O Brasil apresentou durante a COP28 o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) traduzido para o português. O esforço foi realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em conjunto com o Pacto Global da ONU no Brasil. A iniciativa tem o objetivo de facilitar o acesso e ampliar a difusão das informações científicas mais recentes sobre mudança do clima para toda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
A apresentação da publicação foi realizada na COP28, em Dubai, no último sábado (2), no Pavilhão de Moçambique, durante evento oficial do Núcleo Lusófono. A publicação digital está disponível no endereço eletrônico do Sistema Nacional de Registro de Emissões (SIRENE) do Brasil.
O Relatório Síntese do Sexto Ciclo de Avaliação (AR6) do IPCC, lançado em março de 2023, nas versões do relatório completo (Longer Report) e Sumário para Formuladores de Políticas (Summary for Policymakers – SPM), concentra as principais informações sobre as mudanças globais do clima. O relatório consolida os dados que foram apresentados pelos grupos de trabalho e nos relatórios especiais ao longo do ciclo AR6, que apontou os avanços da ciência na atribuição da mudança climática como vetor de eventos extremos, no aprimoramento de modelos e na avaliação de impactos, e na indicação de caminhos para soluções. As mensagens são relevantes para subsidiar políticas públicas, considerando os resultados dos diferentes relatórios deste sexto ciclo do IPCC, como a necessidade de integrar as agendas de mitigação (redução de emissões de gases de efeito estufa) e de adaptação à mudança do clima com vistas ao desenvolvimento resiliente ao clima.
O relatório apresenta com alta confiança que reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa levariam a uma desaceleração perceptível no aquecimento global dentro de cerca de duas décadas, e também para mudanças discerníveis na composição atmosférica dentro de alguns anos. Essa base de avaliação da literatura científica, técnica e socioeconômica disponível fornece aos governos informações científicas que podem ser usadas no desenvolvimento de políticas climáticas nacionais e regionais, além de serem insumos para as negociações internacionais sobre mudanças climáticas.
A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) é formada por nove países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe. De acordo com a CPLP, o grupo de países abrange mais de 250 milhões de pessoas. Muitos países encontram-se na categoria de países menos desenvolvidos e podem estar entre os mais vulneráveis considerando os impactos da mudança do clima.
Segundo a CPLP, a língua portuguesa é o quinto idioma mais falado no mundo. O idioma não está entre as linguagens oficiais da Organização das Nações Unidas. Por isso, por iniciativa do governo brasileiro, a partir do Sexto Ciclo de Avaliação (AR6) do IPCC os relatórios especiais passaram a ser traduzidos e disponibilizados em formato digital nos sites do MCTI e do IPCC. A ação demonstra o engajamento do Brasil na pauta climática e a cooperação com os demais países lusófonos.
Para alguns dos países, ter o material técnico-científico no idioma nativo representa remoção de barreiras para engajamento e participação de especialistas e gestores públicos e privados em torno da agenda climática, como a implementação de ações nas áreas de mitigação, adaptação e tecnologia.
“A mudança do clima é o maior desafio da humanidade, e todos os esforços possíveis precisam ser empreendidos para enfrentá-lo. Por isso, o acesso ao conhecimento no idioma nativo é um mecanismo importante para assegurar, expandir as informações corretas, claras, de fonte fidedigna e que possam ser compreendidas na sua completude. A relevância desta tradução significa a garantia do direito à informação. Estamos afirmando nosso compromisso em remover barreiras para garantir o acesso às informações científicas e à ciência aberta”, afirmou a ministra Luciana Santos.
“O relatório traduzido é um grande esforço e acerto de todas as partes envolvidas. Quando se trata de mudanças climáticas, é preciso ser muito objetivo e derrubar qualquer barreira, dentre elas, a da língua. Tornar as informações científicas acessíveis a mais pessoas, empresas e países traz todos para a ação e permite que tudo seja mais assertivo”, acrescentou o CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, Carlo Pereira.
Thelma Krug, que foi vice- presidente do IPCC no período de 2015 a 2023, destacou a importância de ter as informações científicas e também as ilustrações e gráficos traduzidos para facilitar a utilização. Krug também salientou a preocupação para que a ciência feita no Sul Global tenha maior representativade na avaliação feita pelo IPCC. “Temos que colocar os nossos cientistas e especialistas guiados para serem autores do IPCC. Só assim conseguiremos ter maior participação dos nossos países em desenvolvimento. Para que no próximo relatório científico possa refletir [essa diversidade]”.
“Hoje, estamos vivendo uma crise climática e o momento exige que deem a parte de relevância científica para que os países possam produzir suas políticas. Eles precisam de informações científicas que ajudem os países a rapidamente a colocar as suas políticas públicas apoiadas na melhor ciência”, finalizou Thelma.