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Planejamento dos aceiros em plantações de eucalipto

Autores

Kyvia Pontes Teixeira das Chagas / Thiago Cardoso Silva / Emmanoella Costa Guaraná Araujo / Tarcila Rosa da Silva Lins / Gabriel Mendes Santana Doutorandos em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR)

César Henrique Alves Borges Doutorando em Ciências Florestais – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

Ernandes Macedo da Cunha Neto Mestrando em Engenharia Florestal – UFPR

Márcio Pereira da Rocha – Professor Titular do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal – UFPR

Eucalipto – Crédito Fibria

A ocorrência de incêndios em plantios florestais é responsável por grandes prejuízos que podem ser financeiros e/ou ambientais, resultando em perda da produção e risco de morte para a população e os animais inseridos na área, além de contribuir para a liberação de carbono (Rocha et al., 2013).

Os métodos de prevenção e proteção envolvem diferentes ações, que em conjunto ajudam a prevenir e proteger o plantio contra a ação do fogo. Uma dessas ações amplamente utilizada nos plantios florestais é a construção de aceiros, com o principal objetivo de retardar a trajetória do fogo (Rodríguez-Martínez; Vitoriano, 2020).

Entenda melhor

Aceiros são faixas de obstáculo à propagação do fogo, e podem ser de três tipos: os verdes ou cortinas de segurança, em que são utilizadas espécies vegetais de menor inflamabilidade; os químicos ou retardantes, onde se utilizam produtos químicos que alteram a inflamabilidade do material combustível; e os secos, estabelecidos pela remoção da vegetação, deixando o solo exposto (Batista; Biondi, 2009; Ribeiro, et al., 2006).

Os aceiros secos são os mais comuns, representados por faixas de terreno livre de vegetação que funciona como barreira para dificultar a passagem do fogo, pois a presença da vegetação contribui para que o fogo se espalhe, principalmente se houver uma grande quantidade de galhos e folhas secas no solo (Soares; Batista; Tetto, 2017).

Estes podem servir ainda como estradas, facilitando o acesso à área de plantio, bem como o tráfego de caminhões e tratores que auxiliam no processo de colheita, otimizando o tempo de percurso (Scott et al., 2012).

Técnicas

A construção dos aceiros pode ser feita de diversos modos, sendo as técnicas mais comuns realizadas por meio de motoniveladoras, roçadoras mecânicas e grades de disco, ou de forma manual, com foice e enxada, dependendo das condições de acesso desses equipamentos ao local (Soares, 1971).

Quando a construção se dá por meio de maquinário, aumenta a chance de ocorrer compactação do solo, o que desencadeia o grave problema da erosão e dificulta a implantação de novos plantios. Com o aumento da erosão, se torna necessária a realização de manutenções de conservação do solo mais frequentes, o que irá depender do local onde o plantio está localizado.

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Nesta etapa de manutenção, que consiste na movimentação da camada do solo para correção dos desníveis da erosão e remoção de plantas regenerantes, é onde podem ocorrer danos ao plantio, pois com um maior número de manutenções de aceiros as árvores plantadas na borda ficam mais suscetíveis à ocorrência danos aos troncos e às raízes devido a falhas de execução (Nascimento et al., 2010).

Outra forma de construção de aceiros é por meio de uma queima controlada. Essa é uma forma barata, rápida e muito eficiente. No entanto, existe o risco de perda de controle do fogo, derivado de erros frequentes relacionados ao esquecimento de medidas de prevenção, como:  toda a área adjacente deve ser isolada; a queima deve ser contra o vento; feita sob condições climáticas favoráveis, como: alta umidade e baixa temperatura; e deve estar de prontidão uma equipe para combater, caso o fogo saia do controle (Fiedler et al., 2004).

Quando realizado da forma correta, esse procedimento tem um bom desempenho, porém, ainda causa danos ao local, pois deve ser feito anualmente (Rocha et al, 2013).

Cuidados

A construção dos aceiros deve ser levada em consideração desde a etapa do planejamento do plantio, onde serão delimitadas as áreas dos talhões e a abertura de estradas para a passagem dos equipamentos e veículos, para que esta área seja distribuída de maneira adequada.

As características do local deverão ser observadas para o planejamento do aceiro, sendo considerados fatores como o tipo de material inflamável, a situação da área quanto ao relevo e às condições meteorológicas, bem como a disponibilidade financeira (Ribeiro et al., 2006; Rocha et al., 2013; Soares; Batista; Tetto, 2017).

O estudo prévio do local é de grande importância para a construção dos aceiros, pois caso sejam dimensionados de forma inadequada, eles podem ser ineficientes. Um dos problemas mais frequentes é saber a largura mínima necessária para a construção de um aceiro seguro, assunto pouco abordado na literatura e que demostra a necessidade de incorporação de um princípio estatístico para elucidar esse questionamento.

Apesar de sua importância, poucos estudos físicos foram realizados com o intuito de avaliar a eficiência de aceiros até o presente momento.

Pesquisas

Em uma simulação realizada para avaliar o alcance do fogo e determinar a largura adequada, Morvan (2015) encontrou resultados de que acima de 15 m de largura, o fogo não possui energia suficiente para inflamar outros materiais para sustentar a sua propagação.

Em relação à propagação de incêndios, foi verificado que a largura do aceiro e a presença de árvores possuem efeitos no combate ao fogo, reduzindo a intensidade e altura da chama na maior distância testada no experimento (20 m) (Wilson, 1988). De maneira geral, é necessário que a largura dos aceiros não seja inferior a cinco metros (Soares; Batista; Tetto, 2017).

Além disso, as ações que envolvem a manutenção de aceiros precisam ser levadas à risca para que cumpra a sua função de maneira efetiva. Os aceiros devem ser mantidos limpos, principalmente durante os períodos em que há o maior risco de incêndios, sendo necessária a manutenção constante destas faixas.

Para isso, a limpeza deve ser realizada periodicamente por roçada manual, mecânica ou por gradagem para remoção do material combustível das faixas (Mendes Junior; Pontes, 2016).

 Para locais com maior incidência de incêndios, é fundamental ter um planejamento quanto à construção eficiente de aceiros e demais práticas preventivas, além de uma logística bem elaborada para o acesso rápido ao combate quando for necessário (Tagliarini et al. 2020).

O combate ao fogo é um assunto de suma importância em todo o mundo, sendo a China o principal país a desenvolver estratégias de implementação de aceiros e técnicas para o controle de incêndios florestais, além de pesquisas sobre a eficácia e gerenciamento de incêndio (Cui et al., 2019).

No geral, as pesquisas e técnicas não apresentam um grande avanço ou inovação, o que torna esse ramo uma área com carência de informações e com uma ampla possibilidade de crescimento.

Prevenção

Além de garantir sua efetividade, o planejamento e a manutenção adequada dos aceiros ajudam a prevenir outros impactos negativos, como: a propagação de pragas e doenças de plantas; problemas para espécies ameaçadas de extinção; danos ao patrimônio natural, histórico e indígena; e erosão pela água e pelo vento (Dfes, n.d.).

A construção de aceiros, especialmente dos secos, promove uma modificação no solo, em curto ou longo prazos, com efeitos significativos nas propriedades químicas e físicas, além das concentrações de nutrientes foliares (Scott et al., 2012).

Em um estudo numa área de eucaliptocultura aos dois anos de idade, Scott et al. (2012) observaram que as mudas de eucalipto que cresciam nas proximidades dos aceiros tinham cerca de 40 a 60% do tamanho das mudas que foram plantadas no interior, indicando que o efeito do aceiro se estende para parte do plantio.

Também foi observado que a condutividade elétrica e o pH tiveram valores menores nas zonas dos aceiros, além do solo demonstrar alta resistência à penetração das raízes, sendo este o principal problema para a implantação de povoamentos florestais causada pela compactação. Neste sentido, os mesmos autores propõem que sejam feitos estudos que analisem a magnitude e a persistência desses efeitos em longo prazo.

Causas e consequências

Os aceiros podem influenciar no crescimento do plantio, causando efeitos de borda e induzindo à competição (Scott et al., 2012). Pillar et al. (2002) verificaram que houve diferenças consideráveis no grau de sombreamento, na área foliar e desenvolvimento do eucalipto em áreas próximas ou distantes de aceiros.

De acordo com os mesmos autores, foi verificado um padrão de distribuição espacial associado à exposição da borda e à distância do aceiro. Além disso, Magistrali e Anjos (2011), estudando formigueiros em um plantio florestal de eucalipto, observaram que existe uma grande intensidade de formigueiros de saúva nas linhas de aceiros.

Dessa maneira, fica clara a necessidade de realizar o combate periódico a formigas não só no plantio, mas em todo o entorno, o que resulta em maior demanda de tempo e recursos.

Alternativas

Alguns métodos vêm sendo aprimorados, visando principalmente menor custo e otimização de serviço, dentre eles as técnicas indiretas de combate a incêndios florestais. Uma alternativa de técnica indireta é a construção de aceiros químicos, que consiste na criação de faixas úmidas, uma associação da água e retardantes do fogo, que promovem o aumento da umidade dos materiais combustíveis com a finalidade de reduzir a sua inflamabilidade (Canzian et al., 2016; Plucinski et al., 2017).

Ao promover o aumento da umidade, ocorre a minimização da intensidade do fogo e a entrada dos brigadistas para o combate é facilitada (Mccarthy et al., 2012; Lima et al., 2020).

A construção de aceiros pode ocorrer de outras formas, não necessariamente pela remoção da vegetação, porém, com a mesma finalidade (Souza; Vale, 2019). Nem sempre é possível remover toda a vegetação existente na área do aceiro e manter esse local sem regeneração, que em muitos casos se torna inviável devido ao tempo de rotação.

Desse modo, uma alternativa é a construção de aceiros verdes, onde é realizada a substituição da vegetação suscetível por espécies que possam funcionar como barreiras verdes, mudando o comportamento do fogo na transição com a vegetação e servindo como suporte para ações de combate e queima controlada, além de manter uma maior umidade no local (Batista; Biondi, 2009; Canzian et al., 2016; Ribeiro et al., 2006; Souza; Vale, 2019).

No entanto, ainda existe uma carência de estudos voltados à identificação e caracterização das propriedades das espécies que podem ser utilizadas para esta finalidade (Souza; Vale, 2019).

Custos

De modo geral, a construção dos aceiros para o combate aos incêndios florestais atua de forma preventiva. No entanto, os custos referentes à construção dos aceiros vão além da mão de obra para o serviço, uma vez que utilizam uma parte da área que seria destinada à produção vegetal, sem contar que podem ser necessárias áreas de cortinas de segurança, aceiros verdes, com a implantação de culturas menos inflamáveis.

Além disso, são necessárias manutenções periódicas que elevam o custo do produtor na área, bem como a construção de postos de observação para o monitoramento, que são fundamentais para avaliar a eficácia dos aceiros existentes. Aceiros mais aprimorados têm valor inicial maior, porém, também possuem mais eficácia.

Apesar de onerosos, percebe-se que o investimento no planejamento e construção de aceiros adequados para a floresta promove vários benefícios, além de evitar prejuízos futuros para o produtor. Sendo assim, é uma técnica bastante eficiente, se executada corretamente, entretanto, ainda requer pesquisas para trazer mais informações para os produtores.

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