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Hibisco atrai atenção de produtores

Autores

Anna Carolina Abreu Francisco e Silva
Graduanda em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
annacabreufs@gmail.com
Letícia Silva Pereira Basílio
Doutoranda em Horticultura/Agronomia – UNESP
leticia.ufla@hotmail.com
Marla Silvia Diamante
Doutora em Agronomia/Horticultura – Unesp Botucatu
marlasdiamante@gmail.com
Crédito: Shutterstock

Hibiscos são flores popularmente conhecidas e apreciadas em todo mundo. A planta pertence à família das malváceas, mesma do quiabo, compreendendo cerca de 200 espécies. Algumas são arbustos, outras pequenas árvores e outras são herbáceas.

São normalmente originárias das zonas temperadas, subtropicais e tropicais do planeta, sendo inclusive considerada a flor oficial da Malásia e do Havaí. São encontradas em estampas, objetos e admiradas por sua diversidade de cores e perfumes.

A maior parte das espécies são utilizadas para fins ornamentais, mas essas flores possuem também propriedades medicinais, além de poderem ser utilizadas nas indústrias têxtil e alimentícia.

Oportunidades

Enquanto o Brasil enfrenta uma taxa de desemprego em torno de 12% – equivalente a 12,8 milhões de pessoas –, a floricultura vai na contramão desses dados. Em 2019, foram criados 209 mil postos de trabalho no setor, sendo que 54% dessas vagas são no varejo, 39% na produção, 4% no atacado e 3% em outras funções.

Dados expostos na maior feira de floricultura brasileira, a Expoflora, demonstraram uma tendência de crescimento de 4% para espécies para jardinagem. O mesmo ocorre no mercado de fitoterápicos. Com uma taxa de crescimento anual composta de 7,6% durante 2012 e 2016, o mercado mundial de medicamentos à base de plantas deverá ser avaliado em pouco mais de US$ 130 bilhões.

Dentre as espécies, o ‘mimo-de-vênus’ (Hibiscus rosa-sinensis) é a mais difundida e uma das flores mais cultivadas em jardins brasileiros. Contudo, o interesse no plantio de hibisco como fonte de renda se deve principalmente à espécie Hibiscus sabdariffa.

Conhecida popularmente como caruru-azedo, azedinha, quiabo-azedo, quiabo-róseo, quiabo-roxo, rosélia, groselha e vinagreira, o consumo deste hibisco tem sido crescente devido às suas propriedades antioxidantes, o que estimula produtores do País a investirem nesta cultura, que também pode ser utilizada como ornamental.

Importância econômica

No Brasil, do total de R$ 1.753.860,00 arrecadados em vendas de flores e/ou ornamentais, apenas R$ 15.891,00 são provenientes de flores e folhagens medicinais. Sendo assim, não existem dados que quantifiquem a área plantada e produção anual do hibisco.

No início dos anos 2000,  todo o hibisco consumido era produzido na África e Ásia e importado via Alemanha para o Brasil. A maioria das regiões produtoras começaram por curiosidade dos agricultores em produzi-los para consumo próprio e se estenderam para plantio comercial à medida que o mercado foi se abrindo favoravelmente para o consumo do  hibisco (Hibiscus sabdariffa) na mesa dos brasileiros.

Consumo

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) considera que o hibisco pode ser consumido como chá, preparado por meio de infusão ou decocção. Já as sementes do fruto do Hibiscus sabdariffa L. surgem como subproduto e, ao serem trituradas, são utilizadas na alimentação humana como fonte expressiva de proteína e, se torradas, podem ser substitutas do café.

As raízes são utilizadas em infusão em alguns países como a Filipinas. As folhas são ricas em vitaminas A e B1, sais minerais e aminoácidos, podendo ser consumidas cruas em saladas ou se tornar, assim como o caule, um ótimo ingrediente para o preparo de cozidos, sopas e de outros pratos.

Para cada 100g de folhas, são encontrados 3,3 g de proteína vegetal, 214 mg de fósforo, 4,8 mg de ferro e 54 mg de vitamina C. Na região Nordeste do Brasil, principalmente no Estado do Maranhão, as folhas do hibisco, conhecidas regionalmente como “vinagreira ou azedinha”,  possuem elevada importância cultural, pois são utilizadas no preparo de diversos pratos típicos da culinária, especialmente o cuxá.

Embora todas as partes da planta sejam comestíveis, o interesse econômico está nos cálices, ricos em compostos antioxidantes como as antocianinas e vitamina C, utilizados para a produção de bebidas, geleias, conservas e desidratados.

Produção

De forma geral, cada planta de hibisco produz cerca de 20 kg de cálice. Numa propriedade de colônia japonesa de 0,2 ha, no interior de São Paulo, a produtividade anual gira em torno de 1 tonelada. No município de Nova Petrópolis, Sul do Brasil, 300 pés foram plantados com a expectativa de colher seis mil quilos de hibisco.

Por ser uma planta de ciclo curto, a depender da época de plantio, na primeira colheita já é possível um retorno financeiro considerável. Pode-se comercializar o hibisco in natura ou desidratado. 

Em números

A faixa de preço vai de R$ 15,00 o quilo fresco a R$ 25,00 o quilo seco, quando a comercialização é feita pelo próprio produtor. Em comércios de franquia voltados para alimentação natural, o quilo do hibisco seco pode chegar a R$ 40,00.

O hibisco, no geral, pode ser propagado assexuadamente, por meio de alporquia e estaquia, mas para a espécie Hibiscus sabdariffa é recomendada a propagação sexuada, pois a estaquia resulta em plantas mais baixas e com menor rendimento de cálice.

Para implementação em campo, o lote com 1.000 sementes pode ser adquirido por R$ 59,00. Após as primeiras colheitas, é possível propagar utilizando material próprio, uma vez que cada flor pode gerar cerca de 30 sementes.

As flores se abrem no início do dia e fecham em horários com alto índice de insolação. A polinização é realizada por abelhas e/ou mamangavas, podendo ser administradas colmeias nas proximidades.

Fique atento

O cultivo do hibisco é indicado em solos que apresentem pH entre 4,5 e 8,0, fértil, enriquecido com matéria orgânica e adubações periódicas. A cultura é favorecida quando implementada em áreas de solos profundos, bem drenados e sem compactação.

A nutrição das plantas é afetada pelos nutrientes disponíveis no solo e pela quantidade de adubo adicionado ao solo. O nitrogênio é um dos nutrientes que pode limitar a produção, sendo assim, a adubação nitrogenada apresenta grande importância para que se mantenha níveis ideais de fertilidade do solo.

Para que se obtenha resultados satisfatórios de produção, é necessário que se estabeleça um manejo adequado com níveis de fertilidade do solo que sejam favoráveis ao desenvolvimento da planta, incluindo adubações nitrogenadas complementares. Um manejo de fertilidade adequado reduz os custos e proporciona bons resultados produtivos.

Fitossanidade

O Hibiscus sabdariffa é uma espécie muito suscetível ao ataque de patógenos. No Brasil foram identificadas as doenças mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassicola, e a seca da haste, causada pelo fungo Botrytis cinerea.

Plantas medicinais que sofrem ataque de fitopatógenos têm seu crescimento, produtividade e qualidade reduzidos, alterando a produção de compostos secundários. De acordo com a exigência climática da espécie e a sua suscetibilidade a doenças, a escolha da época de cultivo deve ser levada em consideração, pois afeta diretamente o desenvolvimento da planta, produtividade e a intensidade de ocorrência de doenças, que está relacionada ao hospedeiro, presença de patógenos e um ambiente favorável para o desenvolvimento do patógeno.

No caso do hibisco, o plantio deve ser feito no início da estação chuvosa, pois cultivos tardios ou antecipados apresentam influência negativa ou positiva no desenvolvimento das doenças.

O plantio na época indicada apresenta bons resultados na incidência da seca da haste, que tem relação direta com o aumento da temperatura e diminuição da doença. Fungicidas comerciais têm sido recomendado para o controle de doenças, porém, o mercado de plantas medicinais não aceita o uso de agrotóxicos no cultivo desta espécie, exigindo a busca de medidas alternativas para o controle de doenças.

Alternativas

O controle direto do patógeno e a tolerância e/ou resistência ao hospedeiro têm sido muito utilizados. Para o controle direto do patógeno tem se optado pelo uso de produtos de origem natural, principalmente óleos essenciais, que possuem composto com atividades antifúngicas, antibacterianas e inseticidas. A calda bordalesa também é muito utilizada na agricultura orgânica, combatendo a atividade fúngica.

O espaçamento utilizado para o plantio pode influenciar o desenvolvimento da área foliar e a produtividade de flores e folhas. Assim, quanto maior o espaçamento utilizado no plantio, maior será a área foliar por planta. Em regiões mais frias, como o Sul do Brasil, é indicado o espaçamento de 1 m x 1 m entrelinhas e 1 m x 1 m entre plantas, permitindo o adensamento de até 1 m x 0,7 m entre plantas.

Por ser uma espécie pouco exigente, seu plantio pode ser feito por todo o Brasil, principalmente nas regiões de clima tropical e subtropical (18 e 35°C), contudo, recomenda-se evitar temperaturas muito baixas.

É recomendado o plantio após as estações frias, variando entre agosto e setembro em clima subtropical e antes de dezembro, em clima tropical. Recomenda-se, ainda, a utilização de mais de um material genético para garantir o escalonamento e produção durante todo o ano.

As sementes devem ser primeiramente cultivadas em sementeira e passadas para o campo quando as mudas atingirem de 8,0 a 10 cm.

Tratos culturais

Em relação aos tratos culturais, é importante manter a cultura livre de plantas invasoras, especialmente nos primeiros meses, irrigando-se conforme a necessidade e evitando umidade excessiva no pé da planta.

O manejo de poda é recomendado antes de a planta entrar no período de florescimento, a fim de estimular a produção nas vias laterais da planta.

Colheita

A colheita das folhas do hibisco pode ser iniciada entre 60 e 90 dias. Normalmente são realizadas colheitas sucessivas, duas a três vezes por semana. Em um plantio de menor escala é possível colher as folhas ou as pontas de ramos quando necessário.

Em cultivo de grande escala, os ramos são cortados quando atingem entre 40 a 50 cm de comprimento. Após a colheita a planta leva em torno de um mês para se recuperar, possibilitando repetir a operação.

Quando o objetivo for os cálices das flores, não são realizadas colheitas de folhas ou ramos. Os cálices são colhidos aproximadamente três semanas após a abertura da flor, de forma manual, utilizando-se tesouras de poda. Os cálices são cortados um a um pelo pedúnculo e armazenados em recipientes adequados. Deve-se evitar dias chuvosos na colheita, para que o processo de secagem não seja dificultado.


Consumo

Por suas propriedades e sabor refrescante, é recomendado o consumo de duas a quatro xícaras de chá de hibisco por dia. O excesso deve ser evitado por ser extremamente diurético, o que pode sobrecarregar os rins e incentivar câimbras.

Além disso, o hibisco possui cafeína, o que pode acarretar dificuldades no sono e problemas hormonais, se consumido excessivamente. Versátil, belo e nutritivo, o hibisco traz alegria aos olhos e ao bolso dos produtores que nele investem.


Carinho e atençãoCuidados fundamentais na produção de hibiscos

O embrião da Cooperanatural, sediada em Picada Café (RS), foi a Associação Vida Natural, nascida em agosto de 2001, a partir do desejo de 11 produtores rurais orgânicos de pequeno porte da Serra Gaúcha de construir uma organização que viesse a colaborar na promoção da agricultura familiar e ecológica da região.

“Ela veio para promover e fomentar uma agricultura sustentável tanto do ponto de vista ecológico como socioeconômico, procurando fixar o homem no campo por meio de uma remuneração justa e digna pelo seu trabalho. Ao mesmo tempo em que vai preservando o meio ambiente para as futuras gerações, leva saúde para as pessoas que se alimentam desses produtos. Em suma, uma associação para promover a qualidade de vida”, resume Ricardo Edson Fritfch, presidente da Coopernatural.

Em 21 de setembro de 2004 a Associação Vida Natural se transformou na Cooperativa Vida Natural, Coopernatural. Atualmente, conta com 27 sócios que produzem alimentos e bebidas 100% orgânicas.

O hibisco

O hibisco entrou no portfólio da Coopernatural em 0,5 hectare, para a produção de bebidas e chás. Atualmente, a Cooperanatural produz uma média de 200 kg/ano de hibisco da espécie Hibiscus sabdariffa, conhecido também por azedinha, o que gera uma margem de lucro médio de 20%.

 “Na região só conseguimos produzir essa planta na primavera, pois nosso inverno tem geadas, que não são toleradas por ela, assim como o frio e a seca. Trabalhamos com as flores de hibisco desidratadas, sendo que cada uma tem um pedúnculo no meio com diversas pétalas carnosas, as quais são selecionadas manualmente, enquanto o pedúnculo serve para novas semeaduras”, relata Edson.

A cooperativa conta com três equipamentos desidratadores para o processamento de 5,0 kg cada, os quais funcionam à energia solar, mas têm que ser acompanhados de perto pelo operador, com muito carinho e cuidado, pois se ficar muita umidade, as pétalas mofam, e se passar do ponto, ficam muito secas e quebram. O processo todo pode durar uma semana.

Depois de tudo, as pétalas são comercializadas em sachês de 15 gramas para lojas de produtos naturais e orgânicos.

Do plantio à colheita

As sementes de hibisco são semeadas em potes específicos para posterior transplante para a lavoura. Edson conta que a cultura, por ser rústica, não sofre muito com o ataque de pragas e doenças.

A partir de 75 dias já aparecem as primeiras flores, que caem dentro de cinco a seis dias e dão lugar às pétalas carnosas, que são utilizadas para o chá vermelho, que tem tido muita demanda ultimamente.

Edson ressalta que a colheita é a parte mais trabalhosa, pois é 100% manual, feita uma a uma e realizada no tempo certo, pois a chuva ou sol muito forte podem apodrecer as pétalas carnosas.

Toda a produção conta com certificação orgânica, não recebendo nenhum tipo de insumo químico. “Optamos por produzir ‘com’ e não ‘contra’ a natureza, e por isso trabalhamos de forma limpa e saudável. A certificadora acompanha todo o processo, e só depois de todas as auditorias recebemos o selo orgânico, que é a garantia para o consumidor de que o produto cumpriu por todas as fases exigidas para ser orgânico”, relata Edson.

Comercialização

Por já ser um produto muito procurado, levar a opção do hibisco na versão orgânica é o diferencial da Coopernatural. “Muitas famílias da cooperativa se sustentam com a produção orgânica, por ser um produto que o mercado realmente absorve, não sofrendo oscilações de preço ou demanda, com bom potencial de lucro”, finaliza o especialista.

No Brasil, do total de R$ 1.753.860,00 arrecadados em vendas de flores e/ou ornamentais, apenas R$ 15.891,00 são provenientes de flores e folhagens medicinais

Por suas propriedades e sabor refrescante, é recomendado o consumo de duas a quatro xícaras de chá de hibisco por dia

Cooperanatural produz uma média de 200 kg/ano de hibisco da espécie Hibiscus sabdariffa, conhecido também por azedinha, o que gera uma margem de lucro médio de 20%.

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