Autores
Rafael Simoni
Engenheiro agrônomo e consultor técnico em Hidroponia
rafaelsimoni@agronomo.eng.br
Alessander Weiller Fröhlinch
Engenheiro agrônomo, representante comercial e projetista de estufas agrícolas e sistemas hidropônicos
alessander.wf@hotmail.com
Márcio Adriano Kaiser
Engenheiro agrônomo, representante e desenvolvedor de variedades Hortifrúti
kaiser.marcio@gmail.com
A rúcula (Eruca sativa) é uma hortaliça folhosa que vem tendo aumento de demanda em razão de seu sabor diferenciado tanto para consumo em saladas como componente na elaboração de pratos gourmet e em função de seus diversos benefícios à saúde humana. Esse aumento de demanda gerou, consequentemente, uma busca por aumento de produtividade, e a hidroponia surgiu como uma alternativa para se conseguir ótimos resultados, tanto em produção total como em produtividade por unidade de área plantada e por tempo, quando comparada ao sistema de produção convencional, em canteiros.
Tomando como exemplo o sistema hidropônico NFT, em perfis, onde circula a solução nutritiva, o incremento de produtividade é possível em virtude de aumentar a densidade de plantas em até 35% por unidade de área. Além disso, como esse sistema geralmente está em ambiente protegido, a planta pode expressar melhor o seu potencial de produção, já que está num microclima mais apropriado, diminuindo os efeitos de fatores externos negativos, como insolação excessiva, geadas, pragas e doenças.
Entre um e outro
Enquanto em canteiros o ciclo médio varia de 32 a 40 dias após a semeadura, no sistema NFT, onde a semeadura é feita em espuma fenólica, a colheita pode chegar a ser feita até antes de 26 dias após a semeadura, um ganho mínimo de seis dias, ou seja, mais de 18%.
Também deve ser considerado o fato de que na hidroponia não se faz necessário refazer canteiros. Isso permite que se possa aproveitar novamente a área imediatamente após a colheita, sem necessidade de correções de solo, rotação de culturas e preparo de novos canteiros. Esse pequeno detalhe pode fazer render dois ou até mais ciclos no decorrer de um ano, ou seja, aumento de 16% ou mais em um período de um ano.
Considerando estes principais fatores, o aumento de produtividade na hidroponia pode facilmente alcançar e até ultrapassar os 50% de incremento em produtividade.
Manejo
Esse aumento de 50% ou mais na produtividade é possível quando a técnica de hidroponia é implantada e operacionalizada da forma mais fiel possível ao que é proposto por ela.
A estufa deve ser construída de modo a oferecer o máximo de conforto às plantas, visto que no Brasil o verão é considerado quente. O ideal é que a estrutura disponha de tela de sombreamento para os dias e horas mais quentes, pois a temperatura recomendada para o cultivo da rúcula é de 15 a 18ºC.
A primeira etapa do processo de produção consiste em realizar a semeadura da rúcula em espuma fenólica. Pode-se também produzir as mudas em bandejas de plástico ou poliestireno com substrato, todavia, em muitos casos esse tipo de muda não apresenta o mesmo desempenho que a produzida em espuma fenólica.
Na espuma fenólica colocam-se de 10 a 12 sementes por célula de 2,0 x 2,0 x 2,0 cm, mantendo a umidade da espuma, mas sem excessos. Em aproximadamente 24 a 30 horas, a semente já rompe completamente o tegumento e são visíveis as primeiras radicelas e folhas. A partir desse momento, as espumas contendo as sementes germinadas devem ir para uma bancada onde passam a receber solução nutritiva de três a seis vezes por dia, dependendo da condição climática da época.
Permanecem nesse local de seis a oito dias, quando atingem cerca de cinco centímetros de altura. Deve-se prestar muita atenção nesta fase de muda, pois é a mais crítica e suscetível a doenças. É recomendado não exagerar na irrigação, para que não provoque o tombamento das mudas.
Ao atingirem cinco centímetros de altura são transferidas para as bancadas de crescimento, ou bancada final, como é também conhecida. Tais bancadas devem ser construídas com inclinação mínima de 5%, ou seja, desnível de cinco centímetros por metro de perfil/calha.
Os perfis ou calhas para rúcula disponíveis no mercado vêm por padrão com furos de 4,0 cm de diâmetro e 12,5 cm de distância entre si. Em cada perfil, o fluxo de solução nutritiva que apresenta melhores resultados de produção é de aproximadamente 1,2 litro por minuto. A bomba deve ser dimensionada de acordo com o número de bancadas para atingir esse volume de solução em cada perfil.
A solução nutritiva utilizada geralmente é a proposta por Pedro Furlani, ou baseada nela, conforme tabela a seguir:
Nome do sal | g./ 1.000 L |
Nitrato de cálcio | 750 |
Nitrato de potássio | 500 |
MAP (mono amônio fosfato) | 150 |
Sulfato de magnésio | 420 |
Ferro EDDHA 6% | 30 |
“Cocktail” de micronutrientes | 10 a 20 (consultar a recomendação do fabricante) |
A frequência e os intervalos entre uma irrigação e outra deverão ser estabelecidos de acordo com a necessidade específica de cada produtor e época do ano. Variáveis climáticas como temperatura, ventos, radiação solar e umidade relativa do ar, bem como inclinação das bancadas e tipo de perfil/calha são os principais fatores que devem ser considerados no momento de programar as irrigações.
Lembrando que a rúcula não tolera encharcamentos, logo, deve-se atentar para as irrigações não serem muito demoradas. O recomendado é que durante o dia seja feito em ciclos de 10:10 minutos, ou seja, irrigue 10 minutos e pare 10 minutos. À noite, o recomendado é fazer uma irrigação de 10 minutos a cada hora.
A colheita é feita retirando a planta inteira do perfil, e os maços devem ser acondicionados preferencialmente em embalagem apropriadas. As embalagens cônicas são uma alternativa interessante, pois, além de preservar os maços, deixam o produto com um aspecto visual muito atrativo ao consumidor. Entre o período da colheita e a entrega, os maços deverão ser acondicionados em ambiente fresco, evitando a insolação.
Pragas e doenças
As principais pragas da rúcula são lagarta rosca (Agrotis ipsilon); afídeos (Brevivoryne brassicae); pulgão (Aphis spp.); larva minadora (Lyriomisa spp.) trips ou tripes (Frankliniella spp e Thrips spp.) e fungus gnats (Bradysia spp.). Recentemente tem se tornado mais frequente os ataques de tripes e de fungus gnats.
As doenças que comumente são encontradas na cultura da rúcula são podridão-negra (Xanthomonas campestris); podridão-mole (erwinia carotovora var. carotovora); míldio (Peronospora parasitica); ferrugem branca (Albugo cândida) e tombamento da muda ou damping-off (Rhizoctonia solani, ou Pythium spp.).
O produtor deve manter o ambiente sempre higienizado, fazer o recolhimento de restos culturais, evitar o crescimento de vegetação nos arredores da instalação e manter sempre a solução nutritiva balanceada, para assim evitar o aumento populacional destas pragas.
Como o ciclo da rúcula é relativamente curto, os tratamentos fitossanitários devem ser evitados, e para o controle é recomendado o uso de programas de manejo integrado de pragas e/ou doenças. Vale ressaltar que apenas um engenheiro agrônomo pode indicar o tratamento mais adequado para cada caso.
Para implantar a técnica e passar a produzir rúcula em hidroponia, apesar de parecer simples, o recomendado é que o produtor busque sempre informações atualizadas, que vão desde informações sobre o manejo, como também das estruturas, materiais e insumos. O sucesso na produção depende de um projeto elaborado adequadamente, do emprego de bons materiais e insumos e das corretas decisões de manejo que o produtor tem que tomar no dia-a-dia.
Erros
Os erros mais comuns são os que dizem respeito às práticas de manejo. Na maioria das vezes, são “inventados” processos ou operações que num primeiro momento parecem facilitar ou diminuir o tempo da tarefa, e em alguns casos ocorrem eventos desagradáveis devido à negligência.
A hidroponia permite uma produção maior, mas em contrapartida exige maiores cuidados. O recomendado para se evitar problemas é seguir sempre as recomendações e agir no momento certo.
Seguir as recomendações à risca, apesar de em determinadas situações parecer mais trabalhoso, é o fator determinante para a produção ser muito boa, e assim o produtor aproveitar esse ganho em seu favor.
A campo cada vez mais produtores estão migrando para a hidroponia, não somente para garantir a produção nas diferentes épocas do ano, como também pela percepção de que o produto tem ótima qualidade e grande aceitação no mercado e, por fim, pelo aumento de produção quando comparado ao cultivo convencional.
Custos
As estufas, os perfis e os equipamentos produzidos atualmente têm muita tecnologia agregada, o que contribui para aumentos da produção, bem como para a melhoria das condições de trabalho do produtor.
Existem diversos tipos de materiais, com diferentes custos, e o produtor deve fazer uma análise criteriosa para adquirir um produto que seja versátil, prático e que tenha uma boa durabilidade.
Para exemplificar, uma estufa de 7,0 m de largura x 51 m de comprimento, construída em aço galvanizado, com proteção anti-inseto, perfis em canos retangulares de PVC, com a capacidade de produção de cerca de 9.000 maços/mês de rúcula custa ao produtor algo em torno de R$ 70.000,00, já montada.
Supondo o valor de venda de cada maço a R$ 1,60, o valor bruto mensal da venda é de R$ 14.400,00. Considerando que o custo de produção seja algo em torno de R$ 1,10, já incluindo amortização e depreciação da estufa, insumos, mão de obra, energia elétrica e transporte, resulta uma sobra de até R$ 4.500,00/mês, para o projeto do módulo usado como exemplo.
É uma atividade considerada lucrativa, com uma ótima relação custo x benefício, em concordância com a análise do exemplo aplicado anteriormente.