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quinta-feira, maio 2, 2024
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Calagem: quais as recomendações para o feijoeiro?

Crédito:Antônio Nolla

Araína Hulmann Batista
araina@ufu.br
Wedisson Oliveira Santos
wedisson.santos@ufu.br
Engenheiros agrônomos, doutores e professores – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
José Geraldo Mageste da Silva
Engenheiro florestal e professor – UFU
jgmageste@ufu.br

Para se estimar a necessidade de calagem (NC), em Minas Gerais dois métodos são oficialmente reconhecidos e utilizados: o “Método da Saturação por Bases” (Equação 1) e o “Método da Neutralização da Acidez Trocável e da Elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis” (Equação 2).

No método da “Saturação por Bases”, considera-se a relação entre pH e saturação por bases do solo (V1) e a relação entre V e o rendimento das culturas. Neste sentido, a cultura do feijoeiro tem apresentado rendimentos considerados satisfatórios com V1 entre 50 e 60%.

Conforme Equação 1, percebe-se que é necessário se conhecer previamente tanto a saturação por bases do solo (V2), através da extração dos teores de Ca, Mg, K e Na do solo, como a CTC pH 7 à V2,%=SB/T x 100, sendo SB = ∑(Ca, Mg, K e Na), e T= [SB + (H+Al)].

H+Al representa o tampão de acidez do solo, sendo também conhecido como acidez potencial, e determinado nas análises de rotina de fertilidade.

Acidez

No “Método da Neutralização da Acidez Trocável e da Elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis” (Equação 2) são consideradas características do solo relacionadas com o tamponamento de acidez (Y), que pode ser obtido a partir do teor de argila (Tabela 1) ou do teor de fósforo remanescente (Tabela 2).

Em relação à cultura, estabelece-se a tolerância máxima da mesma à saturação da acidez trocável na CTC efetiva do solo (mt) e exigência por Ca e Mg (X). Para o feijoeiro, consideram-se mt máximo de 20% e X mínimo de 2.0 cmolc dm-3.

Vale salientar que quando o resultado de um dos membros da equação, os quais estão separados pelo símbolo de adição (+), resultar em valores negativos ou nulos, não inviabilizará a recomendação por este método.

Neste caso, deve-se considerar a dose “positiva” obtida no outro membro. Valores negativos para quaisquer partes da equação devem ser considerados apenas como nulos (= 0).

Tabela 1. Valores de Y em função do teor de argila do solo

  Textura do Solo  Argila (%)  Y
Arenosa0,0-15,00,0-1,0
Média15,0-35,01,0-2,0
Argilosa35,0-60,02,0-3,0
Muito argilosa60,0-1003,0-4,0

Fonte: Alvarez V & Ribeiro (1999).

Tabela 2. Valores de Y em função do teor de fósforo remanescente (P-rem)

  P-rem (mg/L)  Y
0-44,0-3,5
4-103,5-2,9
10-192,9-2,0
19-302,0-1,2
30-441,2-0,5
44-600,5-0,0

Fonte: Alvarez V & Ribeiro (1999).

Critérios para decisão

É muito comum e até esperado que em muitos casos as doses de corretivos (NC) sejam contrastantes entre esses métodos. Assim, a decisão do produtor deve ser apoiada em critérios técnicos e financeiros.

Como primeiro critério técnico, a NC deve se situar entre o ‘X’ da cultura (menor dose) e o teor de ‘H+Al’ (acidez potencial) do solo. Assim, se estará garantindo que o suprimento de Ca e Mg atenderá à demanda do feijoeiro (X) e que a dose não causará elevação de pH para valores próximos a 7.0, o que seria possível se a dose se igualasse ou superasse o teor de H+Al do solo.

Lembrando a todos que, para uma camada de 0-20 cm de solo (2.000.000 dm3/ha solo), considerando um corretivo com PRNT igual a 100% e que seja aplicado em toda a superfície (100% da área), 1.0 t/ha do corretivo neutraliza o equivalente a 1,0 cmolc dm-3 de “H+Al”, que aparece no laudo da análise de solo.

A elevação do pH do solo para valores próximos a 7,0 pode diminuir a disponibilidade de micronutrientes metálicos, como Zn, Cu, Mn, Fe e Ni.

Uma vez superado o primeiro critério, deve-se preferir a maior dose, desde que o produtor esteja confortável financeiramente para tal. Maiores doses promoverão maiores efeitos residuais da calagem e o condicionamento maiores profundidades do solo, além da camada de incorporação mecânica, se for o caso.

Na medida certa

Crédito: Nilton Jaime

A quantidade de corretivo que será utilizada a partir da NC obtida com determinado método é tida como teórica, uma vez que indica a quantidade de CaCO3 (PRNT= 100%) incorporado na camada 0-20 cm de solo em 100% da área do terreno.

Portanto, é necessário calcular a quantidade de Corretivo (QC), levando-se em consideração tais variáveis (Equação 4). 

QC (t/ha) = NC x (SC/100) x (PF/20) x (100/PRNT)                 (Eq.3)

Sendo:

SC a superfície do terreno a ser coberta pela aplicação do corretivo (%);

PF a profundidade de incorporação natural ou mecânica do corretivo (cm), e;

PRNT o poder relativo de neutralização total do corretivo (%).

No momento certo

A calagem para plantio do feijoeiro deve ser realizada com antecedência mínima de quatro meses do plantio da cultura, desde que a umidade do solo seja satisfatória. Esse tempo deve ser estendido em caso de seca.

Por se tratar de um sal de baixa solubilidade, e por isso é comercializado obedecendo-se critérios de granulometria como pó, recomenda-se o uso de equipamentos com aplicadores gravimétricos, visando maior uniformidade na distribuição do corretivo.  

Gessagem

A recomendação de gesso para o condicionamento subsuperficial do solo (10-30 cm, 20-40 cm, 20-60 cm, 30-60 cm, etc) é indicada quando pelo menos um dos requisitos a seguir são atendidos para a camada subsuperficial: saturação por Al3+ no complexo sortivo (m) igual ou superior a 30%; acidez trocável (Al3+) igual ou superior a 0,5 cmolc dm3; ou teor disponível de Ca inferior a 0,5 cmolc dm-3. Portanto, maior será a probabilidade de resposta à gessagem pelo feijoeiro quanto mais crítico for o valor desses pré-requisitos.

Alvarez V. et al. (1999) propõem, na 5ª aproximação, estimar a necessidade de gessagem (NG) com base no teor de argila (Tabela 1 e Equação 1) ou no teor de fósforo remanescente (Tabela 2) da camada subsuperficial do solo.

ArgilaNG
g/kgt/ha
0-1500,0-0,4
150-3500,4-0,8
350-6000,8-1,2
600-10001,2-1,6

Fonte: Alvarez V. et al (1999).

Sendo Arg o teor de argila do solo, em %.                                                               

Tabela 4. Necessidade de gesso (NG) de acordo com o valor de fósforo remanescente (P-rem) de uma camada subsuperficial de 20 cm de espessura

P-remNG
mg/Lt/ha
0-41,7-1,3
4-101,3-1,0
10-191,0-0,7
19-300,7-0,45
30-440,45-0,21
                                       44-600,21-0,0

Fonte: Alvarez V. et al (1999).

Para os Estados de SP e GO a NG também pode ser obtida em função do teor de argila da camada subsuperficial e tipo de cultivo, conforme Equações 3, 4 e 5.

Recomendações

A aplicação de gesso pode ser realizada em qualquer época do ano, utilizando-se fosfogesso ou gipsita, conforme disponibilidade, assim como para calcários a aplicação em períodos secos é preferível visando reduzir os impactos sobre a estrutura do solo.

O custo da tonelada de calcário ou gesso varia muito em função da distância entre a unidade de produção e a propriedade, já que o preço de frete representa boa parte do custo desses insumos entregues na propriedade. Esses produtos podem ser adquiridos embalados em bags, mais caro, ou a granel.

Entre os insumos agrícolas na cultura do feijoeiro a calagem apresenta elevada relação benefício/custo. De fato, em solos com elevada acidez e, ou pobres em Ca e Mg a calagem é essencial para se obter produtividades compensatórias.

É viável?

O benefício da gessagem pode superar facilmente seus custos, para solos responsivos a esta prática. Importante informar que o benefício da gessagem pode não ser expressivo em anos com boa distribuição e elevados volumes de chuvas ou em áreas irrigadas, de elevado nível tecnológico, mas pode ser expressivo quando ocorrem veranicos em áreas não irrigadas, em solos com impedimentos químicos ao crescimento radicular em profundidade.

A aplicação de gesso já é uma prática comum nos campos de cultivo de grãos, especialmente na região do Cerrado. As produtividades podem ter incrementos bastante importantes. Em dados de pesquisa divulgados pela Embrapa, a diferença de produtividade para milho, trigo e soja foram de: 3,2 para 5,5 t/ha, 2,2 para 3,5 t/ha e 2,1 para 2,4 t/ha, respectivamente.

Para o feijão, apesar das pesquisas ainda estarem incipientes, já demonstram as mesmas tendências, cujo custo/benefício certamente compensam muito para o produtor rural.

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