Paula Almeida Nascimento
Doutoranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
paula.alna@yahoo.com.br
A demanda mundial de madeira é muito alta e é um ótimo momento para iniciar um investimento em plantio florestal. O mogno africano é uma das madeiras nobres mais rentáveis para investidores e produtores rurais.
O retorno é em longo prazo, mas oferece possibilidades de ganhos financeiros e ambientais. Seu retorno financeiro em comparação a diversas culturas, como a do eucalipto, chega a ser 25 vezes maior o seu valor, ou seja, uma margem de lucro muito maior.
O mogno brasileiro tem plantio e corte limitados, pois está na lista de espécies ameaçadas de extinção. Atualmente, o corte da árvore natural do Brasil é permitido apenas por empresas com certificação e plano de manejo.
Origem
O mogno africano é originário da África e se destaca por possuir madeira de qualidade superior e com boa cotação no mercado internacional. Costa do Marfim, Angola, Nigéria, República dos Camarões, Gabão e Congo são os principais países do Continente Africano onde se encontram plantações nativas da espécies e se adaptam muito bem aos solos e climas tropical úmido e subtropical.
A madeira é parecida com a do mogno brasileiro (Swietenia macrophylla), que tem derrubada proibida por lei federal. Das quatro espécies conhecidas de mogno africano, a Khaya ivorensis é a que tem apresentado melhor desenvolvimento, seguida da Khaya antoteca e pela K. grandiflora. Apesar de contar com bom crescimento, a Khaya senegalensis esgalha bastante e não conta com fuste (tronco) reto, aspectos que interferem no uso da madeira.
Desta forma, o mogno africano é medianamente exigente em fertilidade do solo, desenvolvendo-se bem em solos profundos de textura média e em áreas de ocorrência de Cerrado.
Assim, altitude entre 100 e 1.200 m, índice pluviométrico entre 950 e 2.400 mm/ano, temperatura média anual entre 24ºC a 28ºC são ideais. Não pode ser cultivado em solos muito úmidos, pois tem que ser bem arejado, já que o excesso de umidade causa amarelecimento das plantas.
Características
Sua madeira de tom castanho avermelhado é usada na fabricação de móveis, construção civil, naval, fins ornamentais e outros. O mercado europeu é um grande importador, principalmente da espécie Khaya ivorensis. A muda possui grande capacidade de adaptação e tem alcançado bons resultados em todo o território nacional, mesmo em áreas secas, úmidas e até sujeitas à ocorrência de geadas.
A espécie Khaya ivorensis apresenta desenvolvimento mais vigoroso, fuste retilíneo e abundante. Além disso, pode ser usada em sistemas agroflorestais, ao lado de cacaueiros e cupuaçuzeiros. O mogno pode ser plantado em sítios, chácaras e fazendas com corte de 15 a 20 anos após o plantio.
A propagação ocorre por sementes e as mudas são formadas em saquinhos pretos com substrato de solo com esterco. Também, as mudas podem ser produzidas em tubetes, com capacidade de 260 cm3.
As mudas estão prontas para o plantio após cinco meses da semeadura. Segundo Falesi (2011), o quilo da semente pode gerar até 2.500 plantas, quando bem manejada e preencher o espaço de até oito hectares.
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Lucratividade
O retorno econômico do mogno africano é alto porque a madeira de qualidade é valorizada para carpintaria, marcenaria, fabricação de móveis, construção de navios e laminados decorativos, também adequada para construções, assoalhos, decoração de interiores, corpos de veículos, brinquedos, inovações, dormentes de estradas de ferro, obras torneadas e polpa de celulose.
Ainda, pode ser utilizada como lenha e destinada à produção de carvão. A casca é amarga e altamente valorizada na medicina tradicional, pois seu cozimento ou sua maceração é muito eficaz contra a febre causada pela malária, além de ser útil contra problemas no estômago, diarreia, disenteria e anemia, e como analgésico, em casos de reumatismo e dores de cabeça (Mathias, 2013).
As raízes são aplicadas contra icterícia, dores de estômago, edema e amenorreia. São também ingredientes de complexos venenos utilizados por tribos africanas. Já as sementes e o óleo extraído delas pode ser empregado para tratar reumatismo, influenza e sífilis, além de ser utilizado em cosméticos e no processo de cozimento de alimentos (Mathias, 2013).
Fertilidade
O mogno africano não tem alta exigência em fertilidade do solo, desenvolvendo-se bem em solos profundos, de textura média. Ele tem se desenvolvido bem em latossolos corrigidos, podendo ser plantado em vastas áreas do Cerrado.
A planta, de porte elevado, caducifólia, nos climas áridos atinge alturas de até 50 m e diâmetro acima do peito de até 2,0 m. O caule é retilíneo e o sistema radicular tabular é bastante vasto. O plantio deve ser feito em solos profundos de textura média e férteis. Planta-se no início do período chuvoso, utilizando-se o espaçamento de 5,0 x 5,0 m ou 400 mudas por hectare.
Apresenta uso comercial diversificado devido às características tecnológicas e à beleza da madeira. A madeira é de elevada durabilidade, fácil de trabalhar e secar. O alburno tem coloração marrom-amarelada e o cerne marrom-avermelhado.
Condições para o plantio
O mogno africano tem bom desenvolvimento em solos de terra firme com clima tropical úmido, mas também se adapta bem a regiões de clima subtropical. As adubações devem ser feitas com base nas análises de solo.
Assim, esterco curtido ou composto orgânico, aplique 20 litros na cova de plantio para obter 50% de crescimento superior no primeiro ano. Em sistemas agroflorestais, quando envolve o cupuaçuzeiro, por exemplo, o espaçamento deve ser de 15 metros entre as linhas e de 10 metros dentro delas.
A produção de mogno africano atinge a idade de corte entre 15 e 20 anos, com fuste de aproximadamente de 12 a 15 metros de comprimento e diâmetro entre 60 e 80 cm.
Os espaçamentos para plantio do mogno africano variam de 4,0 x 4,0 m (625 plantas/ha) a 5,0 x 5,0 m (400 plantas/ha). O raleio deve ser efetuado quando as copas se encontram, aproximadamente aos 12 anos, de tal forma que o espaçamento final seja de 8,0 x 8,0 metros ou 10 x 10 metros. Em sistemas agroflorestais, o espaçamento deve ser de 15 x 10 metros, com 66 plantas por hectare.
Na prática
Na cidade mineira de Pirapora, região semiárida, à beira do Rio São Francisco, foram plantadas as primeiras árvores de mogno africano fora da região amazônica. Antônio Serrati é produtor de uva irrigada, e no ano de 2005 resolveu diversificar.
Para fazer uma árvore crescer na terra seca, ele teve que inventar. “Não tinha informação nenhuma, então comecei no escuro. Porém, eu fui o primeiro a plantar mogno irrigado”.
Serrati tem mogno africano em 10 de seus 30 hectares. Para arcar com os custos de uma floresta irrigada, nos primeiros anos consorciou o plantio das árvores com o de uva. “Quando você está jogando adubo para a uva está servindo para o mogno, assim como a irrigação, tratos culturais e até doenças e pragas. Minha floresta tem três meses que retirei a uva. Então, até agora eu não gastei, porque ela ficou como intrusa no meio dessa uva”, explica.
As pragas do mogno africano, por enquanto, são as formigas e as abelhas arapuá, que atacam árvores jovens. Com relação às doenças, o que se tem no Brasil é o cancro, que causa lesões na casca do tronco. Não chega a estragar a madeira, mas com o passar dos anos, compromete muito o transporte da seiva, prejudicando a árvore. Ao menor sinal da doença, é preciso retirar a parte machucada e aplicar um fungicida à base de cobre.
Além de crescer mais rápido, o mogno africano, no Brasil, não sofre com a broca-das-ponteiras, uma mariposa que ataca o mogno brasileiro e que, até hoje, torna inviável o seu cultivo comercial.
O plantio não pode ser em área da reserva legal ou preservação permanente. E quando for realizar o corte da madeira, terá que ter a área da reserva legal averbada. O produtor tem que legalizar sua floresta e o responsável é o órgão ambiental do Estado. Assim, no período chuvoso inicia as plantações das mudas para acelerar o crescimento da espécie florestal.