Autores
Leandro Bianchi
leandro_bianchii@hotmail.com
Samara Moreira Perissato
samaraperissato@gmail.com
Roque de Carvalho Dias
roquediasagro@gmail.com
Vitor Muller Anunciato
vitor.muller@gmail.com
Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Agronomia – UNESP/FCA
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br
Em 2015, o pesquisador Robinson Osipe publicou o e-book “Aspectos biológicos e econômicos do uso dos herbicidas à base de 2,4-D no Brasil”, disponível gratuitamente on-line, levantando a área total com aplicação de 2,4-D para as culturas de soja, café, cana-de-açúcar, milho, trigo, pastagem e arroz no Brasil, cuja área atingia mais de 30 milhões de hectares, representando um custo total de aproximadamente R$ 350 milhões.
Com base em revisões de artigos científicos, o autor realizou um levantamento de alguns herbicidas que poderiam ser eficazes na substituição do 2,4-D, e observou um aumento de custo maior que três vezes quando comparado ao uso de 2,4-D. Para culturas como soja e milho, esse aumento poderia ser de 418 e 496%, respectivamente, e para cana-de-açúcar isso poderia alcançar 623%.
Já o manejo das plantas daninhas visando o plantio direto da cultura de trigo e o controle em pós-emergência na cultura do arroz teriam um acréscimo de custo da ordem de 550 e 557%. Para o café, apesar do custo ser menor que outras culturas, com 386%, o principal problema seria o controle da trapoeraba (Commelina benghalensis) tendo em vista que os demais produtos no mercado são pouco eficazes.
Culturas mais prejudicadas
O 2,4-D, por ser um herbicida que atua na mimetização de auxina na planta, é muito utilizado nas culturas gramíneas para controle de plantas daninhas de folhas largas, eudicotiledôneas, e indispensável na dessecação de pré-plantio de soja.
Contudo, todas as culturas descritas na recomendação da bula de 2,4-D seriam afetadas seriamente se houvesse a proibição deste herbicida. As culturas de grande expressão econômica teriam prejuízos ainda maiores, como cana-de-açúcar, arroz, milho, trigo, café e, principalmente, soja, tendo em vista que esta cultura tem a maior área de utilização deste herbicida.
Caos na agricultura brasileira
A proibição do uso do 2,4-D nas culturas em que o herbicida é registrado levaria a uma substituição por outros produtos, o que traria aumento de custo para a agricultura brasileira de mais de 506% para o manejo eficiente de plantas daninhas nessas culturas.
O grande impacto seria o aumento dos preços dos alimentos, afetando diretamente a população. Além de aumentar o custo de produção, essas culturas perderiam um produto que não apresenta riscos para a saúde humana e para o ambiente. Considerado o herbicida de maiores análises feitas no mundo, não obteve nenhum estudo que evidencie carcinogenicidade, é levemente tóxico por via oral e dérmica e excretada após administração oral.
Com a retirada da molécula do mercado haveria também menor opção ao produtor, dificultando a escolha na hora de aplicação e possivelmente prejudicando o manejo sustentável baseado nas escolhas de diferentes ingredientes ativos e mecanismos de ação, podendo até favorecer o desenvolvimento de plantas daninhas resistentes aos herbicidas presentes no mercado.
Alternativas
O herbicida 2,4-D pode ser aplicado na dessecação em pré-semeadura, muitas vezes combinado a um herbicida de ação total, no caso, por exemplo, da cultura da soja, na pós-emergência e em alguns casos na operação denominada repasse, que normalmente é complementar à aplicação de herbicidas residuais.
Existem, no mercado, algumas alternativas ao 2,4-D na dessecação. Contudo, já há relatos de plantas daninhas resistentes, por exemplo, para um dos principais herbicidas aplicados nessa modalidade, o Paraquat. Constataram-se biótipos resistentes para essa molécula para a espécie popularmente conhecida como buva (Conyza canadensis, C. sumatrensis e C. bonariensis), comumente encontrada em lavouras se soja e milho.
Outras opções seriam a utilização de herbicidas como o carfentrazone, chlorimuron, flumioxazin, lactofen, saflufenacil, entre outros, entretanto, deve-se ressaltar que a retirada da utilização do 2,4-D implica na utilização de herbicidas tecnicamente mais complexos, o que aumenta as probabilidades de erros.
Em relação aos custos, estes podem ser variáveis e dependentes de cada região, porém, estima-se que para a soja o custo de controle poderia aumentar no mínimo em 58%, 242% para cana-de-açúcar e 95% para o milho, por exemplo.
O outro lado da moeda
Muitos dos herbicidas citados como alternativas ao 2,4-D apresentam uma grande vantagem que não é presente no 2,4-D, que é o efeito residual no solo, ou seja, continuam apresentando efeito herbicida após a aplicação, podendo, assim, economizar em futuras aplicações.
Outra vantagem da utilização de herbicidas alternativos e que não é muito explorada é a quebra do “monopólio” de algumas plantas daninhas no campo, uma vez que as variedades de espécies de plantas daninhas que existem em uma única lavoura são muito grandes e algumas delas naturalmente acabam se adaptando ao manejo aplicado.
Essas espécies acabam sendo as mais presentes na área e, por consequência, também vão deixar mais descendentes e em safras futuras podem ser um problema cada vez maior. A rotação dos herbicidas utilizados pode quebrar esse ciclo, pois a planta que está mais adaptada ao herbicida “A” pode ser mais afetada pelo herbicida “B” – evitando a seleção de espécies mais adaptadas, esse mesmo mecanismo também evita a seleção de espécies resistentes.
Palavra final
Podemos concluir que o herbicida 2,4-D é uma ferramenta indispensável, barata e de uso seguro, e como toda ferramenta é lastimável a sua perda, inclusive trazendo prejuízos econômicos significativos.
A proibição não deve ser a via de mitigação dos possíveis danos que esse herbicida pode trazer – existem maneiras de regulamentação que podem substituir a proibição dessa ferramenta e que evitem os problemas decorrentes do uso do 2,4D.