mas isso não impediu que as cotações seguissem em patamares elevados. Sergio De Zen, diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, explica: “A volatilidade do dólar e as cotações no mercado internacional devem contribuir para um quadro de estabilidade, com leve viés de alta no curto prazo para os preços domésticos. Desta forma, o aumento da disponibilidade interna do cereal advindo da colheita no Estado do Paraná e do Rio Grande do Sul, principais produtores nacionais, não foram capazes, isoladamente, de causar uma redução nos preços”.
Papel do melhoramento genético
O trigo foi um dos grandes protagonistas, quando falamos dos avanços no melhoramento genético, durante a Revolução Verde ocorrida na década de 60. Naquela época, foi incorporado ao genoma do trigo, por meio de cruzamentos, genes relacionados ao tamanho e ao fotoperíodo.
Assim, plantas de menor estatura e tempo de floração foram desenvolvidas, favorecendo o sistema de produção. As cultivares então desenvolvidas, que foram adotadas pelos países em desenvolvimento, apresentaram aumento de produtividade, gerando grande impacto na redução da fome no mundo.
Esses genes permanecem amplamente difundidos nas cultivares de trigo utilizadas em todo o mundo na atualidade. As características melhoradas no trigo foram:
• Resistência às principais doenças;
• Tolerância à acidez do solo;
• Maior tolerância ao acamamento (queda da planta);
• Qualidade tecnológica de grãos para diferentes usos;
• Ciclo mais precoce;
• Folhas mais eretas.
Movimento financeiro
Com a valorização do dólar frente ao real, batendo médias mensais na casa de R$ 5,40 em 2021, a cotação do trigo brasileiro chegou a dobrar de preço na variação anual. Mesmo com as condições climáticas adversas durante o desenvolvimento da cultura, sobretudo a ocorrência de geada e seca severas, a safra nacional de trigo atingiu produção recorde em 2021, finalizando o ano com 7,68 milhões de toneladas de cereal colhido no Brasil, a um valor de R$1.662,47 por tonelada e US$ 298,20 por tonelada, segundo dados da Conab.
A produtividade média do trigo no Brasil é de 3.500 kg/ha em sistema de sequeiro e 5.000 kg/ha em cultivo irrigado. Na safra 2021/22, a estimativa da área cultivada no País foi de 71,5 milhões de hectares, com previsão de crescimento de 3,6% em relação ao registrado em 2020/21, mostrando as áreas altamente tecnificadas nos Estados do Rio Grande do Sul e Paraná.
Demanda x oferta
O trigo é o segundo cereal mais cultivado no mundo, perdendo somente para o cultivo de milho. Em 2019, segundo dados da FAO (FAOSTAT, 2020), foram produzidos em torno de 766 milhões de toneladas, com valor de mercado na ordem de US$ 114 milhões.
A produção mundial da safra de 2020/21 foi de aproximadamente 773,6 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2020), com um aumento de 1,2% em relação à safra 2019/20 (764,5 milhões), em que os maiores produtores foram China (136 milhões), União Europeia (135,8 milhões, somando seus 28 países), Índia (107,6 milhões), Rússia (84 milhões), Estados Unidos (46,7 milhões) e Canadá (35 milhões). O Brasil ocupou o 16º lugar no ranking mundial.
A Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria Trigo) aponta que a demanda pelo cereal no País é de 11 milhões de toneladas. Em contrapartida, o Brasil produz cerca de 6,0 milhões de toneladas por ano, necessitando importar o restante de outros países, como a Argentina, maior fornecedora do trigo da América do Sul.
Investimento inicial
É de extrema importância investir, inicialmente, em sementes de qualidade e insumos que irão garantir o potencial produtivo da lavoura, dessa forma, garantindo maior rentabilidade.
Em um primeiro momento, o desembolso em insumos pode intimidar empresas e profissionais que decidam investir na cultura do trigo, porém, ao analisar os ajustes promovidos pelo melhoramento genético e as tecnologias implantadas para um manejo de forma mais eficiente, podem beneficiar toda a cadeia do cereal, motivando o aumento de área cultivada e sua exploração por parte dos produtores.
Diante disso, na safra de trigo 2021 houve um aumento de 21,77% nos custos de produção, se comparado a 2020, de acordo com a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), que ainda afirmou que a relação de troca poderia ser melhor se os valores não aumentassem além da inflação.
Sendo assim, é necessários desembolsar, para cada hectare produzido, R$ 3.997,10, considerando uma produtividade média de 60 sacas por hectare, ou seja, o custo para a produção de uma saca é de R$ 66,62 a saca de 50 quilos e o produtor precisará colher 52,96 sacas para pagar todos os gastos da lavoura, incluindo a aquisição de insumos, manutenção de máquinas e equipamentos, combustíveis, entre outros.
Na safra anterior o custo era de R$ 3.282,38, representando um custo por saca de R$ 54,71, segundo dados da FecoAgro/RS.
Rentabilidade
De acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP), a expectativa para a próxima safra de trigo nacional é de aumento nas áreas de plantio com o cereal, como ocorreu na temporada anterior, devido aos altos valores pagos no mercado atual, mesmo com o maior custo na produção. Em 2021, os produtores conseguiram uma margem de rentabilidade próxima a R$ 1.900 por hectare.
Retorno
O ciclo de cultivo do trigo é, em média, de 100 a 170 dias. Essa variação ocorre devido à cultivar escolhida e às condições edafoclimáticas. Dessa forma, o retorno da produção virá no segundo ano após plantio, levando em conta que no nosso país é possível o cultivo de até três safras do cereal no mesmo ano agrícola.
Demanda
Segundo o IBGE, as regiões sul e sudeste concentram a maior parte da demanda de trigo no Brasil. Atualmente, cada pessoa consome 60 kg de trigo por ano, média considerada ideal pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O consumo médio per capita no Brasil mais que dobrou nos últimos 40 anos, levando ao incentivo dos produtores na expansão e produção deste cereal.
No Brasil, a região sul é a maior produtora de trigo, representando 89% do total nacional, com destaque para os Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, líderes em produtividade, com 86% desse total. A pandemia não afetou a produção brasileira, mas sim o aumento do consumo de trigo, devido ao isolamento social e à necessidade de se fazer as refeições em casa, o que acabou diminuindo sua oferta e levou, além de outros fatores, à alta nos preços.
Inovações no plantio
O sul do país, que é a maior região produtora, promoveu um grande salto na agricultura com o advento do plantio direto, que foi adotado em larga escala no escopo da agricultura conservacionista.
O plantio direto da cultura do trigo promove a redução de perdas do solo e água por erosão, a redução de perdas de água por evaporação, da incidência de plantas daninhas, da taxa de decomposição da matéria orgânica do solo, da demanda de mão de obra, dos custos de manutenção de máquinas e equipamentos, e do consumo de energia fóssil.
Observa-se preservação da estrutura do solo e da fertilidade química, física e biológica do solo e a promoção do sequestro de carbono no solo, promovendo assim não somente a semeadura direta do trigo após a colheita da cultura anterior, mas também um conjunto de boas práticas de manejo, que compreendem a diversificação de espécies via rotação de culturas, mobilização de solo apenas na linha de semeadura, manutenção permanente da cobertura do solo e minimização do tempo entre colheita e semeadura.
Nem tudo é custo
Grande parte dos custos de produção do trigo são devido ao uso de corretivos e fertilizantes. Por outro lado, esses insumos também são responsáveis pelo incremento na produtividade e podem impactar na qualidade do cereal. Como destaque, temos a ureia, que tem sido o principal fertilizante utilizado no trigo devido ao menor custo por unidade de nutriente, dentre os adubos nitrogenados disponíveis no mercado.
No Estado do Paraná, o acompanhamento das lavouras de trigo durante mais de uma década pelos órgãos de pesquisa Emater/PR e Embrapa mostraram aumento no uso de tecnologias em adubação para a cultura.
Trigo se expande Brasil afora
Thaísa Fernanda Oliveira – Engenheira agrônoma, doutora em Fitotecnia e professora – Universidade Federal de Viçosa (UFV) – thaisafernanda135@gmail.com
Thiago Lucas de Oliveira – Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – thiago.agroufv@gmail.com
Eduarda Lee Ferreira Lima – Engenheira agrônoma e mestre em Produção Vegetal (UFV) – eduarda.lima@cna.org.br
A produção de trigo no Brasil mudou e nas últimas safras seu cultivo tem sido expandido para outras regiões, graças ao melhoramento genético que propiciou a obtenção de cultivares adaptadas. A produção no Cerrado Mineiro, por exemplo, é uma excelente opção, devido à alta qualidade do trigo.
Mercado global
O trigo é o segundo cereal mais cultivado no mundo, depois do milho. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou que a área plantada de trigo no mundo para a safra 2021/22 totalizaria 223,3 milhões de ha, apresentando um aumento de 1%, quando comparada ao período anterior. Em relação à produção, as estimativas do USDA apontam para 777,8 milhões de toneladas, volume 0,24% superior ao da safra anterior.
Já o consumo desse cereal teve um incremento estimado em 1,6%, perfazendo um total de 786,9 milhões de toneladas. No que se refere aos estoques finais, estes apresentaram decréscimo na ordem de 4%, tendo passado de 289,6 milhões de toneladas, em 2020/21, para 278,2 milhões de toneladas, em 2021/22, gerando uma relação estoque x consumo de 35,4% contra 37,3% da safra anterior.
Atualmente, entre os 10 maiores produtores mundiais, destacam-se a União Europeia, com uma produção estimada de 139,4 milhões de toneladas, seguida por China, com 136,9 milhões de toneladas; Índia, com 109,5 milhões de toneladas; Rússia, com 72,5 milhões de toneladas; EUA, com 44,7 milhões de toneladas; Ucrânia, com 33 milhões de toneladas; Austrália, 31,5 milhões de toneladas; Paquistão, 27 milhões de toneladas; Canadá, 21 milhões de toneladas e Argentina, 20 milhões de toneladas.
Juntos, esses países são responsáveis por um volume de 635,5 milhões de toneladas, constituindo uma participação de 82% da produção mundial na safra 2021/22. O Brasil permanece na 15ª posição, com previsão estimada pelo departamento norte americano de 7,9 milhões de toneladas de trigo na safra 2021/22, pouco acima do previsto até então pela Conab (7,7 milhões de toneladas).
Mercado interno
A colheita do trigo já foi concluída nas principais regiões produtoras do Brasil, que incluem os Estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Bahia. A produção nacional se aproximou de 7,7 milhões de toneladas e o consumo interno ficou estimado em 12,5 milhões de toneladas. Aumentos nas exportações e importações do cereal também foram observados.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), as exportações de trigo passaram de um volume de aproximadamente 560,85 mil toneladas em 2020 para mais de 1,12 milhões de toneladas em 2021, representando crescimento de 101%, e de mais de 150% em receita.
Esse crescimento vem sendo observado principalmente nos últimos anos. Os principais destinos do trigo brasileiro foram Arábia Saudita (28,20%), Indonésia (25,74%) e Vietnã (20,67%). Por outro lado, apesar dos volumes importados também terem apresentado incremento, totalizando 6,22 milhões de toneladas, esse se deu de forma muito mais branda, na ordem de pouco mais de 1%.
Exportações
O maior incremento nas exportações, quando comparado com as importações do cereal, é explicado por altas cambiais e o menor grau de exigência de alguns atores do mercado externo, com maior receptividade a trigo de pH inferior.
O aumento da demanda interna do trigo justifica os maiores volumes importados durante a safra. Dentro deste contexto, Argentina (87,29%), Paraguai (5,35%) e Uruguai (4,94%) foram os maiores fornecedores do cereal para o Brasil, como de costume.
Expansão da produção e mercado
A necessidade de expansão de área cultivada e, consequentemente, o incremento da produção, como já mencionado, são fatores que vêm sendo colocados em prática para aumentar a capacidade de abastecimento interno e reduzir as dependências de importação.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os preços do trigo devem se manter elevados para o produtor brasileiro em um cenário de curto a médio prazo.
De acordo com os pesquisadores, diversos fatores devem ter peso sobre as cotações, que começaram janeiro apontando alta, seguindo a mesma tendência já verificada em dezembro de 2021.
Ainda de acordo com os pesquisadores, os preços atuais, atrativos para a ponta vendedora, devem estimular um plantio maior do cereal na próxima temporada, mesmo com a frustração de safra decorrida de intempéries climáticas em algumas regiões no último ano e a elevação dos custos de produção, que ocorre também nas demais cadeias produtivas.
Caracterização do cultivo do trigo no Brasil
Atualmente, o cultivo de trigo no país se estende por uma ampla área, contemplando regiões temperadas, subtropicais e tropicais. As diferenças edafoclimáticas existentes entre essas regiões implicam em diferentes respostas das plantas quanto ao seu desenvolvimento e produção.
Diante disso, para fins de recomendações técnicas mais apuradas e específicas para o cultivo do trigo em cada região, tem-se praticado uma divisão entre as áreas tritícolas do País. Um exemplo é a classificação em regiões homogêneas de adaptação, dividindo-se em quatro: região 1 (fria e úmida), região 2 (moderadamente quente e úmida), região 3 (quente e moderadamente seca) e região 4 (quente e seca).
As regiões 1 e 2 compõem a zona tradicional de cultivo do trigo no País, caracterizando-se por condições de alta umidade e temperaturas mais baixas do que as demais regiões. A primeira região compreende áreas altas nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Já a região 2, além de contemplar áreas de menor altitude nestes Estados, abrange algumas áreas de São Paulo. A região 3, classificada como quente e moderadamente seca, inclui o Norte do Paraná, Sul de São Paulo e parte do Mato Grosso do Sul, em locais onde ainda é possível o cultivo de trigo em sistema de sequeiro.
A região 4 se refere às áreas de Cerrado, contemplando parte dos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bahia, Goiás, Minas Gerais e o Distrito Federal. Maiores temperaturas e menor precipitação pluviométrica são características desta região.
Futuro da triticultura passa pelo Brasil Central
A produção autossuficiente de trigo no Brasil será alcançada por dois caminhos: a obtenção de maiores produtividades em áreas onde tradicionalmente se cultiva o cereal e a ampliação de área cultivada.
A ampliação de áreas é um caminho factível e já trabalhado, principalmente em regiões do Brasil Central, onde já existe o cultivo de outras culturas de grande importância, como a soja e o milho.
A triticultura brasileira ainda é concentrada no Sul do país, representando cerca de 90% da área total de trigo no Brasil. Entretanto, a participação de regiões centrais do Brasil no cultivo do cereal vem aumentando. Nos últimos dez anos, a área plantada com trigo no Sudeste e Centro-Oeste cresceu cerca de 120% (Conab, 2022).
Apesar desse avanço, a ocupação atual das áreas de Cerrado com a cultura do trigo ainda é considerada baixa, quando comparada à dimensão de área que já vem sendo utilizada para o cultivo de outras culturas anuais. Há pouco tempo, um estudo identificou potencial de uso para cultivo de trigo de sequeiro em cerca de 4,5 milhões de hectares, distribuídos pela zona de adaptação referente ao Brasil Central (região 4), sendo estas áreas localizadas em altitudes maiores que 800 m, consideradas preferenciais para a cultura (Pasinato et al., 2018). Isso evidencia, de forma concreta, o potencial existente para expansão da triticultura nos cerrados.
O trigo produzido nos cerrados traz grandes vantagens aos produtores, que vão desde benefícios econômicos à sustentabilidade dos sistemas de produção. No que diz respeito aos sistemas de produção, a inserção do trigo na rotação de culturas permite a quebra de ciclos de doenças e pragas.
Em áreas sob plantio direto, a ótima palhada produzida pelo trigo favorece o manejo de plantas daninhas e a manutenção da umidade do solo, condição importante sob situações de estiagem.
No aspecto econômico, pela colheita acontecer em época diferente daquela observada no Sul do País, o triticultor obtém melhor remuneração pela produção. Além disso, pela menor ocorrência de chuvas na maturidade da lavoura, obtêm-se grãos de melhor qualidade. Outra vantagem relevante é a proximidade das áreas de produção a moinhos, o que facilita a logística.
Cerrado investe na triticultura
Um exemplo de sucesso no cultivo do trigo em cerrado é a região do Cerrado Mineiro. Aqui, recorrentemente têm-se obtido boas produções do cereal, com volumes médios que vão de 2,5 t/ha em áreas de sequeiro a mais de 6,0 t/ha em sistemas irrigados.
Nestas áreas, o trigo encontrou temperaturas amenas no inverno e baixas chuvas no período que antecede a colheita, fatores que garantem excelentes qualidades sanitária e industrial.
Além do Cerrado Mineiro, outras áreas têm se destacado na produção do cereal. Recordes de produtividade têm sido obtidos em áreas goianas, com números superiores a 9 t/ha, já registrados sob condições irrigadas.
O trigo no Mato Grosso já é uma alternativa viável para os agricultores diversificarem a produção. O oeste baiano também tem apresentado potencial para cultivo do cereal. De forma geral, as produtividades médias obtidas em regiões do centro-oeste e sudeste têm superado as obtidas no Sul do Brasil.
A expansão do cultivo não para por aí, pois cultivos em nível experimental já vêm sendo realizados nas regiões do Matopiba, Sealba e nos Estados do Ceará e Roraima, buscando estudar o comportamento de cultivares e a viabilidade da cultura nessas áreas.
Melhoramento genético
O avanço do trigo para além dos limites do Sul do País só ocorreu graças a grandes esforços de pesquisa relacionados ao manejo da cultura e ao melhoramento genético. No que se refere ao melhoramento genético, a obtenção de cultivares mais produtivas e adaptadas às condições do Cerrado permitiu a expansão do trigo para essas regiões.
A precocidade, resistência/tolerância a estresses bióticos e abióticos e atributos de qualidade tecnológica da produção também foram outros fatores considerados nos programas de melhoramento e que favoreceram o sucesso da cultura no Brasil Central.
Atualmente, são várias as opções de cultivares para uso nas regiões de Cerrado contidas no Zoneamento Agroclimático para o trigo, com cultivares recomendadas para São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Distrito Federal, e opções tanto para cultivo em sequeiro quanto irrigado. Além disso, algumas delas também oferecem opções para os estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Desafios
Apesar dos bons resultados já obtidos, alguns desafios ainda persistem, minando uma maior expansão do trigo no Brasil. Devido às temperaturas mais altas e reduzida disponibilidade hídrica dentro das janelas consideradas para cultivo do trigo no Cerrado, é consensual a necessidade de buscar cultivares mais tolerantes à seca e altas temperaturas.
Avanços neste campo têm sido frequentes. Outro desafio para os melhoristas é a obtenção de cultivares com maior resistência à brusone. Essa doença é considerada o maior obstáculo fitossanitário da cultura do trigo em regiões do Brasil Central, com potencial para levar à perda total das lavouras.
As condições do período de cultivo são muito favoráveis ao surgimento e desenvolvimento da doença. A resistência genética para brusone torna-se ainda mais importante para cultivos de sequeiro, onde as aplicações de fungicidas para manejo da doença podem onerar o custo de produção, a ponto de inviabilizar o cultivo do trigo.
Outras doenças de importância a serem consideradas no melhoramento são a manchas foliares causadas por Bipolaris sorokiniana e Drechslera tritici-repentis.
Equilíbrio na balança
Ainda dependente da importação de trigo, com a qual são gastos bilhões anualmente, o Brasil procura formas de aumentar a produção do cereal e alcançar a esperada autossuficiência. Para a conquista desse objetivo, o aumento do cultivo em áreas do Brasil central é estratégia preponderante.
A produção do trigo no Cerrado tem apresentado bons resultados ano após ano e entrega um produto de alta qualidade, equiparado aos melhores do mundo. Espera-se, para as próximas safras, um grande incremento na produção do trigo, além de áreas do Sul do país.
O trigo também vem sendo testado em novas áreas do norte e nordeste. Para a conquista de novas fronteiras, alguns desafios devem e podem ser superados com o aperfeiçoamento de novas técnicas de cultivo e o desenvolvimento de novas cultivares pelo melhoramento genético.
Em adição aos desafios agronômicos, a expansão de trigo passa também por aspectos de política estratégica. Desburocratização de processos ligados à atividade, fomento à regionalização e especialização da produção, ações de valorização do consumo, melhorias na infraestrutura de armazenamento e escoamento das colheitas e incentivos para fortalecimento da agroindústria são algumas das demandas dos produtores e entidades ligadas à triticultura.