21.3 C
Uberlândia
sexta-feira, novembro 22, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosGrãosPragas quarentenárias - um problema recorrente

Pragas quarentenárias – um problema recorrente

Isabella Rubio Cabral
Graduanda em Ciências Biológicas, UNESP – Botucatu
rubioisabella05@gmail.com
Vinicius Seiji de Oliveira Takaku
Graduando em Ciências Agronômicas – UNESP/Botucatu
v.takaku@unesp.br
Roque de Carvalho Dias
Doutorando em Proteção de Plantas – UNESP/Botucatu
roquediasagro@gmail.com

As pragas podem ser dispersas entre os países através do trânsito de pessoas, animais, mercadorias e transporte de materiais vegetais. No entanto, essa crescente dispersão de pragas agrícolas pelo mundo pode resultar em grandes prejuízos ecológicos e econômicos.
No Brasil, estima-se que cerca de 65% das pragas introduzidas possuam ligação direta com o fluxo de material vegetal e atividade humana, sendo a grande extensão da fronteira brasileira um grande facilitador, devido à baixa quantidade de postos de vigilância.
Nesse contexto, as pragas quarentenárias são organismos que possuem crescente importância econômica, apresentando potenciais danos e ameaças às culturas brasileiras. São denominadas pragas ausentes aquelas que ainda não foram relatadas no perímetro nacional, e como pragas quarentenárias presentes as que já ocorrem em território nacional, mas ainda não estão amplamente distribuídas, encontrando-se sob controle oficial.
A grande extensão das fronteiras do Norte do Brasil dificulta a fiscalização e a implementação de medidas preventivas. Esse cenário torna a região a principal rota de entrada para a introdução de novas pragas quarentenárias.
Dentre os problemas recorrentes à entrada desses organismos, encontra-se a perda de produtividade, aumento do custo de produção devido aos danos ocasionados, e favorece a alta dos valores de exportação de produtos, pela imposição de barreiras fitossanitárias.
O manejo dessas pragas é realizado por meio de práticas de controle emergencial, pelo fato de não haver produtos registrados para o controle desses organismos.
Vale ressaltar que os hábitos e comportamento dessas pragas exóticas não são conhecidos e podem provocar danos irreparáveis às lavouras brasileiras. Deste modo, percebe-se importância e a necessidade da aplicação de medidas fitossanitárias, imposição de uma fiscalização eficiente e a realização de um monitoramento correto das áreas de risco.

Prejuízos

Atualmente, 12 pragas quarentenárias encontram-se no território brasileiro, segundo reportado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). Algumas delas são a mosca-da-carambola (Bactrocera carambolae), besouro-da-acerola (Anthonomus tomentosus), ácaro-hindustânico-dos-citros (Schizotetranychus hindustanicus), sigatoka-negra (Mycosphaerella fijiensis), cranco-cítrico (Xanthomonas citri susp. citri) e pinta-preta (Guignardia citricarpa).
No Brasil, o caso mais recente de introdução de pragas quarentenárias foi registrado para a Helicoverpa armigera, que gerou danos expressivos a diversas culturas agrícolas, principalmente ao algodão, milho, soja, feijão, tomate e sorgo.
Atualmente, o impacto econômico da praga já atingiu o patamar de U$ 5 bilhões de dólares. Outro exemplo é a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) considerada uma das principais doenças da soja, ocasionando perdas de até US$ 2 bilhões ao ano.
A doença foi identificada no Estado no Paraná no ano de 2001, e se disseminou rapidamente para outras regiões produtoras. Do mesmo modo, os danos ocasionados pelo bicudo-do-algodoeiro, praga exótica originária do México, variam entre 70 e 100% na produção da pluma e, segundo estimativas, as pulverizações contínuas de inseticidas para o manejo desse inseto representam até 20% dos gastos com a cultura, aumentando significativamente o custo de produção.
O greening dos citros (Candidatus Liberibacter spp.) é outra praga introduzida que ainda apresenta grande ameaça para a citricultura brasileira. Para a laranja, as perdas anuais chegam a R$ 50 milhões, prejudicando diretamente a exportação do fruto.
As pragas quarentenárias, além de gerar severos prejuízos para as lavouras, também impactam socialmente o País. A disseminação da doença representa uma grande ameaça ao Estado da Bahia, segundo maior produtor nacional de laranja.
A base do sistema de produção do Estado enquadra-se na agricultura familiar, situação que pode inviabilizar a permanência de muitos pequenos agricultores na produção da cultura, devido ao aumento no custo de controle.

Análises de risco

[rml_read_more]

No Brasil, o estabelecimento e a publicação de uma praga quarentenária estão sob responsabilidade do Departamento de Sanidade Vegetal, da Secretaria de Defesa Agropecuária/Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (DSV/SDA/MAPA).
Nesse sentido, foram estabelecidas regras e procedimentos para essa determinação. Assim, o art. 3º da IN MAPA nº 45/2018 estabelece que a categorização de um organismo como praga quarentenária deve se dar com base em um procedimento de Análise de Risco de Pragas (ARP).
Nesse contexto, a ARP é o processo de avaliação biológica (ou outra evidência científica e econômica) para determinar se um organismo é qualificado como uma praga quarentenária, se deve ser regulamentada e possíveis medidas fitossanitárias a serem adotadas.
Além disso, incluem detalhes referentes às ameaças para o ambiente e para a diversidade biológica, englobando aquelas que afetam as plantas não cultivadas, flora silvestre, habitats e ecossistemas contidos na área sob análise.
Em vista disso, a análise de risco de pragas para pragas quarentenárias segue um processo definido por três fases, sendo elas:
• Fase 1 ou fase de início: envolve a identificação da(s) praga(s) e vias de ingresso que são de interesse quarentenário em relação à área de ARP identificada;
• Fase 2 ou fase de avaliação de risco: começa com a categorização de pragas individuais para determinar se os critérios para uma praga quarentenária são satisfeitos. A avaliação do risco continua com uma avaliação da probabilidade de entrada, estabelecimento e disseminação da praga, e suas potenciais consequências econômicas e ambientais;
• Fase 3 ou fase de manejo do risco: envolve identificação das opções de manejo para reduzir os riscos identificados na fase 2. O manejo é escolhido de acordo com a avaliação de sua eficácia e viabilidade.

Medidas de prevenção

Uma importante medida de prevenção é evitar a entrada de pragas no Brasil por meio de fiscalização e controle de trânsito de diferentes meios que possam transportar essas espécies, como embalagens, produtos, insumos, animais/vegetais entre outros, sendo responsável pelo Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (VIGIAGRO), do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Esse sistema engloba 111 Serviços (SVAs), além de Unidades de Vigilância Agropecuária (Uvagros). Esses serviços mantêm-se localizados nos portos, aeroportos, postos de fronteira e aduanas especiais.
Dessa forma, é importante que para cada produto que se deseja importar, seja ele de origem animal ou vegetal, e seus produtos, derivados e partes, cumpra os requisitos regulamentares e procedimentos de fiscalização, inspeção, controle de qualidade e análise de riscos fixados pelo MAPA.
Além disso, alertas fitossanitários e planos de contingência também são estratégias desenvolvidas pela defesa fitossanitária para prevenir e/ou reduzir a possibilidade de entrada de pragas quarentenárias no país.

ARTIGOS RELACIONADOS

Silício em pimentão

O pimentão (Capsicum annuum L.) é uma das principais hortaliças cultivadas no Brasil.

Como controlar pragas com ajuda da Beauveria bassiana?

Conheça essa importante ferramenta no manejo ecológico de pragas na agricultura

Controle de doenças de solo

O maior limitador da produção de morangos no solo são os altos índices de mortalidade de ...

Especialista alerta para o risco de incidência de pragas no algodão

Nematoides já foram detectados em lavouras de soja no Mato Grosso e na Bahia, provocando sérios prejuízos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!