Vinicius Alves dos Santos
vini_santos2008@hotmail.com
Endrik Jhonatan dos Santos Miranda
endrikmiranda.agro@gmail.com
Graduandos em Agronomia – Centro Universitário de Ourinhos (Unifio)
Adilson Pimentel Júnior
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e professor – Unifio, Ourinhos (SP)
adilson_pimentel@outlook.com
A cana é uma das culturas de maior produção no Brasil, somando mais de 8,6 milhões de hectares de área colhida. Como várias culturas agrícolas, ela é atacada por pragas que causam prejuízos diversos.
Uma das pragas-chave é a cigarrinha-da-cana-de-açúcar (Mahanarva fimbriolata), com prejuízos da ordem de 80% na produtividade agrícola e na qualidade industrial da matéria-prima. Dessa forma, adotar boas técnicas de manejo é de extrema importância.
Como agem
Com seu ataque na fase de ninfa, produzem uma espuma na base das raízes superficiais onde se alimentam. Com isso, ela deteriora as raízes, causando necrose dos tecidos radiculares e a desidratação dos vasos condutores, que implicará na parte aérea da planta, pelo fato de não receber os nutrientes e água nas quantidades necessárias.
Desta forma, como consequência, a planta começa a demonstrar, como sintomas mais comuns, estrias amareladas no limbo foliar que, com o passar do tempo, se tornam avermelhadas e, em seguida, opacas, reduzindo vagarosamente a capacidade de fotossíntese das folhas e o conteúdo de sacarose do colmo, que provoca perda de peso e açúcar.
Este é um grave problema para o setor industrial na extração e fabricação de subprodutos, visto que bordos enrolados e os colmos da cana-de-açúcar podem ficar ocos, desenvolver rugas e rachaduras na superfície externa e sofrer redução da espessura.
Já na fase adulta, por apresentar o aparelho bucal do tipo picador-sugador completamente desenvolvido, ele consegue sugar os colmos e até a seiva das folhas da cana, especialmente das mais novas, para se alimentar.
Os tecidos vegetais contaminados com a toxina do inseto ficam contaminados por diversos microrganismos e passam a apresentar uma coloração escura e um aspecto aquoso. Isso prejudica o crescimento de toda a planta, desde o colmo e entrenós até as raízes subterrâneas.
Ciclo da cigarrinha
O ciclo de vida da cigarrinha-das-raízes apresenta duração de 60 dias, podendo se estender até mais ou menos a 80 dias. Nesse período ela passa por três fases de desenvolvimento: a de ovo, ninfa e adultos.
Esse fato possibilita a presença de três gerações da praga a cada safra da cana-de-açúcar. Durante esse período, a fêmea gera, em média, 340 ovos sobre o colmo da planta que, em média, levam de 15 a 20 dias para eclodir dentro das condições que os favorecem.
Após eclodirem, surgem as ninfas, que se fixam nas raízes e radicelas da cana-de-açúcar, onde sugam a seiva. A primeira geração de ninfas é pequena em decorrência da diapausa dos ovos, ou seja, em parada prolongada do desenvolvimento, porém, com potencial suficiente para se desenvolver até a fase adulta, que coincide com a postura da segunda geração, que geralmente ocorre entre dezembro e janeiro.
Nesta fase, a ocorrência da praga se manifesta de forma mais intensa, pois a umidade e o fotoperíodo são maiores.
As ninfas permanecem cerca de 20 a 70 dias nesse local, período que depende das condições ambientais, onde excretam a espuma de alta densidade. Depois disso, os insetos passam por cinco mudas, até se tornarem adultos.
Deste modo, é importante realizar um acompanhamento constante das lavouras para iniciar o manejo logo nos primeiros ciclos de vida da praga. Para realizar o controle dessa praga, recomenda-se iniciá-lo quando forem encontradas populações superiores a três ninfas por metro.
Prejuízos
A cigarrinha-das-raízes reduz de 15 a 80% a produtividade da cana, e em torno de 30% a qualidade da matéria-prima devido ao seu hábito alimentar, que leva a planta a desenvolver sérios problemas para o produtor.
Elas já causam prejuízos desde sua fase de ninfa, devido à extração de abundante de água e nutrientes das raízes, redução de açúcar nos colmos, aumento do teor de fibra, entrenós mais curtos, brotação de gemas laterais, murchamento e aumento dos colmos mortos, que diminuem a capacidade de moagem da cana.
Além disso, observa-se aumento do teor de contaminantes, o que dificulta a recuperação do açúcar e inibe a fermentação.
É sempre bom manter o monitoramento da lavoura em dia a fim de garantir o máximo controle não só com a cigarrinha, mas com outros invasores, para sempre tomar a decisão no momento correto e não deixar que o indivíduo interfira na lavoura, trazendo grandes prejuízos ao produtor.
Controle
Como já mencionado, é sempre importante manter o monitoramento constante da lavoura, sendo ideal que o produtor comece a monitorar no início do período chuvoso (20 a 30 dias após esse período), o que possibilita o acompanhamento do desenvolvimento dos insetos.
O produtor pode ter como base a quantidade de insetos identificados no monitoramento. O nível de controle (NC) é atingido quando são identificadas de três a cinco ninfas/metro e 0,5 a 0,75 adultos/cana.
Quando se encontram 10 ninfas/metro linear de sulco e 1 adulto/cana, já indica que a infestação atingiu o nível de dano econômico (NDE). Para realizar o controle dessa praga, podemos utilizar três métodos: controle cultural, biológico e químico.
Controle cultural: nesse método de controle, suas ações estão ligadas ao ambiente da cultura, ou seja, um local que não seja atrativo para a cigarrinha, como exemplo: retirar toda a palhada, deixando o solo exposto, pois isso aumentará a temperatura do solo e reduzirá a umidade do local, o que dificulta a evolução dos ovos para diapausa.
Evitar o plantio direto nas áreas com histórico de infestações, já que existem chances de o local já estar contaminado, utilizar variedades resistentes, como, por exemplo, a SP79-1011. As variedades RB72454, SP81-3250 e SP80-1842 são mais suscetíveis à praga.
Controle químico: é o método mais utilizado para eliminar o problema da cigarrinha, especialmente em grandes áreas de plantio. Ninfas e adultos precisam de produtos diferentes para serem controlados.
Para controlar ninfas, deve-se optar pelos produtos thiamethoxam ou carbofuran granulados. Se os insetos presentes já estiverem na fase adulta, recomenda-se a aplicar inseticidas seletivos para que estes não matem também inimigos naturais presentes na área.
A rotação de diferentes mecanismos de ação é uma prática que ajuda a evitar o surgimento de populações de cigarrinhas resistentes aos ativos disponíveis no mercado.
Controle biológico: pode ser feito a partir da soltura dos inimigos naturais da cigarrinha-das-raízes no canavial, como a mosca Slapingogaster nigra, um predador natural das ninfas da cigarrinha. Na maioria das vezes, esse tipo de controle também é realizado com a aplicação do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae, conhecido como fungo-verde, que serve tanto para ninfas quanto para adultos.
Deve-se aplicar uma dose de 200 gramas por hectare do fungo, usando 250 litros de água/hectare. Para haver sucesso na ação do fungo, algumas condições são essenciais: temperaturas amenas (entre 25 e 27°C), umidade alta e o uso de um fungo de qualidade, sempre aplicando na umidade elevada seguida de veranico.
Desafios do setor
Uma das grandes problemáticas enfrentadas pelo setor da cana é a preocupação crescente com os menores índices de controle alcançados atualmente com as moléculas disponíveis; o aumento do custo de produção e a falta de consenso sobre a melhor forma de aplicação de inseticidas.
O consultor da Global Cana, Francisco Garcia, por sua vez elencou dez passos para o manejo integrado da cigarrinha-das-raízes, os quais, segundo ele, são de grande importância para se obter o sucesso, que são: monitoramento, planejamento, indicadores secundários, manejo de palha, momento de aplicação, tecnologia de aplicação, controle químico, controle biológico, zoneamento e conscientização.
“A cigarrinha é uma praga que ainda provoca enorme dano, por falta de um manejo correto”, disse Garcia.
Novidades
Empresas do setor estão lançando inseticidas indicados para o início das chuvas, para controlar a primeira geração da praga. Esses produtos trazem alguns atributos, com novo modo de ação que vai combater as populações de difícil controle e a seletividade a inimigos naturais, como a Cotesia e o Trichogramma, que são agentes biológicos que controlam a broca, por exemplo.
É interessante que o inseticida seja sistêmico, de contato e ingestão, bem como consiga controlar todas as fases da cigarrinha-das-raízes, com efeito de choque e residual.
Controle já na primeira geração
Para você entender melhor, os ovos começam a eclodir no início de outubro devido às condições favoráveis de umidade de solo proporcionadas pelas chuvas da Primavera. E essa eclosão de ninfas, a partir dos ovos viáveis que sobreviveram ao período de seca de aproximadamente sete meses, terá influência no aumento da população na segunda, terceira e, eventualmente, quarta geração, que não é comum acontecer.
Então, se estivermos preparados para atacar essa primeira geração, praticamente eliminam-se os riscos das próximas gerações.
Custo
Para o controle químico, existem muitos inseticidas registrados no mercado, portanto, escolha o que mais se adequa à sua fazenda em relação ao custo/benefício. Geralmente, o custo mínimo dessas aplicações é de R$ 300,00 por hectare.
Busque sempre o que for eficiente e que esteja em seu orçamento, analise, faça uma busca no mercado, veja quais métodos de controle serão mais eficazes e rentáveis, e faça sua escolha. Conforme o tempo passa, o valor dos produtos sofre alterações.