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Nematoides devastam lavouras de soja

 

Andressa Cristina Zamboni Machado

Nematologista e pesquisadora do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) na Área de Proteção de Plantas

andressa_machado@iapar.br

 

Foto 01Abrir matéria - Crédito Miriam LinsNos últimos anos, os fitonematoides tornaram-se motivo de grande preocupação para a agricultura brasileira, em razão de sua ampla distribuição geográfica, pois ocorrem em praticamente todas as regiões de importância agrícola no país, e principalmente, pela grande capacidade de causar perdas de produtividade em culturas como soja, algodão, feijão, café, entre outras.

As principais espécies que ocorrem no país, causando expressivas perdas econômicas, são os nematoides das galhas, Meloidogyne javanica (soja e milho) e M. incognita (soja e milho), o nematoide das lesões, Pratylenchus brachyurus (soja, algodão e milho), o nematoide de cisto da soja, Heterodera glycines (soja) e o nematoide reniforme, Rotylenchulus reniformis (soja e algodão). Como pode ser observado, os mais danosos nematoides para as condições brasileiras têm uma cultura em comum: a soja.

Prejuízos

Os nematoides constituem um dos principais problemas para a cultura da soja. Perdas de produção induzidas por esses patógenos variam de 10 a 100%. Por exemplo, o cultivo da soja em área altamente infestada por M. incognita resulta em mais de 55% de redução na produção.

Entretanto, tais perdas podem ser muito maiores, dependendo das condições edafoclimáticas, da variedade utilizada e da espécie de nematoide. Em algumas regiões do Brasil, como no Centro-Oeste, já foram relatadas perdas de até 80% da produtividade de soja em função do ataque de uma única espécie de nematoide, P. brachyurus, um dos principais problemas da cultura na atualidade.

Andressa Cristina Zamboni Machado, pesquisadora do IAPAR - Crédito Arquivo pessoal
Andressa Cristina Zamboni Machado, pesquisadora do IAPAR – Crédito Arquivo pessoal

Ainda no Brasil central, em condições de populações muito elevadas do nematoide de cisto no solo, especialmente se associadas com excesso de calagem, as perdas podem chegar a 100%.

Mesmo em lavouras de soja sem sintomas aparentes de danos, como acontece nos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, a produtividade de cultivares suscetíveis tem sido, em média, 400 kg/ha menor que a das variedades resistentes.

Como reconhecer os nematoides

O reconhecimento dessas espécies de nematoides a campo se faz por meio da observação do sistema radicular, que pode ou não apresentar sintomas típicos da presença de tais organismos. Os nematoides de galhas, como o próprio nome diz, formam galhas no sistema radicular, sintoma bastante típico das meloidoginoses nas culturas em que ocorrem.

Por outro lado, P. brachyurus causa extensivas lesões necróticas nas raízes. Entretanto, esse tipo de sintoma não é característico do nematoide, podendo ser ocasionado por outros patógenos da cultura, o que dificulta o diagnóstico da espécie.

Controle

Uma vez identificada a espécie, o controle dos nematoides em culturas de grande extensão geralmente é bastante difícil, por ser oneroso e de eficiência variável. O mais importante é prevenir o estabelecimento desses patógenos em locais onde ainda não ocorreram, pois sua erradicação é praticamente impossível.

Infelizmente, grandes extensões no Brasil já estão infestadas por nematoides, sendo necessária a adoção de medidas para diminuir sua população e permitir o cultivo com menores perdas para o produtor.

Galhas radiculares causadas por Meloidogyne javanica em soja - Crédito Andressa Cristina
Galhas radiculares causadas por Meloidogyne javanica em soja – Crédito Andressa Cristina

Como principais opções para o manejo de nematoides, há a rotação de culturas com plantas não hospedeiras do nematoide, a utilização de nematicidas, seja no sulco de plantio ou via tratamento de sementes, e o uso de cultivares resistentes.

A utilização de nematicidas é uma prática de eficiência variável, uma vez que o adequado controle exercido pelo produto químico é dependente de vários fatores, como a granulometria do solo, o nível de umidade na lavoura, a época de aplicação, entre outros.

Aplicados da maneira tradicional, ou seja, via sulco de plantio, são altamente tóxicos ao meio ambiente e ao aplicador. Visando contornar o impacto ambiental causado pelos nematicidas (sem abrir mão de seu benefício no controle de nematoides), o tratamento de sementes, por aliar essas duas características, além da facilidade de aplicação, surge como opção de manejo desses patógenos em culturas como soja, milho e algodoeiro.

Portanto, o tratamento de sementes com nematicidas tem crescido em importância, seja pela eficiência, pela economia ou pelo pequeno impacto ambiental.

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