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Bernardo Ueno
Pesquisador da Embrapa Clima Temperado
O fosfito é um agente elicitor, responsável pela defesa das plantas. No caso do pêssego, a recomendação é que a fonte utilizada seja o fosfito de potássio, que, em conjunto com o fungicida, pode prolongar a ação deste último e ainda reduzir o número de aplicações durante o ciclo.
Uso crescente
Os fosfitos têm despertado um grande interesse na agricultura, principalmente para o controle de doenças em plantas. Eles atuam como indutores de resistência em plantas, reduzindo a incidência e severidade de doenças causadas por fitopatógenos.
É um produto que tem translocamento sistêmico (via xilema e floema) na planta e rápida absorção pelas folhas e raízes. O fosfito contém um oxigênio a menos do que o fosfato, é mais solúvel, e por isso sua absorção pelas folhas e raízes é mais eficiente. Assim sendo, o uso de doses elevadas de fosfitos pode ser tóxico para as plantas.
Os fosfitos têm efeitos únicos sobre o metabolismo da planta, sendo uma delas a ativação dos mecanismos de defesa da planta contra os fitopatógenos. Aplicados no solo ou nas folhas, eles são lentamente convertidos em fosfatos.
Para algumas espécies de plantas, os fosfitos podem oferecer alguns benefícios exclusivos não observados nas aplicações de fosfato, além do efeito sobre o controle de doenças, como melhor floração, pegamento de frutos e aumento do tamanho destes.
Pesquisas
Muitos ensaios têm sido feitos com os fosfitos para avaliar sua eficiência no controle de doenças em plantas. Sem dúvida, os melhores são aqueles para o controle de doenças causadas pelos oomicetos, tais como Phytophthora, Pythium e os míldios (Peronospora, Plasmopara, Pseudoperonospora, Bremia, etc.), existindo várias formulações comerciais com a finalidade de controlar esses fitopatógenos.
Em alguns casos, somente o uso de fosfitos é suficiente para o controle dessas doenças, não havendo necessidade de se utilizar outros fungicidas convencionais. Agora, o uso no controle de outras doenças, além daquelas causadas por oomicetos, deve ser melhor avaliado, pois, em muitos casos, os fosfitos não têm apresentado resultados satisfatórios.
Portanto, é necessário que a decisão de seu uso seja baseada em ensaios que realmente comprovem a sua eficiência em lavouras e pomares comerciais.
Caso a caso
Diferentemente de seu uso contra os oomicetos, em muitos casos a aplicação única de fosfito para controlar uma determinada doença não tem resultado satisfatório, mas quando associado a um fungicida convencional tem melhorado a eficiência desses fungicidas, indicando que há um efeito sinérgico entre eles.
Em relação à cultura do pessegueiro, doenças causadas por oomicetos são de ocorrência muito rara, esporádica, somente em condições de muita umidade no pomar. Portanto, o uso de fosfitos para esse grupo de fitopatógenos não seria importante, entretanto, para outras doenças mais comuns em pessegueiro o seu uso pode ser interessante, desde que tenha algum efeito de controle comprovado por ensaios em pomares comerciais desta fruta.
Alguns ensaios, no Brasil, foram conduzidos pela Universidade Federal do Paraná, neste mesmo Estado, testando os fosfitos para controle de doenças como podridão parda e ferrugem.
Resultados promissores foram obtidos quando se fez o uso associado do fungicida captana com fosfito de potássio (frutificação) e de cálcio (floração), totalizando 11 aplicações no ciclo, com resultados semelhantes aos do tratamento convencional, mas inferiores aos melhores tratamentos, em que há alternância de fungicidas de contato com sistêmicos no controle da podridão parda.
Em outro ensaio, onde foram testadas diferentes fontes (potássio, cálcio e cobre) de fosfitos, para o controle de podridão parda (frutos) e ferrugem (folhas), os resultados não diferiram da testemunha, indicando que os fosfitos, sozinhos, não têm capacidade de inibir o desenvolvimento dessas doenças, com exceção de fosfito de cobre, que conseguiu reduzir 35% a severidade de ferrugem na cv. Chimarrita.
Em outro ensaio, conduzido pelo mesmo grupo, o fosfito de potássio, antes da colheita, conseguiu reduzir em 27% a incidência de podridão parda, mas esse resultado não atende a necessidade de controle para uma produção comercial de pessegueiro.
Lá fora
Nos EUA, analisando os ensaios publicados no Plant Disease Management Reports, foram publicados os resultados de testes de fungicidas realizados anualmente, envolvendo pessegueiro e uso de fosfitos no controle de doenças, que serão descritos a seguir.
O fosfito de potássio teve algum efeito no controle de sarna do pessegueiro em condições de incidência moderada da doença, mas foi inferior aos demais tratamentos de fungicidas recomendados para o controle da doença. Em mistura com captana, o fosfito de potássio, testado em condições de alta incidência de sarna (98%), foi superior ao tratamento com azoxistrobina (72%), mostrando que a mistura de fosfito com fungicidas melhorou sua eficiência (38%).
Em outro ensaio, em condições mais favoráveis para sarna e podridão parda, com incidência de 78 e 86%, respectivamente na testemunha não tratada, o fosfito de potássio reduziu a incidência de sarna para 19%, mas foi menos eficiente que captana e demais fungicidas.