Autores
João Gilberto Meza Ucella Filho – 16joaoucella@gmail.com
Bruna Rafaella Ferreira da Silva – brunarafaellaf@hotmail.com
Engenheiros florestais e mestrandos pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia da Madeira da Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Débora de Melo Almeida – Engenheira florestal, técnica em Controle Ambiental e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Universidade Federal Rural do Pernambuco (UFRPE) – debooraalmeida@gmail.com
A Azadirachta indica A. Juss, conhecida popularmente por nim ou neem, é uma espécie florestal de origem indiana, pertencente à família Meliaceae, que se desenvolve em áreas de clima tropical e subtropical, fazendo com que seja cultivado em diversos países da Ásia e em todos os países da África, Austrália, América do Sul e Central.
O neem é uma planta bastante difundida nas regiões norte, nordeste, sudeste e centro-oeste do Brasil. O cultivo da espécie no País teve início no ano de 1986, no qual buscavam aprofundar as pesquisas quanto à sua ação inseticida, e mais tarde, conhecimentos sobre o desenvolvimento da espécie.
A sua popularidade ocorreu principalmente devido ao seu forte apelo comercial, em virtude de sua facilidade de crescimento em campo, ampla possibilidade de aplicações e de quase todas as partes da planta serem utilizáveis. Após as propriedades da planta se tornarem mais conhecidas, foi dado o início aos plantios em áreas comerciais em diversas regiões do País.
Características
As árvores desta espécie possuem grande resistência e rápido crescimento, podendo alcançar, em condições normais, até 15 m de altura. A sua madeira é moderadamente densa, bem avermelhada e resistente, suas folhas são verde-escuras e suas sementes consistem em um pericarpo carnudo, com uma concha relativamente macia em seu interior, onde está localizado um óleo bastante comercializado.
Cultivo e técnicas de manejo
A produção de mudas de neem é realizada preferencialmente por meio de sementes, que apresentam de 60 a 95% de viabilidade, oriundas de plantas isentas de patógenos. O tempo de germinação das sementes é em torno de duas semanas, a qual pode acontecer diretamente ao solo ou transplantadas como mudas após cerca de três meses da semeadura direta, sendo este último o método mais empregado.
Apesar da espécie ser considerada de alta rusticidade, ela se adapta melhor a solos bem preparados. Com isso, o preparo do solo deve ser realizado com, pelo menos, as operações de aração e gradagem, para que haja a homogeneização de uma profundidade mínima de 15 cm do solo.
A recomendação de espaçamento para a espécie é variável, visto que o desenvolvimento da planta depende das condições de solo e clima. Logo, no Brasil recomenda-se de 3,0 a 8,0 m entre árvores, com o maior espaçamento nas regiões mais quentes.
Salienta-se também que a escolha do espaçamento está relacionada diretamente ao objetivo do plantio, de modo que, quando destinados à produção de madeira, o ideal são plantios menos adensados e quando destinados a outros tipos de produção, como folhas, cascas, frutos e sementes, a concentração de indivíduos dentro da área pode ser maior.
Por fim, inicia-se o processo de coveamento ou sulcamento, o qual depende do método de preparo de solo, e a adubação com esterco de gado curtido, para que em seguida seja realizado o plantio, preferencialmente no início da estação chuvosa.
As etapas seguintes consistem no tratamento fitossanitário, em que é realizado o combate às formigas após a implantação da cultura, e também deve ser realizada a poda dos ramos e do ponteiro apical, para obter um melhor aproveitamento na produção dos frutos. Por fim, é realizada a colheita dos frutos, que normalmente ocorrem a partir do terceiro ano de desenvolvimento da planta.
O neem e suas diferentes formas de utilizações
A espécie tem sido utilizada há mais de 2000 anos no Oriente como planta medicinal e sombreadora, praguicida, lubrificante e adubo. Além disso, também pode ser utilizada no reflorestamento, na produção de madeira, fabricação de cosméticos, material para construção e combustível.
A ampla utilização do neem como planta medicinal encontra-se relacionada à baixa toxicidade e larga distribuição na natureza. Estudos vêm demonstrando que o neem é uma planta medicinal que pode ser usada como anti-séptico, tônico, vermífugo, na cura da diabetes, malária, problemas dermatológicos, combate a sarna, pulga e outras doenças.
Os efeitos benéficos dos seus produtos naturais podem ser atribuídos a um ou mais compostos fitoquímicos, incluindo antioxidantes, flavonoides e outras substâncias.
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Em decorrência da sombra que propicia, vem sendo amplamente utilizada na arborização urbana, principalmente, na região Nordeste do Brasil. A madeira é resistente a cupins, sendo utilizada na fabricação de móveis, mourões, estacas, esteios, ripas, caibros e utensílios domésticos.
Enquanto a eficiência do uso da espécie para o controle de pragas (inseticida, acaricida, fungicida e nematicida), como por exemplo, mosca-branca, minadora, brasileirinho, carrapato, lagartas e pragas de grãos armazenados, encontra-se relacionada a grande quantidade de bioativos presentes na planta, que causam múltiplos efeitos, tais como: repelência, atraso e/ou interrupção do desenvolvimento, redução na fertilidade e fecundidade, e várias outras alterações no comportamento e na fisiologia que podem levá-los à morte.
Assim sendo, constata-se que a espécie pode fornecer produtos alternativos aos agrotóxicos, como extratos de frutos, sementes, ramos e folhas, além da possibilidade de controlar pragas em culturas onde o uso de agrotóxico não é permitido, como no caso dos produtos de origem orgânica.
Subprodutos
O neem também é bastante utilizado nas indústrias de cosméticos sendo empregadas na fabricação de xampus, loções hidratantes, condicionadoras, óleo para cabelo e unhas e tônico capilar. Além disso, estudos relatam que a casca da espécie se apresenta como potencialmente produtora de taninos, substâncias estas que podem ser empregadas na fabricação de adesivos naturais, tratamento de efluentes e na composição de medicamento fitoterápicos.
Vale salientar que, apesar dos compostos bioativos presentes no neem serem encontrados em toda a planta, as sementes e as folhas são as que apresentam os compostos de forma mais concentrada e acessível, visto que são facilmente obtidos por meio de processos de extração em água e solventes orgânicos (hidrocarbonetos, álcoois, cetonas ou éteres).
Os métodos de extração com solventes fornecem vários compostos biologicamente ativos, sendo o mais antigo, popular e extremamente eficaz o método de extração utilizando água.
Plantio do neem x precauções
Por se tratar de uma espécie exótica de fácil adaptação e propagação, torna-se necessário que, quando cultivada para a obtenção de bens e serviços, seja realizado o manejo adequado da espécie, de modo que a sua propagação seja controlada, ficando restrita às áreas de cultivo.
Ao se disseminar de forma descontrolada, pode ocupar áreas de floresta, afetando negativamente o estabelecimento e desenvolvimento de espécies nativas. Esse controle pode ser realizado por meio da colheita dos frutos, acarretando na redução da dispersão e regeneração da espécie em áreas inadequadas.
Custo x benefícios
O plantio do neem no Brasil torna-se uma alternativa de investimento bastante atrativa, devido ao valor de implantação ser relativamente baixo e com retorno financeiro rápido. Em estudo realizado no estado do Pará em área cultivada com o neem (espaçamento 4 x 4), destinado à obtenção de receitas a partir de folhas e frutos para uso medicinal e na fabricação de inseticidas, foi constatada uma viabilidade econômica com uma taxa interna de retorno do investimento de 265% por ano.
O mesmo foi observado também em outras regiões do mundo, como nos países da China e Índia.
De modo geral, o cultivo do neem apresenta-se como uma forma rentável para produtores que desejam investir em plantios florestais, em virtude de sua fácil adaptação em diferentes condições endafoclimáticas e por ser uma espécie de múltiplos usos, fornecendo diversos tipos de produtos e retorno financeiro garantido.
Entretanto, o manejo do plantio deve ser bem realizado, para que não haja disseminação da espécie de forma descontrolada, prejudicando o desenvolvimento e/ou surgimento de plantas nativas.