Autores
Vanessa Alves Gomes – Engenheira agrônoma, mestre em Fitopatologia e doutoranda em Proteção de Plantas – UNESP/Botucatu – vavvgomes@gmail.com
Carolina Alves Gomes – Graduanda em Agronomia – Universidade Federal de Viçosa (UFV/CRP) – carol.agomes11@gmail.com
A podridão branca é uma doença causada por um fungo chamado Sclerotium cepivorum. Este fungo não produz esporos funcionais conhecidos. As únicas estruturas reprodutivas conhecidas são os escleródios, que são também estruturas de resistência.
Na ausência de plantas hospedeiras no campo, os escleródios podem permanecer dormentes no solo por longos períodos de tempo, podendo ultrapassar oito anos. Assim que o solo recebe alguma cultura do gênero Allium, ao começar a germinação estas espécies começam a liberar compostos voláteis, estimulando a germinação dos escleródios.
Isto ocorre por meio de micélios que podem surgir de diferentes pontos do escleródio. Os escleródios apresentam um formato arredondado e uma coloração escura.
Culturas e regiões afetadas
A podridão branca é considerada uma das principais doenças que ocorrem em espécies de Allium. Plantas deste gênero são bulbosas anuais ou bianuais e têm preferência por climas temperados. São culturas que variam a altura de 10 cm a 1,5 m, o tamanho dos bulbos pode variar e formam bulbilhos em torno do principal.
S. cepivorum atinge principalmente a cultura do alho (Allium sativum L.) e da cebola (Allium cepa L.), porém, pode atingir também alho-poró e cebolinhas.
No geral, a doença apresenta ocorrência generalizada nas principais regiões produtoras, como, por exemplo, regiões serranas de São Paulo, Minas Gerais e o Sul do País, no Rio Grande do Sul. Os danos nesses locais podem chegar a até 100%.
Condições favoráveis
A podridão branca ocorre principalmente em climas amenos e em locais com alta umidade no solo. Solos com temperatura entre 10 e 20ºC e com alta umidade favorecem a infecção e aceleram o desenvolvimento da doença. A podridão branca é mais severa em baixadas úmidas e em locais com excesso de irrigação.
Sintomas
A doença se manifesta principalmente no campo, em reboleiras. Nesse caso, é possível observar um subdesenvolvimento das plantas, apresentando amarelecimento na parte aérea e morte das folhas mais velhas. Posteriormente, são observados também sintomas de murcha, apodrecimento dos bulbos e um encharcamento da área infectada.
As raízes das plantas afetadas por Sclerotium cepivorum sofrem apodrecimento, perdendo seu papel estrutural e de absorção de água e nutrientes. Logo, as plantas são facilmente arrancadas do solo.
Em condições de alta umidade, as plantas infectadas pelo fungo apresentam, junto ao solo e sobre os bulbos, um crescimento micelial de coloração branca. Essa característica justifica o nome da doença ser podridão branca. Com a evolução desta há uma formação de micélios brancos e, posteriormente, uma produção de escleródios. Bulbos com a presença de escleródios apresentam a coloração escura.
Apesar de a doença se manifestar principalmente em reboleiras no campo, é possível detectar a podridão branca também nas plântulas e durante o armazenamento dos bulbos. As plântulas infectadas sofrem tombamento e, posteriormente, morrem devido à presença do fungo.
Medidas de controle
É importante, antes de instalar a cultura, conhecer a biologia do patógeno e compreender o desenvolvimento da doença no campo. Outro fator fundamental é conhecer a área e ter a certeza de que não há escleródios de S. cepivorum. Além disso, a escolha da época do plantio e de locais menos favoráveis ao desenvolvimento da doença são fatores primordiais na fase inicial do cultivo de cebola e alho.
Em áreas infestadas com este fungo, fazer uso de práticas como a rotação de culturas e o uso de materiais resistentes é pouco viável. Isso se deve às características da doença, à presença dos escleródios e de não haver opções de materiais resistentes no mercado.
No caso de áreas com baixa incidência da doença, os sintomas são observados em pontos isolados nas lavouras. Desse modo, é recomendada a retirada das plantas infectadas e o tratamento do solo com fumigantes. Em áreas relativamente pequenas é possível implantar a prática da solarização do solo, técnica que tem se mostrado eficiente no controle da doença.
Alguns fungicidas estão sendo utilizados no controle da doença e se mostraram eficientes no tratamento de mudas e bulbilhos antes do plantio, como, por exemplo, os produtos pertencentes ao grupo químico dicarboximida (iprodiona, vinclozolina e procimidona).
[rml_read_more]
Mas, vale ressaltar que escolher materiais propagativos livres do patógeno é uma prática fundamental do controle preventivo. Sempre que possível, os produtores precisam adotar medidas preventivas, pois elas apresentam menor custo e evitam a entrada do patógeno na área.
Visto a dificuldade de controlar os escleródios e o tempo que eles permanecem viáveis no solo, o controle preventivo não pode ser negligenciado.
Atuação dos fungicidas
Alguns fungicidas estão sendo utilizados no controle dos escleródios. Esses produtos atuam estimulando a germinação dos escleródios do fungo, visando sua erradicação. Como exemplo é possível encontrar os produtos do grupo químico triazol (diniconazol, tebuconazol), bem como o fluazinam, do grupo químico 2,6-dinitro-anilina, atuando no controle de outros patógenos formadores de escleródios.
É importante, portanto, reconhecer a dificuldade do controle de S. cepivorum. Patógenos que apresentam estruturas de resistência são mais difíceis de serem controlados. Assim, é importante realizar as medidas de controle preventivo para não deixar o patógeno entrar na área. Essa medida é a mais eficaz e menos onerosa no controle desta doença.
Em casos de aparições pontuais da doença, uma tomada de decisão rápida e precisa pode conter a doença. Se o controle não for iniciado logo após a aparição dos primeiros sintomas, dificilmente será possível erradicar o patógeno na área.
Além disso, o custo do controle fica muito elevado e dificulta o cultivo de alho ou cebola no local, pois as perdas de produtividade são altas.