Adilson Pimentel Júnior
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e professor – Centro Universitário de Ourinhos (Unifio)
adilson_pimentel@outlook.com
Thiago Feliph Silva Fernandes
thiago.feliph@unesp.br
Antonio Santana Batista de Oliveira Filho
antonio.filho@unesp.br
Engenheiros agrônomos e mestres em Produção Vegetal – Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Antes do desenvolvimento de novas técnicas de cultivo para a cultura da manga, as áreas que mais se adaptavam ao seu cultivo eram apenas as que apresentam estações secas e chuvosas bem definidas. Contudo, as regiões semiáridas brasileiras vêm se destacando na produção dessa cultura, pois através do uso de irrigação é possível manejar precisamente os aspectos de crescimento, floração e frutificação da planta.
A irrigação estratégica no cultivo da mangueira é importante, uma vez que um período chuvoso no pré-florescimento poderá comprometer o repouso vegetativo da planta, e prolongar-se até a frutificação, ocasionando danos causados pela antracnose e pelo oídio. Logo após a frutificação, é benéfica a ocorrência de chuvas ou o acionamento da irrigação, que influencia o desenvolvimento dos frutos e impede a sua queda.
A favor das mangas
As condições edafoclimáticas de uma região estão associadas principalmente à radiação solar, temperatura e umidade do ar, velocidade do vento e pela precipitação pluviométrica. Esses fatores, em conjunto ou isolados, afetam consideravelmente o potencial de desenvolvimento de uma planta, podendo otimizar, caso as características sejam propicias ou estressar, caso sejam inadequadas.
A mangueira é uma planta que apresenta copa densa, e com isso a radiação solar nas folhas internas são insuficientes. Para que essa desvantagem seja superada, é indicada a prática da poda. Assim, a arquitetura da planta favorece a penetração interna de luz, que aumenta a capacidade fotossintética e luminosidade nos frutos.
Pensando em qualidade sensorial de frutos, uma boa iluminação faz com que teores de açúcares e de compostos bioativos sejam otimizados, contribuindo para a aceitação da fruta no mercado.
Quando se refere à temperatura, 24 a 30°C é a recomendada para um bom desenvolvimento da planta. A temperatura afeta desde o desenvolvimento de raízes (favorecida por baixas temperaturas) até a parte aérea (favorecida por altas temperaturas), também relacionada à floração da planta, pois pode ser estimulada com noites frias.
O fator enzimático sofre interferência da temperatura, bem como a qualidade dos frutos. O ideal, nessa fase final de cultivo antes da colheita, é umidade elevada e temperaturas altas.
Fitossanidade
No quesito doença, a umidade do ar é o que mais influencia, sendo que um microclima que favorece o ataque de doenças leva a uma infecção da planta, afetando consideravelmente a sanidade da planta e sua produção.
A mangueira apresenta um sistema radicular profundo, característica que favorece a absorção de água em profundidade e tolerância de até oito meses sem chuva. A precipitação hídrica deve ser controlada em fases estratégicas na fenologia da manga, sendo que antes da floração um estresse hídrico favorece a frutificação, e após essa fase é primordial que se tenha um suprimento hídrico afim de o fruto se desenvolver, oferecendo a garantia de um produto com características desejáveis a nível comercial.
Como escolher
A escolha da variedade de manga a ser plantada deve estar relacionada com as preferências do mercado consumidor, o potencial produtivo da variedade para uma dada região, as limitações fitossanitárias e de pós-colheita da variedade e, principalmente, a tendência em médio prazo do tipo de fruto a ser comercializado.
Sendo a mangueira uma planta com longo período juvenil, a escolha da variedade errada poderá significar enormes prejuízos em curto prazo. Assim, essa escolha é considerada um dos fatores econômicos mais importantes para o estabelecimento competitivo da mangicultura.
A manga é uma fruta muito apreciada em todo território nacional. As variedades mais indicadas para produção devem apresentar alta produtividade, coloração atraente do fruto, polpa doce, com o teor de açúcares (°Brix) superior a 17%, pouca ou nenhuma fibra, além da resistência ao manuseio e transporte.
O porte reduzido da copa, regularidade de produção e a resistência a doenças como má formação floral, antracnose e lasiodiplodia, além da baixa incidência de colapso interno da polpa, são também características preconizadas no momento da escolha da melhor cultivar.
Características de cada cultivar
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) cita como sendo as principais cultivares de mangas com grande potencial para o mercado interno e/ou externo, a ‘Espada’, ‘Rosa’, ‘Haden’, ‘Keitt’, ‘Kent’, ‘Tommy Atkins’, ‘Palmer’ e ‘Van Dyke’. Segue algumas características básicas peculiares a cada cultivar:
Espada: variedade brasileira mais antiga, a árvore é vigorosa e produtiva, o fruto tem uma coloração que varia do verde intenso ao amarelo esverdeado, de tamanho médio (300 g), com casca lisa, espessa e a polpa fibrosa amarelada (18º Brix). É muito utilizada como porta-enxerto.
Rosa: variedade brasileira mais conhecida, a árvore possui porte médio de crescimento, a cor do fruto varia de amarelo para rosa-vermelho (350 g), sua casca é espessa e lisa, com polpa amarelo ouro (21,8º Brix).
Haden: originária da Flórida, EUA, sua árvore é grande, o fruto é ovalado e a cor predominante é o amarelo com vermelho, sabor suave, com pouca fibra (350 a 680 g). A planta é suscetível à antracnose e apresenta o problema de colapso interno do fruto, porém, seu ótimo sabor e baixa produção fazem com que alcance elevados preços no mercado interno.
Keitt: porte da planta ereto e longo, o fruto é grande (610 g) e oval, verde amarelado, com bom sabor (19º Brix) e fibra somente em volta da semente. Vem sendo substituída pelos produtores por outras cultivares. Resistente ao míldio e suscetível à antracnose, possui boa vida de prateleira.
Kent: originada da Flórida, EUA, a árvore é ereta, de copa aberta e vigor médio, o fruto é oval, verde amarelado, corado de vermelho (550 a 1.000 g, saboroso (20,1º Brix) e polpa sem fibra. Suscetível à antracnose e ao colapso interno do fruto, com baixa vida de prateleira.
Tommy Atkins: originada na Flórida, EUA, possui fruto de tamanho médio (460 g), com casca espessa e formato oval, coloração laranja-amarela. A polpa é firme, suculenta e teor de fibra médio. Resistente à antracnose e a danos mecânicos e com maior período de conservação, porém, presenta problemas do colapso interno do fruto. É uma das variedades de manga mais cultivadas mundialmente, representando 90% das exportações de manga no Brasil.
Palmer: variedade semi-anã, de copa aberta, Originada na Flórida, os frutos possuem casca roxa a vermelha, a polpa é amarelada, firme, com bom sabor (21,6º Brix), pouca ou nenhuma fibra. Apresenta boa vida de prateleira e é bem aceita no mercado interno.
Van dyke: árvore moderadamente vigorosa e de copa aberta, fruto de coloração amarela, com laivos vermelhos, e a polpa é firme e sem fibras longas (300 a 400 g). Possui sabor agradável e aroma superior ao da ‘Tommy Atkins’. Atualmente, não apresenta expressão significativa para comercialização.
A escolha da cultivar a ser plantada deve obedecer às preferências do mercado consumidor, o potencial produtivo para uma dada região, as limitações fitossanitárias da planta, além do comportamento na pós-colheita da variedade.