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Benefícios do cálcio à citricultura

Foto: Shutterstock

Fabrício Teixeira de Lima Gomes
Engenheiro agrônomo e mestrando em Ciência do Solo – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
agro.fabriciogomes@gmail.com
Lívia Karine Pereira
Engenheira agrônoma e mestranda em Fitotecnia – UFLA
liviakarinep@gmail.com

A cultura de citros encontra-se difundida em todo o território nacional, das regiões mais quentes do Norte e Nordeste às mais frias do Sudeste e Sul do País. Os citros têm algumas particularidades e demandas nutricionais diferenciadas, como o fato de o cálcio (Ca) ser o nutriente em maiores concentrações nas folhas em comparação com outras culturas, estando o seu teor foliar adequado na faixa de 35 a 45 g kg-1.

Importância

O cálcio é o principal nutriente extraído pelas plantas cítricas, apresentando um importante papel na formação de paredes celulares, regulação do funcionamento de membranas e desenvolvimento de raízes, caules, folhas, flores e frutos. Além disso, atua indiretamente na formação do tubo polínico, na germinação do grão de pólen e na formação de sementes.

Os sintomas de deficiência de Ca aparecem nas folhas como uma clorose inicial ao longo das margens, atingindo gradualmente as áreas internervais, com necrose das áreas afetadas em estágios avançados de deficiência e acentuando ainda a ocorrência de uma faixa clorótica ao longo da nervura principal.

A frequência de deficiência do nutriente em plantios de citros é baixa, entretanto, a deficiência do elemento pode limitar significativamente o desenvolvimento da planta e reduzir a produção.

Dessa forma, o adequado fornecimento do nutriente é fundamental para o desenvolvimento de frutas cítricas saudáveis, o que impacta diretamente na produção de frutos e na qualidade dos mesmos, resultando em maiores produtividades e rentabilidade para o produtor.

Benefícios do cálcio à citricultura

A utilização do Ca na citricultura pode proporcionar benefícios às plantas, como translocação de carboidratos e nutrientes, melhorias na qualidade dos frutos e na fotossíntese. Uma planta bem nutrida em Ca tem maior resistência à infestação de doenças e consegue transportar com mais facilidade os nutrientes para a parte aérea da planta.

O uso cumulativo de Ca produz altos rendimentos ao longo dos anos; a utilização do nutriente também tem um efeito significativo na redução de muitas desordens fisiológicas que podem ocorrer no fruto. Pode gerar benefícios também na longevidade da cultura, uma vez que a utilização de fontes como nitrato de cálcio pode diminuir a incidência de doenças fúngicas.

Além disso, a aplicação foliar de Ca pode evitar rachaduras nos frutos cítricos, reduzindo os danos na casca (rachamentos) e evitando colapso do albedo (Creasing), que são portas de entrada para doenças fúngicas e bacterianas.

Alguns estudos com citros vêm apresentando resultados positivos com aplicação de Ca via adubação foliar e fertirrigação, que promovem melhorias significativas no pegamento dos frutos, promovendo incremento na produção e reduzindo perdas de frutos.

Esses benefícios ocorrem porque o cálcio é responsável pela estabilidade estrutural e fisiológica dos tecidos das plantas.

Manejo

A principal forma de fornecimento de cálcio para as culturas é pela aplicação de corretivos e condicionadores de solo, como o calcário e o gesso agrícola, respectivamente. A quantidade a ser aplicada é definida em função dos resultados da análise química do solo das camadas de 0 – 20 e 20 – 40 cm.

 O cálculo para estimar a quantidade de calcário a ser aplicada deve ser feito levando em consideração a elevação da saturação por bases (V) para 70%. Os maiores benefícios do calcário ocorrem com a aplicação antecipada, distribuição uniforme e incorporação profunda. Nesse sentido, deve-se realizar a aplicação com a maior antecedência possível ao plantio.  

O calcário pode ser aplicado em área total ou nas faixas de plantio. Para garantir um maior efeito residual, pode-se fazer o uso de um calcário com menor PRNT, ou quando aplicado na faixa de plantio, pode-se utilizar uma dose 50% superior à recomendada pela análise de solo, e incorporar com grade pesada. Deve-se dar preferência ao calcário dolomítico, que apresenta maior teor de magnésio.

Em pomares já estabelecidos, nas quais a adequada correção do solo foi feita, conforme indicado anteriormente, deve-se aplicar o calcário na superfície, direcionando o corretivo de forma que 70% seja aplicado na projeção da copa e 30% na entrelinha de plantio.

Em camadas subsuperficiais com baixos teores de Ca e/ou elevados teores de Al trocáveis, ocorre menor desenvolvimento do sistema radicular, resultando em menor volume de solo explorado, ou seja, menos nutrientes e água disponíveis para a cultura.

Dessa forma, a melhoria do ambiente radicular dessas camadas é dada pela aplicação de gesso.

Além da aplicação via solo, quando em caso de deficiência do nutriente, constatada por análise de solo e/ou foliar, recomenda-se realizar a aplicação de Ca via foliar, após o florescimento, com solução contendo cloreto de cálcio ou nitrato de cálcio.

Com a melhoria do desenvolvimento do fruto, observa-se maior produtividade e qualidade dos frutos produzidos.

Custo-benefício

Os corretivos e condicionadores de solo são insumos relativamente baratos, variando de R$ 70,00 a R$ 120,00 a tonelada, o que propicia aos produtores alto retorno em termos de benefícios econômicos e sociais.

A calagem, além da neutralização da acidez do solo, melhora a eficiência dos fertilizantes e a absorção de nutrientes pelas plantas. Aumenta, ainda, a disponibilidade de nutrientes do solo, como nitrogênio, fósforo, enxofre e molibdênio, além de suprimento de cálcio e magnésio presentes no calcário.

Melhora as condições químicas do solo à medida que diminui a concentração de elementos tóxicos na solução do solo, permitindo, assim, maior desenvolvimento do sistema radicular das plantas.

Estimula a atividade e aumenta a população microbiana do solo, em consequência do aumento de pH e dos teores de cálcio e magnésio. Nessas condições, maiores quantidades de nitrogênio são fixadas pelos microrganismos, e a decomposição dos resíduos vegetais é mais rápida.

Por outro lado, o uso do gesso promove alterações químicas no solo, principalmente nas camadas subsuperficiais, favorecendo o desenvolvimento das raízes em profundidade, estimuladas pela absorção de água e nutrientes em camadas mais profundas do solo.

Essa condição confere maior tolerância às plantas em condições de déficit hídrico no solo, durante a ocorrência de veranicos e nos períodos em que há redução dos índices pluviométricos, com menor disponibilidade de água no solo.

Direto ao ponto

Os erros mais comuns estão relacionados à aplicação desuniforme e à incorporação incorreta do corretivo. No primeiro caso, tem-se como consequência manchas de solos ácidos; no segundo caso, pode-se ter o que chamamos de “supercalagem” na camada superficial, o que pode levar à deficiência de micronutrientes catiônicos, além de limitar o desenvolvimento do sistema radicular devido à falta de correção do solo em profundidade.

Isso compromete a produtividade em função do menor aproveitamento da água e menor eficiência do uso de nutrientes. 

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