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Panorama nacional da produção de maracujá

Foto: Shutterstock

Harleson Sidney Almeida Monteiro
harleson.sa.monteiro@unesp.br
Sinara de N. Santana Brito
sinara.santana@unesp.br
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Agronomia/Horticultura – UNESP
Antonia B. da Silva Bronze
Doutora em Ciências Agrárias e professora – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
antonia.silva@ufra.edu.br

O cultivo do maracujá no Brasil tem ganhado expressividade e tem fortalecido em especial a fruticultura tropical, por se tornar, nas últimas décadas, uma cultura alternativa de produção e renda, sobretudo para produtores de pequena escala, como os da agricultura familiar.

Essa espécie frutífera tem atraído, nas últimas décadas, produtores de diversas regiões do Brasil, pela possibilidade de receita rápida e com produção praticamente durante todo o ano que a cultura apresenta.

Importância econômica

A cadeia produtiva das variedades de maracujá, que são produzidos e consumidos no mundo inteiro, no Brasil tem se movimentado anualmente uma renda de mais de R$ 1,5 bilhão no campo, que em geral são os pequenos produtores os maiores fornecedores do fruto para o mercado.

Em números totais, no ano de 2021, no Brasil, de acordo com o IBGE – Produção Agrícola, a área destinada para o plantio de maracujá, foi de 45.089 hectares, obtendo produção de 683.993 toneladas de frutos, com produtividade de 15.529 kg/ha, gerando R$ 1.553.905 do valor de produção, e sendo responsável por mais de 80% da produção mundial de maracujá.

Variedades

Em território nacional, as espécies com maior expressão comercial e que ocupam mais de 90% das áreas plantadas pela cultura do maracujá são do Passiflora edulis e Passiflora alata, maracujá azedo e maracujá doce, respectivamente, ocupando cerca de 95% dos pomares comerciais, e sendo as variedades mais promissoras e utilizadas para o consumo in natura e para processamento (indústria).

Tendo em consideração o ranking de expressividade na produção do maracujazeiro, as regiões do Brasil que mais se destacam são: nordeste (476.006), sudeste (80.569), sul (73.273), norte (39.275) e centro-oeste (14.870) em toneladas de frutos de maracujá, devido ao comportamento adaptável do fruto a diversas condições de solo e clima, permitindo que ocorra o cultivo da espécie de Norte a Sul do País.

Tecnologias

O Brasil, com produtividade média acima dos 15 mil kg/ha, tem a região sul do País como a mais tecnificada no contexto da produção de maracujá, chegando a 20.337 kg/ha, sendo responsável por mais de 130% da produtividade nacional. O Estado de Santa Catarina é o maior produtor da região, segundo dados do IBGE.

Contudo, vale ressaltar que a região nordeste, apesar de ser a maior produtora do fruto, principalmente pela maior produção de frutos de maracujá estar concentrada basicamente nos Estados da Bahia e Ceará, tem enfrentado grandes problemas fitossanitários acometendo os cultivos, ocasionando forte redução ao longo dos anos na produtividade.

Crédito: Depositphoto

Atualmente, esta tem sido a quarta região em produtividade, com 14.785 kg/ha do fruto, que ainda assim, corresponde a 97% da produtividade nacional, indicando a importância desta no cultivo da frutífera.

O Estado da Bahia, apesar de possuir vários polos de produção, enfrenta dificuldades em fortalecer a cultura e organizar os produtores da região, principalmente pela falta de políticas públicas e investimento.

No entanto, o Sul, que é o terceiro em produção do fruto, é o mais produtiva, sendo puxado substancialmente pelo Estado de Santa Catarina, com uma produtividade de 25.161 kg/ha de frutos de maracujá, colocando-o acima da média regional e nacional, reflexo do avanço na tecnificação e no controle dos problemas fitossanitários na produção, nos últimos anos.

Demanda

A produção de maracujá é uma atividade de grande importância social e econômica, por ter demanda tanto para o consumo in natura quanto indústria, em todas as regiões e Estados do Brasil, sendo o maior exportador do mundo.

A cultura é bastante apreciada e tem grande aceitabilidade pelo mercado de frutas frescas, onde concentra 60% da produção, sendo fornecido para os mercados atacadistas e varejistas.

Esse apreço é devido as suas características nutricionais, por ser um fruto rico em sais minerais e vitaminas A, C e do complexo B, além da qualidade de seus frutos, aroma e sabor, que também são atrativos dessa cultura.

A demanda do fruto para a indústria de processamento corresponde a 40% da produção, que tem preferência principalmente pelos frutos com alto rendimento de polpa e elevado teor de sólidos solúveis, principalmente para a produção de sucos concentrados e prontos para beber (sendo o terceiro suco mais produzido no Brasil) e outros derivados, além das indústrias alimentícia, farmacêutica, medicinal e de cosmético.

O Estado de São Paulo tem a maior demanda desse fruto, devido sobretudo à rede logística de distribuição do CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). Ressaltamos que as região nordeste, sudeste e centro-oeste, consomem anualmente cerca de 40 toneladas de frutos.

Produtividade

O sucesso da produção e produtividade do maracujazeiro no Brasil, sobretudo, se deve à grande importância socioeconômica que a cultura possui. E isso tem contribuído para que a área de cultivo seja expandida, e por predominarem cultivos em áreas de agricultura familiar, pela possibilidade de diferentes níveis de investimento inicial nesta cultura, o que possibilita ajustar o investimento à realidade de cada produtor.

Custo produtivo e retorno

O investimento tende a variar de R$ 15 mil a R$ 150 mil/ha, o que dependerá da estrutura utilizada, podendo ser a céu aberto ou em estufas.

Contudo, o retorno do investido é possível logo no primeiro ano de cultivo, já que as plantas de maracujazeiro iniciam sua produção entre o oitavo e décimo mês após o plantio, dependo da região e dos manejos empregados no cultivo.

A rentabilidade dependerá da produtividade obtida, da oferta e do preço que as frutas alcançaram ao longo do ano. Em um pomar comercial de maracujá, é possível plantar cerca de 1.600 plantas/ha, em um espaçamento entre plantas de 2,5 m, que poderá gerar uma produtividade de 8,0 t/ha/ano até mais de 100 t/ha/ano, em cultivo a céu aberto ou estufa, respectivamente.

Os preços de comercialização dos frutos a venda no atacado estão em torno de R$ 4,97 a R$ 6,35 kg, e a caixa variando de R$ 64,61 a R$ 82,55, apresentando um deságio de cerca de 30%, de acordo com a classificação, qualidade, demanda e oferta da fruta.

Realidade

Apesar da sua grandiosidade em produção e produtividade, o cultivo de maracujá no Brasil, apresenta pontos críticos, mas relevantes na cadeia produtiva que necessitam de ações técnicas e políticas públicas, como: atenção aos aspectos fitossanitários que a cultura necessita, principalmente para controlar o vírus de endurecimento do fruto (Cowpea aphidborne mosaic virus (CABMV)), que é de maior importante da cultura no Brasil, pelo seu alto potencial destrutivo e rápida disseminação, que está há mais de duas décadas afetando a produção, e não se tem espécies resistentes à virose.

Outra doença de grande importância que é causada pelo fungo de solo que ocasiona a murcha (Fusarium oxysporum f. passiflorae) é uma doença que ataca as raízes da planta; melhorar a colheita e a comercialização; estímulo ao associativismo.

O entrave para uma alta produção é a baixa incidência da população do maior polinizador natural da cultura, que são as mamangavas (Bombus), que têm acarretado queda na produção, exigindo mais mão de obra para realizar a polinização artificial nas flores.

No entanto, é uma cultura de grande potencial e importância para economia do País, exigindo novas pesquisas e investimentos, para que os problemas e os desafios do cultivo sejam resolvidos e alcançados. Hoje, tem se investido na produção de mudas em sacolas de polietileno, com substrato orgânico, em estufas com bancadas altas, para se evitar o fusarium, fungo de solo.

Dessa forma, o cultivo de maracujá no Brasil pode ser elevado no aspecto da produção e produtividade, lucratividade e controle fitossanitário, por meio do planejamento e da implementação de um plano de negócio bem estrutura, uma vez que a extensão rural é de suma importância na cadeia produtiva do maracujá.

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