Marina Guimarães Pacifico
Engenheira agrônoma, mestre em Fitopatologia e doutoranda em Proteção de Plantas (UNESP Botucatu)
O período chuvoso, aliado às altas temperaturas e umidade, é o clima perfeito para o ataque das bactérias em hortaliças, principalmente pseudomonas, Xanthomonas e Erwinia.
No caso da alface de verão, os principais problemas são: podridão mole (Pectobacteriumcarotovorumsubs. carotovorum = Erwinia spp.), mancha bacteriana (Xanthomonasaxonopodispv. vitians) e mancha cerosa = mela (Pseudomonascichorii).
Prejuízos
A podridão mole causa murcha nas folhas externas, sendo que plantas próximas à colheita são mais suscetíveis. Com o progresso da doença, a medula do caule torna-se encharcada, macerada e esverdeada. Em estágios avançados, toda a planta torna-se apodrecida, e dessa maneira fica inviável para consumo.
As perdas causadas por essas bactérias são muito grandes. Dependendo de sua incidência na área, pode inviabilizar a produção. As alfaces com sintomas de podridão mole ficam inviáveis para comercialização e consequentemente para o consumo.
No caso da macha bacteriana, a bactéria penetra por aberturas naturais (estômatos e hidatódios) e provoca manchas angulares de aspecto encharcado, sendo delimitadas pela nervura, observadas nas folhas baixeiras.
Quando as lesões começam pelas margens, têm o formato da letra ‘V’. Dependendo da severidade da doença e das condições ambientais, há relatos de perdas de mais de 50% na produção devido à sua ocorrência.
As plantas com sintomas ainda podem ser comercializadas, desde que as folhas danificadas sejam retiradas. De qualquer forma, a doença causa diminuição da produção, devido ao menor peso das alfaces.
A mancha cerosa pode ocorrer em todas as regiões produtoras, pois a bactéria tem capacidade de se desenvolver em amplo espectro de temperatura (05 a 35ºC). Os sintomas são manchas necróticas isoladas no centro ou bordos do limbo foliar, podendo também atingir extensas áreas da nervura central e destruir extensas áreas do limbo foliar.
Os sintomas podem surgir como uma podridão marrom escura ao longo da nervura central das folhas mais internas, sem afetar as folhas externas. Assim, a doença é percebida na época de colheita, e dependendo das condições climáticas favoráveis, como elevada umidade e quantidade de inóculo existente na área de plantio, podem ocorrer perdas parciais ou totais para o produtor, pois as alfaces atingidas ficam inviáveis para consumo.
Condições para a doença
A podridão mole ocorre principalmente no verão, pois há condições ideais para o crescimento da bactéria, como temperatura elevada, próxima de 30°C, e alta umidade do solo, principalmente onde há irrigação em excesso.
Ferimentos na planta provocados pelos tratos culturais, insetos e vento favorecem a infecção. A bactéria não é transmitida pela semente, mas pode sobreviver no solo em restos de culturais, favorecendo o aparecimento dos sintomas em cultivos sucessivos. Os solos mal drenados favorecem o ataque, pois a alta umidade possibilita o desenvolvimento da bactéria.
A mancha bacteriana ataca em condições de alta umidade (90%), provocadas por neblina, irrigação por aspersão ou chuva. A bactéria penetra por aberturas naturais. A faixa ótima para desenvolvimento da bactéria é de 25 a 28°C. A dispersão da bactéria ocorre por meio de água da chuva, a qual ocasiona ferimentos nas folhas de alface, facilitando a penetração das bactérias.
A mancha cerosa é favorecida por amplo espectro de temperatura (5 a 35°C) e por excesso de umidade. A doença pode se originar em restos culturais de plantas infectadas, solo infestado ou a partir de outras hospedeiras presentes na lavoura ou arredores. A disseminação e a severidade da doença são favorecidas pela irrigação por aspersão e adensamento de plantas.
Medidas preventivas
Para prevenir a podridão mole, recomenda-se plantar em espaçamentos que permitam a aeração entre plantas e evitar o excesso de nitrogênio na adubação, assim como solos encharcados e ferimentos nas plantas durante o manuseio,que serão porta de entrada para a bactéria.
Indica-se a rotação de culturas com gramÃneas para reduzir a população do patógeno no solo e evitar temperaturas muito quentes no verão, utilizando irrigação nos horários mais quentes do dia (altas temperaturas favorecem o desenvolvimento da bactéria).
Contra a mancha bacteriana é importante plantar sementes e mudas de boa qualidade, adquiridas de empresas idôneas (esta bactéria pode ser transmitida por sementes), fazer rotação de culturas com espécies de família botânica diferente da alface e eliminar os restos de cultura e as folhas atacadas pela doença, pois estas serão fonte de inóculo para plantas sadias ou para o próximo plantio (retirar da área).