Harleson Sidney Almeida Monteiro
harleson.sa.monteiro@unesp.br
Sinara de N. Santana Brito
sinara.santana@unesp.br
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Agronomia/Horticultura – UNESP
Antonia B. da Silva Bronze
Doutora em Ciências Agrárias e professora – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
antonia.silva@ufra.edu.br
A banana (Musa spp.) é um dos frutos mais consumidos no mundo, podendo ser cultivada na maioria dos países tropicais. Essa frutífera é uma das espécies de grande importância social e econômica para o Brasil, tendo grandes áreas de cultivo no País.
Apesar dos 456.375 hectares de área plantada com bananicultura no Brasil, apenas 0,5% de toda a área é cultivada em monocultivo de bananicultura orgânica, correspondendo em torno de 2.400 hectares.
A ampla faixa de cultivo em território nacional se deve à espécie encontrar no País condições ideais para o seu desenvolvimento e produção, sendo importante fazer, desde o início do plantio, uma boa escolha do material genético que será implantado, e optar por espécies adaptadas às condições edafoclimáticas da região do pomar, que sejam tolerantes a pragas e doenças.
Não existem, ainda, cultivares desenvolvidas que sejam exclusivamente para cultivo orgânico, estando apenas no manejo a diferença.
Manejo acertado
A banana é bem difundida em propriedades rurais convencionais, e tem sido amplamente cultivada nas últimas décadas em sistemas orgânico de produção. O manejo do solo é prática-chave no sistema do cultivo orgânico na bananicultura, sendo fatores que determinam a qualidade do solo aqueles que exercem grande influência no desenvolvimento vegetativo e produtivo da cultura.
Nesse sistema de produção, a adubação dependerá da qualidade e do tipo de solo, pois no cultivo orgânico o manejo deve ser diretamente no solo, oferecendo cobertura com fitomassa viva e/ou morta, uso de adubos verdes e compostos, além da escolha do preparo da área, levando em consideração as características física e química do solo, sendo possível seguir o manejo convencional.
Nutrição
A bananicultura demanda grandes quantidades de nutrientes para que ocorra de maneira adequada o seu ciclo vegetativo e produtivo das plantas. Portanto, a adubação orgânica, além de contribuir simultaneamente com a melhora das características física e química do solo, e com a fertilidade do solo, garante a nutrição adequada e necessária para as plantas de bananeira.
A adubação também tem sido fator de grande relevância para o estabelecimento da cadeia produtiva da bananicultura no Brasil.
Orgânicos
O manuseio de adubos orgânicos tem sido a forma mais eficiente de conceder nitrogênio no plantio, estimulando de maneira significativa o desenvolvimento radicular e tendo perda mínima do nutriente.
Os adubos orgânicos que mais têm sido utilizados na bananicultura orgânica são: estercos curtidos de gado, galinha e caprinos; torta de mamona; húmus de minhoca; pó de cinza, dentre outros compostos, além do próprio resíduo da bananeira e os adubos orgânicos que normalmente estão mais disponíveis na região.
No cultivo orgânico da banana, o uso de fertilizantes, corretivos e inoculantes é permitido, desde que sejam substâncias autorizadas nas Instruções Normativas de nº 17 (2014) e nº 46 (2011), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, sendo necessária a autorização do uso desses insumos pelo Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC) ou pela Organização de Controle Social (OCS).
Recomenda-se a utilização de material homogêneo que tenha como componentes matéria orgânica (MO) parcialmente estabilizada, substâncias húmicas e nutrientes para as plantas, como: serragem de madeira, pós de serra, esterco bovino, de bode, de frango, de codorna, de coelho, de equino, ovino e caprino, bagaço de cana-de-açúcar, mistura de resíduos da própria planta de bananeira – frutos de refugo e engaços, microrganismos eficazes (EM), entre outros.
A aplicação do EM facilita a mineralização do solo e dos nutrientes presentes, além da aceleração na decomposição da palhada.
Tabela 1. Teores totais de macronutrientes e matéria orgânica (MO) de estercos de origem animal, de acordo com Trazzi et al. 2012
Tipo de adubo | pH | N | P | K | Ca | Mg | S | MO |
g kg-1 | ||||||||
Esterco bovino | 8,3 | 4,6 | 0,5 | 4,5 | 12,7 | 5,1 | 0,05 | 84,0 |
Esterco de frango | 6,3 | 7,7 | 1,6 | 2,4 | 14,2 | 5,7 | 0,06 | 81,0 |
Esterco de codorna | 7,6 | 7,7 | 4,6 | 4,3 | 35,7 | 4,8 | 0,09 | 107,7 |
Viabilidade
Além da compostagem, é também uma alternativa viável e que tem promovido incrementos no pH, MO, P, Ca, na soma de bases (SB), na capacidade de troca catiônica (CTC) e na saturação por bases (V) do solo.
Contudo, não afetou os teores de K e Mg, assim como, por meio da compostagem laminar, se obtém em menor tempo a estabilização ou a humificação da MO, que também contribui para o pleno desenvolvimento das plantas, trazendo melhorias à qualidade e produtividade, além de favorecer e contribuir com a proteção do meio ambiente.
Em equilíbrio
Sabemos que as plantas não se desenvolvem nem alcançam seu potencial máximo de produção se não houver os nutrientes necessários em quantidades suficientes durante o seu ciclo vegetativo e de produção.
A partir dessa necessidade, se faz importante que as composições físicas, químicas e biológicas do solo se encontrem em equilíbrio, haja vista que quando essas composições estão em desequilíbrio é preciso a adição de condicionadores do solo.
Essa adição poderá ocorrer por meio da aplicação de aminoácidos, ácidos orgânicos e nutrientes, que atuará na melhoria da qualidade do solo, favorecendo um pleno desenvolvimento com vigor da planta.
Além disso, os condicionadores do solo são extensamente benéficos e importantes para a recuperação das características do solo, principalmente dos que já enfrentaram (passaram) degradação.
Biofertilizantes
Dentre os produtos orgânicos para adubação, temos também os biofertilizantes, obtidos a partir do processo de fermentação, por meio da atuação dos microrganismos que agem na decomposição da matéria orgânica.
Sua forma mais usual nos cultivos é por meio da aplicação foliar, tendo ainda efetivação positiva na redução de pragas, agindo como fungicida, bactericida e repelente contra os insetos, assim como sua aplicação pode ocorrer diretamente via solo, melhorando as condições físicas, químicas, biológicas e na diversidade de população dos microrganismos.
Haja vista que o custo de produção da banana orgânica tem sido mínimo, é necessário e válido um bom manejo, raleio, adubação e, pelo menos uma vez ao mês, a introdução do EM.
Na bananicultura atual, os biofertilizantes são sendo uma forte alternativa por parte dos produtores, tendo o sistema de irrigação como principal veículo de aplicação. Isso tem fortalecido a demanda e preferência por compostos orgânicos líquidos, pela fertirrigação da cultura, e levado ao desenvolvimento de inúmeras pesquisas que viabilizam o manejo, diminuam o problema de entupimento e aumentem a funcionalidade do sistema de irrigação, que tem sido o principal dos problemas.
Erros
Quanto à adubação orgânica na bananeira, os principais erros que normalmente ocorrem são: escolha da área, análise química e preparo do solo, utilização de espécies para a adubação verde, quantidade adequada da adubação potássica, adubação de micronutrientes e no fornecimento de água.
Devido à bananeira ser uma espécie que possui morfologia e hidratação de seus tecidos úmidos e com crescimento dinâmico, apresenta elevada e continua demanda por água e nutrientes, aspectos onde ocorrem as maiores falhas por parte dos produtores em pomares de bananeira.
Evolução do sistema
Inúmeras mudanças têm ocorrido nos modelos do agronegócio, acarretando a competividade de mercado em um requisito de sobrevivência para os bananicultores. Devido às exigências que o mercado tem, que são: frutos com elevada qualidade e de baixo custo de produção, somado à forma de cultivo de baixo custo e orgânico da bananicultura, tem sido incorporado ao sistema de cultivo alternativas tecnológicas que sejam capazes de minimizar o impacto ambiental da atividade.
A principal ferramenta tecnológica que tem sido utilizada na atualidade em produção orgânica no Brasil é a Produção Integrada de Frutas (PIF), com a aplicação de fertilizantes em quantidades adequadas às necessidades da cultura e o uso de bioestimulantes, como técnicas que minimizem perdas de nutrientes.
Diante do exposto, podemos concluir que a banana pode se tornar o principal produto da produção orgânica do Brasil. Principalmente porque, dentro do sistema de produção da cadeia da bananicultura, cerca de dois terços da biomassa da cultura retorna para o solo, resgatando quase 70% dos nutrientes que foram produzidos, não tendo a necessidade de incorporar outros adubos.
Assim, os bioestimulantes têm sido altamente empregados no sistema de produção e proporcionado melhorias nas características físicas e biológicas do solo, proporcionando a condição ideal para a bananeira.
As técnicas ambientais e sustentáveis têm favorecido os métodos orgânicos de produção, reduzindo a utilização de agrotóxicos e/ou adubos químicos solúveis. A adubação orgânica, além de melhorar e complementar a adubação e os atributos do solo, é economicamente viável.
Recomenda-se que os produtores utilizem adubos orgânicos em seu plantio, principalmente optando por materiais que estejam em abundância em sua região, afim de evitar o transporte de matéria-prima orgânica a longas distâncias.