Herika Paula Pessoa – Engenheira agrônoma, mestre em Fitotecnia e doutoranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV) – herika.paula@ufv.br
Manoel Nelson de Castro Filho – Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – UFV – manoel.nelson@ufv.br
Francisco Davi da Silva – Engenheiro agrônomo, mestre em genética e melhoramento e doutorando em Fitotecnia – UFV – francisco.davi@ufv.br
As espécies-praga de tripes (Thysanopter: Thripidaea) são fitófagos sugadores de seiva que atacam uma variedade de plantas cultivadas. As ninfas e os adultos podem se alimentar da seiva das flores, das folhas e dos frutos, destruindo os tecidos sugados (dano direto).
Com sua alimentação também pode transmitir ou facilitar a infecção de fitopatógenos, como vírus, fungos e bactérias (dano indireto). As perdas de produção variam de acordo com a cultura e a condição climática, mas existem relatos de perdas de até 75% na cultura da cebola em infestações severas.
Sintomas
Os sintomas de ataque variam, pois são várias espécies-praga que podem atacar culturas distintas. No geral, em ataques severos, ocorre o prateamento/bronzeamento nas folhas, com áreas esbranquiçadas ou prateadas, que evoluem para áreas necróticas, que podem deformar e secar completamente as folhas.
Isso compromete a capacidade de crescimento e produção. Também pode alterar a aparência e forma dos frutos, reduzindo a vida pós-colheita e a comercialização. São encontrados em todas as regiões do País, com determinados fatores climáticos contribuindo para a incidência e aumento populacional. Infestações são frequentes em condições de alta temperatura e baixa umidade, podendo surgir também em condições com baixa temperatura, associada à estiagem.
Esses insetos-praga são controlados principalmente por produtos químicos sintéticos, porém, métodos de controle e produtos alternativos estão sendo cada vez mais adotados.
A árvore de neem (Azadirachta indica) é um bom exemplo disso, pois fornece uma boa fonte para o controle desses insetos-praga, contendo mais de 30 substâncias terpenoides com propriedades inseticidas, repelentes, e que reduzem a alimentação dos insetos.
O composto presente mais importante é a azadiractina, além da salanina, meliantriol, nimbina e nimbidina. Esses derivados são mais seguros para o homem e outros organismos não visados, no entanto, tem efeitos sobre uma grande variedade de insetos, inclusive aqueles que são benéficos.
Tripes que ingerem ou entram em contato com extratos de neem têm alterações na sua metamorfose, inibição do crescimento, má formação, redução da fertilidade e aumento da mortalidade, o que reduz significativamente a população de ninfas e adultos desses insetos-praga.
Manejo Integrado de Pragas
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É recomendada a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP), por ser uma das formas mais sustentáveis e eficazes no combate às pragas. Para isso, deve-se ter um acompanhamento próximo da cultura, com realização de amostragens, afim de acompanhar a densidade populacional de pragas.
Com isso, pode-se definir as pulverizações quando as populações estiverem antes de atingir o Nível de Dano Econômico (NDE). As pulverizações devem ser realizadas preferencialmente no final da tarde, evitando períodos quentes do dia, e não deve ser aplicado em dias de chuva, vento e orvalho excessivo. No manejo, geralmente ocorre mais de uma pulverização com o extrato.
O extrato vegetal do neem a ser utilizado pode ser obtido de diversas formas. O mais utilizado, por ser mais eficiente, é o do óleo extraído das frutas e sementes, onde se tem a maior concentração do principal componente ativo (azadiractina).
Temos vários produtos comerciais à base de neem no mercado, e deve se seguir as recomendações de dosagem de cada fabricante. Após o preparo, é recomendada a utilização mais rápida possível do produto, afim de se obter um controle satisfatório.
Ação contra insetos
Esse composto não mata instantaneamente os insetos, porém os impede de continuarem se alimentando e interfere no seu desenvolvimento. A azadarachtina é estruturalmente similar ao hormônio chamado “ecdysona”, que controla o processo de metamorfose das diversas fases da vida do inseto (larva, pupa e inseto adulto), ou seja, a azadarachtina atua como um bloqueador de “ecdysona”, impedindo assim a mudança de fase do inseto-praga.
O tripes constitui em uma praga bastante complexa e que provoca grandes prejuízos aos horticultores. Os danos constituem-se em injúrias que podem atuar como porta de entrada para microrganismos patógenos como bactérias e fungos e podem atuar como vetores de viroses.
Na cultura do tomate, alface e pimentão por exemplo, o tripes atua na transmissão do Tospovírus, acarretando na doença popularmente conhecida como ‘vira-cabeça’. Em cultivares não resistentes ao vira-cabeça, o ataque de tripes pode provocar perda total na produção.
Em alface cultivada em casa de vegetação, estima-se que as perdas provocadas por tripes podem alcançar até 40%. No Brasil, o tripes é considerada a principal praga da cebola, principalmente em regiões quentes e secas, ou em regiões de baixas temperaturas associadas à estiagem.
Manejo
A pulverização do extrato de neem, para obter alta taxa de eficiência no controle, deve ser aplicado a fase inicial de ataque, ou seja, quando os primeiros insetos forem detectados na cultura. Além disso, vale ressaltar que o uso do neem promove resultados mais satisfatórios quando os insetos se encontram na sua fase larval.
Pois, uma vez que os insetos adultos tenham se estabelecido nas plantas, eles passam a ser menos suscetíveis. Verifica-se que, na fase adulta do inseto, as formulações oleosas mostram-se mais eficientes, isso pode ocorrer devido ao fato de que o óleo cobre todo o corpo do inseto, impedindo sua respiração.
A dosagem do produto aplicado varia com o tipo de produto (óleo de neem; extrato das sementes; extratos das folhas, etc.) e com a cultura. Resultados de pesquisas, com boas respostas em termos de controle do tripes, adotaram a aplicação de óleo de neem na concentração de 2% (2,0 L/100 L d’água), extrato aquoso de sementes 3% (3,0 L/100L d’água), extrato de folhas (10 a 30%).
Outros autores recomendam que, se for utilizar óleo emulsionado, a concentração aplicada deve ser entre 0,5 até 1%. Entretanto, cabe ao produtor testar o produto e descobrir por si mesmo a dosagem mais economicamente viável.
Quando aplicar
Em relação ao cronograma de aplicação, ainda não há um consenso entre os pesquisadores. Algumas experiências demonstraram que o efeito anti-alimentar persiste por até três semanas após a aplicação.
Entretanto, o que tem ocorrido entre os adeptos ao produto é a aplicação semanal ou quinzenal. A pulverização com produto a base de neem pode ser realizada de forma preventiva.
Verifica-se, na literatura, que o uso de produtos à base de neem, no controle de tripes em hortaliças, tem promovido resultados eficientes, garantindo um baixo índice de perdas na produtividade.
Alerta vermelho
Em tomate e alface, por exemplo, o ataque de tripes pode transmitir o tospovírus (gênero Tospovirus; família Bunyaviridae) e ocasionar a doença denominada popularmente de “vira-cabeça”, em que os sintomas são expressos diretamente nas folhas (mosaico, necrose, deformação, mosqueado e bronzeamento).
Na cultura da alface especificamente, o ataque de tripes pode provocar perdas de até 100% na produção, uma vez que a parte comercializável das plantas são as próprias folhas. Dessa forma, o controle do tripes utilizando produtos à base de neem garante a redução do ataque e manutenção da produção da lavoura.
Controle da tripes reduz a transmissão do tospovírus
O tospovírus provoca nas hortaliças a doença popularmente conhecida como vira-cabeça. Essa doença é muito comum no tomateiro, na alface e no pimentão. As plantas atacadas pela virose apresentam, inicialmente, as folhas bronzeadas e, posteriormente, o caule com estrias negras, os frutos verdes com manchas amareladas e o broto principal curva-se. As plantas afetadas não mais produzirão e devem ser eliminadas da área.
A prevenção contra o vira-cabeça está associada ao controle do inseto vetor, o tripes. Verifica-se na literatura que o uso de produtos à base de neem juntamente com alguns bioinseticidas a base de microrganismos, como os fungos Beauveria Bassiana e Verticillium Lecanii promovem um controle eficiente dessa praga, principalmente quando utilizado de forma preventiva.
Respostas positivas do uso do neem no controle de tripes foram citadas em diversas culturas como tomate, pimentão, alface, cebola, algodão e outras.
Erros
Um dos erros mais frequentes constitui-se na utilização única e exclusiva da aplicação de produtos inseticidas para controle do tripes. Para se ter um controle eficiente desse inseto deve-se adotar o manejo integrado de pragas, optando pelo uso de rotação de culturas, culturas com resistência a viroses e/ou menos susceptíveis ao inseto, implantação de barreiras, eliminação de plantas hospedeiras, controle biológico e outros.
Outro erro frequente quanto ao uso do neem para controle de tripes em hortaliças está relacionado ao momento em que se inicia o controle propriamente dito. Por exemplo, o ataque de tripes na cultura do tomate e alface pode ocasionar aparecimento de viroses (vira cabeça), uma vez a planta foi atacada e o fragmento do vírus foi inserido, o controle da praga não mais será eficiente e o dano não será revertido.
Dessa forma, é recomendado que no caso particular das hortaliças se faça o controle preventivo, bem como, um bom monitoramento da praga.
Alguns outros problemas podem estar relacionados a mistura de caldas. Apesar de ainda haver poucos estudos relacionados a misturas de produtos junto ao neem, não é recomendado a sua aplicação com a calda bordalesa nem com a calda sulfocálcica, devido a sua reação alcalina e degradação dos compostos fitoquímicos, reduzindo sua eficiência.
Atualmente o mercado dispõe de diversos produtos a base de neem com preços e composição/concentração variados. Para garantir o sucesso da utilização do neem para controle do tripes, é importante que no momento da escolha o produtor preconize produtos de empresas idôneas e com comprovada eficácia.