Dentre as pragas que tiveram incidência considerável nas lavouras de Mato Grosso na safra 2021/22, o cascudinho-da-soja é uma delas e o não monitoramento pode causar prejuízos na produção do grão. A espécie encontrada em solo mato-grossense é a Myochrous armatus (Coleoptera: Chrysomelidae) e começou a ocorrer com maior intensidade nas últimas safras.
“Muita gente confunde o besouro Aracanthus mourei, conhecido como torrãozinho, com o cascudinho-da-soja. Isso leva a gente a acreditar que o primeiro tem mais ocorrência, quando na verdade é o segundo que está atacando as plantas de soja no Estado”, afirma Clérison Perini, entomologista da empresa mato-grossense de pesquisa agrícola, Proteplan.
Para que o produtor e sua equipe consigam diferenciar um de outro, identificar a espécie e assim escolher a melhor forma de controle, o pesquisador explica que o torrãozinho tem cor marrom, mede de 4 a 6 mm, com corpo oval, coloração cinza a marrom e élitros com saliências que lembram partículas de solo.
Já o cascudinho-da-soja, mede cerca de 5 mm, o corpo é oval de coloração preta-fosca e recoberto de escamas curtas e robustas. “São duas famílias de insetos bem diferentes, um é Chrysomelidae e o outro é Curculionidae, e diferem principalmente na morfologia das antenas, aparelho bucal e tarsos”, pontua Clérison.
Pesquisas
Estudos sobre as causas, o comportamento, a ocorrência e o manejo do cascudinho-da-soja estão sendo realizados pelo entomologista. Segundo ele, o tratamento de sementes e a pulverização inicial têm ajudado a diminuir a incidência dessa praga.
“Tem que prestar muita atenção no intervalo das aplicações. Ele é um inseto que fica mais exposto na planta nos horários mais quentes, o que exige uma boa tecnologia de aplicação. Nos ensaios fizemos aplicações em diferentes horários. Os melhores resultados de controle foram conseguidos ao meio-dia”, afirma o pesquisador.
O cascudinho-da-soja é uma praga polífaga, alimenta-se de diferentes famílias de plantas cultivadas e daninhas. “Alertamos toda a classe produtora a fazer monitoramento contínuo com a correta identificação e não abrir mão de nenhuma ferramenta de manejo”, destaca Clérison.
Batida de pano
A velha e conhecida batida de pano continua sendo uma ferramenta muito importante no monitoramento de pragas nas lavouras de soja. Para o pesquisador Clérison, o pano-de-batida vertical com calha é um instrumento muito eficaz. “É preciso monitorar. É preciso bater e quantificar os insetos na lavoura. Ainda não temos tecnologia que consiga identificar com precisão os insetos no meio da lavoura. O pano-de-batida vertical com calha é muito usado na Argentina e os estudos têm mostrado mais eficiência na amostragem que o pano sem a calha. A calha deixa a amostragem mais prática e eficiente para o monitor de pragas da soja”.
O pesquisador recomenda fazer no mínimo duas batidas de um metro por local amostrado para ter o dado em unidade de área (1,0 m2) e depois fazer a relação com o dano potencial por hectare, e a partir dessas constatações decidir quando controlar e quais ferramentas de manejo utilizar para combater as pragas.
“É importante ter esse valor de metro quadrado bem definido, assim como fazer as duas batidas. Pode acontecer de na primeira batida não aparecer nenhum inseto. Fazer por metro quadrado dá uma dimensão melhor para entender o dano potencial por hectare, fica mais fácil de fazer a relação entre quanto de praga por metro quadrado devemos tolerar, baseado no custo do controle e no valor da saca de soja”, aponta Clérison.
Controle
O entomologista Clérison Perini destaca o uso de ferramentas químicas e biológicas. Segundo ele, é importante observar o nível de tolerância de cada espécie de pragas. Para lagartas, por exemplo, tem tido bons resultados o uso de biológicos, mas desde que cumpra todas as recomendações de manejo. “Todo o sistema de produção e de manejo tem que estar integrado e ser extraído dele suas máximas eficiências”.