Autores
Raphael Mereb Negrisoli – r.negrisoli@unesp.br
Roque de Carvalho Dias – roquediasagro@gmail.com
Matheus Mereb Negrisoli – matheusmnegrisoli@gmail.com
Vitor Muller Anunciato – vitor.muller@gmail.com
Leandro Bianchi – leandro_bianchii@hotmail.com
Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Agronomia – UNESP/FCA
Diego Munhoz Gomes – Graduando em Engenharia Florestal – UNESP/FCA diegomgomes77@gmail.com
A tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários é uma das grandes responsáveis pelos aumentos na produtividade, assim como na sustentabilidade das aplicações. Há diversos fatores a se analisar dentro da tecnologia de aplicação, como a característica do produto fitossanitário, equipamento pulverizador, alvo biológico e efeitos climáticos. Dentre esses fatores, os bicos de pulverização são de extrema importância e que, muitas vezes, são esquecidos ou mal utilizados.
O bico de pulverização refere-se ao conjunto de componentes que auxiliam significativamente em uma aplicação correta. De modo geral, o bico de pulverização compreende as seguintes partes: corpo do bico, anel de vedação, filtro, ponta de pulverização e a capa protetora.
Cada componente do bico exerce uma função importante. Hoje em dia há variações quanto ao número de pontas, material de fabricação, uso de válvulas solenoides, sensores, entre outros. O elemento filtrante (filtro) e a ponta são os dois componentes que normalmente merecem mais atenção no quesito técnico, podendo variar seu uso quanto ao tipo de aplicação, produto fitossanitário, cultura e até mesmo as condições climáticas.
O bico de pulverização exerce função fundamental quanto à eficiência de aplicação e sustentabilidade econômica e ambiental: o agricultor terá maior garantia de que o produto vai atingir o alvo desejado de forma correta, com a quantidade mínima de produto necessária, sem desperdícios e evitando atingir alvos não desejáveis.
Manejo de aplicação na cafeicultura
Como a maioria das grandes culturas, a cafeicultura é altamente dependente do uso de produtos fitossanitários, sendo a sexta cultura com maior consumo desses produtos.
Um dos grandes responsáveis pela necessidade do uso de produtos fitossanitários são: bicho-mineiro, cigarras, brocas do fruto, ferrugem, cercosporiose, ácaros e plantas daninhas. Com exceção das aplicações de produtos granulados na forma sólida, a maioria das aplicações é realizada por meio de turbo pulverizadores e barras hidráulicas.
As aplicações por meio das barras hidráulicas são mais utilizadas para aplicações de herbicidas, enquanto os turbo pulverizadores são utilizados para aplicações de inseticidas, acaricidas, fungicidas e fertilizantes.
Geralmente, as aplicações de herbicida utilizam pontas que irão produzir gotas grossas e muito grossas, com pontas com indução de ar e pressões de trabalho menores. Por outro lado, os turbo pulverizadores utilizam pressão de trabalho muito maior e com pontas que vão gerar gotas mais finas, como as pontas de cone vazio.
Atualmente, as aeronaves e vant’s estão ganhando espaço, principalmente considerando a topografia de difícil manejo em que parte dos cafezais estão localizados. Independente do sistema utilizada para aplicação, o tamanho de gotas deve ser corretamente planejado e selecionado para cada tipo de aplicação.
Manejo
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Primeiramente, o aplicador deve manter uma rotina de inspeção e limpeza dos bicos de aplicação, bem como de todo o pulverizador. Com isso, é importante checar o estado de manutenção dos corpos do bico, capas e anéis de vedação.
Da mesma forma, é necessário realizar limpezas do sistema de pulverização rotineiramente, especialmente após o uso de produtos corrosivos e que tendem a entupir, como produtos com formulação de difícil solubilização ou com risco de incompatibilidade em mistura em tanque.
O filtro é responsável pelo controle das partículas que podem impedir o fluxo da aplicação, como por exemplo, sujeiras na barra ou na água utilizada. Os filtros são classificados pelos mesh, ou seja, pelo tamanho das malhas. Quanto maior o mesh, maior a filtragem.
Diversos modelos de filtros estão disponíveis no mercado, sendo os mais comuns os filtros de 50, 80 e 100 mesh. O aplicador deve sempre observar as recomendações do filtro a ser utilizado, variando conforme o modelo da ponta de pulverização. Em seguida, o aplicador deve considerar o tipo de aplicação que será realizada, como por exemplo, para utilização de fungicidas, herbicidas, inseticidas, fertilizantes etc.
Além disso, deve-se considerar o tipo de pulverizador: aplicação com barra hidráulica, turbo pulverizador ou aeronaves. Para cada produto a ser aplicado haverá uma recomendação quanto ao tamanho de gotas, também conhecido como espectro de gotas.
Condições específicas
Para aplicações de herbicidas em pré-emergência ou produtos que são sistêmicos na planta, recomenda-se gotas de diâmetro média a grossas (> 200 µm de diâmetro). Nesse caso, é possível manter a eficiência do produto mesmo com menor cobertura de aplicação devido ao maior tamanho de gotas, reduzindo a dispersão das gotas no alvo. Isso porque produtos sistêmicos vão se movimentar pela planta e realizar sua função.
Além disso, para herbicidas recomenda-se utilizar pontas com tecnologia para diminuir o risco de deriva. Nesses casos, o produtor pode utilizar pontas de pulverização com tecnologia de indução de ar, normalmente de jato plano.
Quando se trata de produtos de contato, em que não há a movimentação do produto pela planta e/ou há a necessidade da maior cobertura possível do alvo biológico, recomenda-se o uso de gotas finas a médias (de 150 a 300 μm de diâmetro). Com isso, gotas menores irão proporcionar maior cobertura e penetração da aplicação no dossel do cafeeiro.
Outro ponto importantíssimo é evitar ao máximo gotas menores que 150 µm de diâmetro que, por serem tão pequenas, são altamente propensas à deriva. Para produzir gotas finas a médias, normalmente usa-se pontas com jato cônico (vazio ou cheio) e com pressões de trabalho mais elevadas.
De ponta a ponta
O aplicador deve se atentar à recomendação de cada ponta e cada aplicação. Nos catálogos de cada ponta de pulverização devem constar informações quanto ao tamanho de gotas e para que tipo de aplicação é recomendada. É essencial a realização da calibração dos pulverizadores, independentemente do tipo utilizado.
Além disso, é preciso utilizar a velocidade e faixa de aplicação indicado para cada sistema. Quando o produtor negligencia as recomendações de cada ponta, como alterar a pressão, altura de barra inadequada, efeitos ambientais, ou até mesmo escolhe o bico de pulverização errado, poderá diminuir significativamente a eficiência da aplicação, como também aumentar o risco de deriva. Portanto, haverá perdas financeiras para o produtor.
Em campo
A escolha correta do tamanho de gota e da ponta de pulverização a ser utilizada pode trazer resultados significativos para o produtor. Levando em consideração que as pragas do cafeeiro podem reduzir drasticamente a produtividade, é evidente a necessidade de aplicação eficiente e um bom controle.
Segundo a Embrapa, estima-se que altas incidências de bicho-mineiro ou broca-do-café podem acarretar reduções de mais de 50% à produtividade do cafeeiro. Outro estudo realizado por Gitirana Neto e Cunha (2016), avaliando a eficiência das pontas no controle do bicho-mineiro, observaram um aumento de quase 20% no controle da praga utilizando ponta de jato cônico vazio, demonstrando a importância da escolha da tecnologia correta no resultado final do controle das pragas.
Há diversos relatos que apresentam os efeitos das pontas de pulverização na eficiência de controle e produtividade do cafeeiro. Scudeler e colaboradores (2004) constataram diferença na cobertura da pulverização do cafeeiro quanto à ponta utilizada.
A utilização de pontas de jato cônico em turbo pulverizadores promoveu maior penetração no dossel, produzindo gotas mais finas e maior cobertura do alvo. Similarmente, Fernandes e colaboradores (2010) observaram maior cobertura de pontas de jato cônico (gotas médias a finas), podendo gerar maior controle do ácaro da mancha anular no cafeeiro.
Ademais, autores relatam também o uso de indução de ar juntamente com jato cônico vazio, resultando em aumento de cobertura do dossel (Da Silva, 2013). Por outro lado, para herbicidas há diversos pesquisadores que demonstram a vantagem de se utilizar pontas que produzam gotas mais grossas e com indução de ar, diminuindo os riscos de deriva, especialmente quando utilizados herbicidas não-seletivos para o cafeeiro.
Erros
Entre os erros mais frequentes, podemos citar:
ð Uso de pressão de trabalho inadequado;
ð Falta de calibração do pulverizador;
ð Uso negligenciado de pontas (diferentes pontas e filtros);
ð Falta de manutenção do pulverizador e bicos de pulverização;
ð Taxa de aplicação inadequada ao alvo da aplicação e estádio de desenvolvimento;
ð Distância do alvo do equipamento aplicador e do alvo da aplicação incorretos.
Para não incorrer nesses erros, o aplicador deve se assegurar de que todos os equipamentos estão calibrados para a aplicação, como utilizar a pressão indicada para a ponta, taxa de aplicação, altura de barra ou distância do alvo e velocidade de aplicação.
Com isso, certificar que todas as pontas e filtros do pulverizador estejam de acordo com a aplicação e sejam iguais. A maioria dos erros pode ser evitada com uma rotina de manutenção e limpeza dos equipamentos, além da utilização de materiais de qualidade.
É recomendado ter uma boa preparação e treinamento do aplicador, diminuindo os riscos de erro e, por consequência, aumentando a eficiência das aplicações.
Vale a pena?
O custo de cada ponta pode variar de R$ 15,00 até valores superiores a R$ 60,00, conforme a qualidade do material, tipo de ponta e fabricante. Pontas com qualidade superior, como as pontas feitas de cerâmica, são mais caras, porém, possuem maior durabilidade. Assim, o produtor deve analisar o tipo e a frequência de aplicação para determinar a qualidade de ponta a utilizar: se um produtor irá utilizar com produtos mais abrasivos (como fertilizantes) e em alta frequência, serão mais vantajosos produtos com maior qualidade e maior durabilidade.
O custo da ponta de pulverização ideal para cada aplicação será mínimo em relação ao que será investido pelos defensivos. Considerando, ainda, que haverá aumento da eficiência de aplicação aliada à redução do risco de deriva, com menor perda de produto, o custo-benefício de se investir em novas pontas de aplicação é favorável ao produtor. Portanto, é vantajoso se atentar a essas informações e segui-las no dia-a-dia da aplicação, podendo aumentar a eficiência e diminuir custos.