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Andina – Primeira cultivar para altitude/frio

Autor

Fábio Luiz Partelli
Engenheiro agrônomo, doutor em Produção Vegetal e diretor do Departamento de Pesquisa da PRPPG/UFES
partelli@yahoo.com.br

A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus de Morrinhos, obtiveram o primeiro registro de uma cultivar de Coffea canephora adaptada a altitudes elevadas e temperaturas mais baixas.

O registro foi realizado junto ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo denominada de Andina, mais uma contribuição para a cafeicultura, desta vez, para maiores altitudes/menores temperaturas. É uma cultivar de Coffea canephora Pierre ex A. Froehner (conilon ou robusta), composta por cinco genótipos/clones, tendo produtividade superior em condições de altitude.

Participaram do registro como melhoristas e coordenadores do trabalho os engenheiros agrônomos Fábio Luiz Partelli e Adelmo Golynski (professor do IF Goiano). O trabalho também teve a participação de outros profissionais/melhoristas, dentre eles Adésio Ferreira, Madlles Queiros Martins (UFES), Aldo Luiz Mauri (consultor), José Cochicho Ramalho (ULisboa) e Henrique Duarte Vieira (UENF). O registro foi realizado pelo Instituto de Inovação Tecnológica (INIT) da UFES.

Detalhes

Inicialmente os materiais foram selecionados e propagados vegetativamente por estaquia, e plantados em uma mesma lavoura, num “ensaio de competição”. O plantio foi composto por 28 genótipos (25 propagados por estacas e três por sementes), no município de Morrinhos, Goiás, a aproximadamente 850 metros de altitude.

A área experimental está localizada na latitude: 17° 49’30” S e longitude: 49° 12’01” W. A região é caracterizada por apresentar um déficit hídrico a partir do mês de abril até outubro, tem uma topografia plana e relevo ondulado, com temperatura média anual de 20°C, sendo que a temperatura mínima do ar varia de 10 a 20°C.

O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com quatro repetições, sendo cada repetição composta por cinco plantas. Foram realizadas podas para controle de número de ramos ortotrópicos, mantendo o padrão de 12.000 a 15.000 hastes por hectare.

Em todos os anos experimentais foram realizadas uma capina manual (trilhar no local de adubação), uma capina mecanizada e uma capina química. Não foram aplicados micronutrientes, inseticidas e fungicidas durante os anos de estudo.

A área experimental foi irrigada durante os anos referentes às colheitas de 2013 e 2014, porém, nas colheitas de 2015 e 2016 a lavoura experimental não foi irrigada. O espaçamento utilizado para o plantio foi de 3,5 m x 1 m, de maneira que cada planta ocupou 3,5 m2. Foram utilizados dados de produtividade correspondentes a quatro colheitas (Tabela 1).

Resistência e produtividade

Dentre todos os materiais avaliados no ensaio, considerando características como produtividade, vigor e resistência a pragas e doenças, foram selecionados cinco genótipos julgados superiores (A1, NV2, NV8, P1, e Verdim TA), para constituir a nova cultivar clonal, denominada Andina.

A média das quatro colheitas dos cinco genótipos foi de 51,3 sacas por hectare por ano. Na primeira colheita as plantas ainda estavam novas. Assim, ao considerar a média das três colheitas dos cinco genótipos, a produtividade alcança 59,29 sacas por hectare por ano.

A média de produtividade da cultivar pode ser considerada baixa, contudo, deve-se considerar a ausência de irrigação por dois anos e a não utilização de controle fitossanitário. Além disso, a média da cultivar alcançou o dobro da cultivar Vitória, nas mesmas condições de cultivo (Tabela 1).

Durante os anos de avaliação, foi verificada a boa adaptação dos genótipos selecionados às condições de cultivo, visto seu bom desempenho em crescimento e produção nas condições de 850 metros de altitude. Não foi verificado ataque severo das principais pragas e doenças, com as plantas mantendo-se vigorosas e com bom enfolhamento durante todo o ciclo.

Dessa forma, a nova cultivar apresenta características desejáveis, sobretudo, alta produtividade, inclusive quando comparado a genótipos registrados e de grande aceitação entre os cafeicultores (Tabela 1), podendo ser plantada em condições climáticas similares às que foram cultivadas (aproximadamente 850 metros de altitude).

Recomendações

Assim, a cultivar Andina é recomendada para os Estados com Latitude inferior a 22° sul e altitude inferior a 900 metros e que não tenham temperatura mínima do ar inferior a 8ºC por mais de 10 dias no ano.

Ressalta-se que este foi o primeiro trabalho de campo com o objetivo de selecionar genótipos de C. canephora adaptados às condições de altitude elevada.

Tabela 1. Produtividade média, considerando três e quatro colheitas.

Genótipos Prod. ano 1 Prod. ano 2 Prod. ano 3 Prod. ano 4 Prod. Média 4 colheitas Prod. Média 3 colheitas Época de Maturação
sac ha-1 sac ha-1 sacas ha-1 sacas ha-1 sacas ha-1 sacas ha-1
Verdim TA 13,77 43,59 99,14 72,13 57,16 71,62 Média
NV 2 45,05 49,29 100,9 38,97 58,56 63,06 Precoce
A1 44,77 83,32 61,21 34,57 55,97 59,70 Média
NV 8 22,78 66,01 77.81 26,09 48,17 56,63 Média
P1 10,47 78,15 40,29 17,85 36,69 45,43 Tardia
Média de Cultivar Andina 51,31 59,29  
Média da Cultivar Vitória* 19,59 22,22  

* Avaliou-se todos os genótipos da variedade “Vitória Incaper 8142”, no ensaio de competição para “efeito de comparação”.

O número de genótipos selecionados assegura um bom nível de fecundação cruzada. Apesar do registro de uma cultivar de cinco genótipos, a equipe de trabalho fomenta que o agricultor tenha a liberdade de plantar os clones na forma que achar conveniente, desde que com orientação técnica, visto que a espécie C. canephora é alógama, possuindo autoincompatibilidade gametofítica.

Não obrigatoriamente há necessidade do plantio dos cinco clones (variedade fechada) numa mesma lavoura em linha ou misturados. O agricultor, por exemplo, pode escolher um dos clones como principal e usar outros clones, da cultivar Andina e/ou outros clones, como cruzadores, intercalando suas linhas para garantir a fecundação plena da lavoura.

O avanço do programa de melhoramento/seleção de genótipos adaptados a altitudes elevadas/temperaturas mais baixas irá ocorrer com a introdução de novos clones ou plantas oriundas de sementes e o estudo do potencial destes para se desenvolver e produzir nestas condições.

“Queremos agradecer aos primeiros melhoristas, os agricultores que fazem a seleção inicial da grande maioria dos genótipos disponíveis e superiores. Portanto, mantivemos o nome dos clones da forma em que eles são conhecidos entre os agricultores. Coube a nós (Ufes e IF Goiano) realizar as avaliações no campo, comparando diversos genótipois em altitude. Nós não desenvolvemos os genótipos estudados, mas efetuamos uma contribuição científica na caracterização e definição de quais são os melhores clones, entre os estudados, quando cultivados a 850 metros de altitude, acarretando o registro da primeira cultivar para regiões de altitude do Brasil”.

Origens dos clones

Na grande maioria das vezes, os clones promissores e registrados são “descobertos” pelos agricultores. Portanto, descrevemos informações sobre os genótipos que compõem a nova cultivar:

A1: Genótipo propagado/difundido, inicialmente, por Ivan Milanez e Hélio Dadalto. Também conhecido por H e H1.

NV2 e NV8: Genótipos descobertos e difundidos por Edson Vettoraci, também conhecido como Neno Vettoraci, justificando-se a nomenclatura dos genótipos “NV”. Plantas superiores encontradas numa lavoura de sementes na propriedade de Edson, no município de Marilândia (ES).

P1: Genótipo desenvolvido/selecionado pelo produtor Paulo Benacchi, no município de Marilândia.

Verdim TA: Genótipo encontrado, originalmente, em São Gabriel da Palha (ES), na propriedade do Senhor Mário Andréa. Foi descoberto e difundido pelos irmãos João Darly Andréa e Mário Tadeu Andréa, que também é conhecido como Tadeu André, justificando-se o nome do clone de Verdim TA (pelas características da planta e pelas iniciais do nome em que Tadeu é conhecido).


BOX

Mais pesquisas

Outros trabalhos de pesquisa nesta área de conhecimento estão sendo conduzidos na UFES, pelo Laboratório de Pesquisas Cafeeiras:

– Ensaio de competição com 42 genótipos promissores em Nova Venécia (ES) e Itabela/BA;

– Avaliação inicial de 20 genótipos tolerantes ao défice hídrico em Vila Valério (ES);

– Continuidade de avaliações de genótipos de Conilon em altitude em Morrinhos (GO);

– Atuação efetiva em parcerias internacionais na área de fisiologia, bioquímica e molecular em Coffea sp em condições de alta concentração de CO2, alta temperatura e défice hídrico; e

– Introdução, orientação técnica e pesquisa em Coffea em Moçambique, numa cooperação trilateral entre Brasil (UFES e Ministério das Relações Exteriores), Portugal (Lisboa e Camões) e Moçambique (Parque Nacional da Gorongosa e Ministério da Terra).

Essas ações permitem a realização de pesquisa aplicada e científica. Além disso, ajudam significativamente na formação de recursos humanos, por meio de visitas às áreas experimentais, dia de campo, iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

As ações/projetos mencionados estão ligados aos Programas de Pós-Graduação em Agricultura Tropical (PPGAT) e Genética e Melhoramento (PPGGM), ambos da UFES. Ocorre a participação de diversos agricultores e parceiros institucionais como: Universidade de Lisboa, Instituto Federal Goiâno, Instituto Federal do Espírito Santo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do Norte Fluminense e outras. Também registramos o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal (FCT).

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