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Bancadas hidropônicas: A declividade ideal para montar seu projeto

Autores

Rafael Campagnol rafcampagnol@hotmail.com

Glaucio da Cruz Genuncio glauciogenuncio@gmail.com

Elisamara Caldeira do Nascimento elisamara.caldeira@gmail.com

Doutores e professores – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Bancadas hidropônicas – Fotos: Glaucio Genuncio

A declividade das bancadas hidropônicas nada mais é do que a inclinação ou ângulo que o perfil hidropônico possui em relação ao nível do horizonte. Essa questão muitas vezes é subestimada pelos produtores, mas exerce grande influência nas características da solução nutritiva e, consequentemente, no crescimento e desenvolvimento das plantas.

 Incialmente, as inclinações recomendadas das bancadas eram pequenas, entre 2 a 5%. Essa pequena inclinação, apesar de trazer algumas vantagens, como viabilizar o uso de perfis mais longos (acima de 10 metros) e a manutenção de uma altura que facilita o acesso às plantas e o trabalho, frequentemente gerava um problema sério aos cultivos hidropônicos em regiões tropicais – o aquecimento excessivo da solução nutritiva.

Atualmente, o aquecimento da solução nutritiva é um dos maiores desafios (se não for o maior) da produção hidropônica em regiões tropicais. Temperaturas elevadas do meio de cultivo interferem no crescimento e desenvolvimento das plantas, na oxigenação da solução nutritiva, na absorção de nutrientes pelas raízes e na incidência de doenças de radiculares.

Em sistemas hidropônicos NFT (Nutrient Film Technique), o aquecimento da solução nutritiva pode ocorrer em vários pontos. No entanto, o principal local de aquecimento ocorre quando a solução percorre o perfil hidropônico, ou seja, sobre nas bancadas. Assim, quanto mais demorada for a passagem da solução nos perfis, maior será o aquecimento da solução.

Por esse motivo, para o cultivo de plantas em sistemas hidropônicos em regiões tropicais, a declividade dos perfis hidropônicos deve permitir um fluxo adequado da solução nutritiva e evitar o seu aquecimento excessivo.

Pesquisas

Infelizmente, até o momento não há muitas pesquisas científicas sobre a declividade ideal do perfil hidropônico para cultivos feitos em regiões tropicais. O que há são experiências vivenciadas por produtores e constatações de empresas e profissionais da área.

Por esse motivo, podem haver recomendações diferentes daquelas apresentadas nesse artigo. Antes de falar sobre as medidas, vale a pena ressaltar inicialmente as principais funções da declividade dos perfis hidropônicos, que são:

• Permitir que a solução nutritiva percorra os perfis de forma rápida, sem causar danos radiculares e o deslocamento das plantas para o seu interior (principalmente logo após o transplante das mudas);

• Evitar o aquecimento excessivo da solução nutritiva e, consequentemente, a redução da concentração de oxigênio dissolvido;

• Facilitar o acesso às plantas e os trabalhos de transplantio e colheita.

Para cultivos hidropônicos feitos em regiões tropicais, a declividade ideal dos perfis é entre 5 a 12%, sendo os maiores valores recomendados quando a temperatura do ambiente de cultivo é mais elevada e os menores valores para regiões de clima ameno ou estufas climatizadas. Cabe ressaltar aqui que, para facilitar as práticas culturais, como transplante das mudas e colheita, a altura dos perfis não deve ser superior a 1,2 metro ou inferior a 0,5 metro.

Outro ponto que precisa ser mencionado é que as bancadas hidropônicas são mais utilizadas para hortaliças folhosas, como alface, rúcula, almeirão, agrião e temperos. Para esse grupo de plantas, a declividade das bancadas não é definida por espécies, mas sim para facilitar os tratos culturais e evitar o aquecimento da solução nutritiva.

Manejo

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A declividade da bancada (ou perfis hidropônicos) pode ser expressa em porcentagem, como resultado da razão entre diferença da altura maior (parte superior da bancada) e altura menor (parte inferior da bancada) e o comprimento da bancada, multiplicada por 100.

A definição da declividade das bancadas é uma etapa importante e deve ser realizada no projeto técnico executivo da hidroponia. A aquisição de perfis sem a prévia definição da declividade pode dificultar ou inviabilizar que eles sejam instalados de forma adequada.

Antes da instalação das bancadas, primeiramente deve-se determinar a declividade do terreno. Terrenos planos são mais fáceis para calcular as alturas das bancadas. Por outro lado, terrenos inclinados podem apresentar a vantagem de permitir uma menor variação ou uma uniformização das alturas das bancadas.

Isso é possível quando o terreno possui declividade semelhante à das bancadas. Nesse caso, elas são instaladas no mesmo sentido da declividade, o que proporcionará uma altura igual em todos os pontos das bancadas.

Após avaliar a declividade do terreno, o produtor deve definir qual será a altura da parte inferior da bancada. Alturas menores que 0,5 m devem ser evitadas, pois dificultam os tratos culturais e aumentam os riscos de contaminação das plantas e da solução nutritiva por partículas presentes no solo.

Com uma das alturas definidas, calcula-se a outra altura da banca pela fórmula:

H = [(D x C)/100] + h

Exemplo prático:

Considerando que o terreno onde as bancadas serão instaladas é plano, o comprimento dos perfis hidropônicos é de seis metros, a altura da parte inferior é de 0,6 m e a declividade desejada é de 8%. Usando-se a fórmula acima, a altura da parte superior da bancada será de 1,08 m.

Relação com a produtividade

O uso de declividades inadequadas pode afetar drasticamente a produtividade e qualidade das plantas. Como mencionado anteriormente, declividades pequenas aumentam o tempo que a solução nutritiva permanece nos perfis hidropônicos e, consequentemente, acelera o seu aquecimento.

Com o aquecimento da solução ocorre a redução da concentração de oxigênio dissolvido. Essa condição (alta temperatura e baixa concentração de O2) interfere drasticamente em vários processos metabólicos das plantas.

Dependendo o grau de aquecimento do meio de cultivo, pode haver inibição do crescimento radicular, prejuízo na absorção de nutrientes, desbalanços nutricionais, aumento na incidência de distúrbios fisiológicos e redução no desenvolvimento e no acúmulo de matéria seca pelas plantas. Além disso, essa situação também favorece a incidência de doenças radiculares, como exemplo, Pythium e Pectobacterium.

Atenção

Os erros mais frequentes relacionados à declividade das bancadas são devido ao uso de declividades inferiores a 5% em cultivos hidropônicos realizados em locais quentes. Essa situação normalmente ocorre quando o produtor não realiza um projeto técnico da hidroponia e adquire as peças das bancadas sem consultar um especialista na área.

Uma situação que pode ocorrer, por exemplo, é a aquisição de perfis hidropônicos sem definir a declividade das bancadas com antecedência.

Supondo que um produtor hidropônico tenha adquirido perfis hidropônicos de 12 m de comprimento e no momento da instalação das bancadas ele resolva usar uma declividade de 8%, uma vez que a sua estufa possui pé-direito baixo e aquece muito nos horários mais quentes do dia – essa declividade é praticamente inviável de ser utilizada, pois mesmo com uma altura da parte mais baixa da bancada de 40 cm (que já é abaixo do recomendado), a parte superior da bancada ficaria com 1,36 m, o que dificulta muito o acesso às plantas, principalmente se o produtor ou funcionário tiver baixa estatura.

Nesse caso, o mais recomendado não seria a redução da declividade e sim a divisão dos perfis na metade e a instalação de bancadas com 6,0 m de comprimento.

Acertos

Como já visto anteriormente, a instalação de bancadas hidropônicas com parâmetros corretos é fundamental para o sucesso da hidroponia. Muitos erros e problemas podem ser evitados ou reduzidos com um bom projeto técnico executivo.

Para isso, recomenda-se que seja consultado um engenheiro agrônomo especialista em hidroponia ou empresas focadas em sistemas hidropônicos para auxiliar na elaboração de um projeto que se adeque às necessidades do produtor.

Algumas empresas especializadas em hidroponia vêm aperfeiçoando os sistemas hidropônicos, tornando-os cada vez mais eficientes. Um exemplo disso é o sistema hidropônico com perfis móveis, que consiste em perfis hidropônicos mais curtos dispostos paralelamente um ao outro em duas faixas no interior da estufa, com um único corredor central.

Essa forma de disposição dos perfis gera um maior aproveitamento da área da estufa e produtividade. Como os perfis são mais curtos, é possível usar declividades maiores, o que reduz o aquecimento da solução e favorece o desenvolvimento das plantas.

Custo-benefício

A declividade das bancadas pode afetar o custo de aquisição de um sistema hidropônico, pois quanto maior o seu valor, ou seja, quanto mais inclinada a bancada, menor deverá ser o seu comprimento. Como consequência, será necessário um maior número de bancadas para montar a hidroponia, que, por sua vez, exigirá um maior gasto com registros, canaleta de coleta, tubulações e algumas outras peças.

Apesar de apresentar um maior custo de implantação, os benefícios gerados por um sistema hidropônico bem dimensionado são significativamente superiores e, muitas vezes, fundamentais para o sucesso da hidroponia.

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