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Cenoura orgânica tem alto valor agregado

A cenoura orgânica transcende seu valor nutritivo, ganhando também apreço pela sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente.

Veridiana Zocoler de Mendonça
Doutora em Agronomia e assistente agropecuária – Secretaria de Agricultura e Abastecimento – SAA/SP
veridianazm@yahoo.com.br

Peterson Cleber Teixeira dos Santos
Engenheiro agrônomo e assistente agropecuário – SAA/SP
agropeterson@gmail.com.br

A cenoura, cujo nome científico é Daucus carota, é uma hortaliça de grande importância na mesa do brasileiro, e está entre as hortaliças mais cultivadas em sistema orgânico.

O equilíbrio da natureza é a base do cultivo orgânico

No Brasil, a cultura ocupa área de cerca de 30 mil hectares, com produção de 900 mil toneladas de raízes (dados da Embrapa, 2011). A produtividade é influenciada pelo clima, ou seja, no cultivo de inverno varia entre 30 e 40 toneladas por hectare e no verão entre 20 e 30 toneladas por hectare.

Plantio

É possível o cultivo de cenoura durante todo o ano e em todas as regiões brasileiras, com exceção do norte, onde o cultivo ocorre apenas no inverno. Para tanto, as cultivares de cenouras são divididas em dois grupos: de inverno e de verão, sendo cada uma adequada para sua época de semeadura.

Para o cultivo de inverno são recomendadas cultivares do grupo Nantes, materiais exigentes em clima ameno, intolerantes à temperatura e pluviosidade elevadas. Já as cultivares do grupo Brasília são recomendadas para o cultivo de verão, por apresentarem adaptação à temperatura e pluviosidade elevadas.

A busca pelo equilíbrio

A busca por alimentos oriundos de sistemas de produção mais sustentáveis, como os orgânicos, é uma tendência que tem aumentado e se consolidado mundialmente. A produção de orgânicos está comtemplada na Lei Federal 10381, de 23/12/2003. 

Segundo a legislação, “considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente” (Artigo 1°, Lei 10.381/2003).

As cenouras orgânicas

A produção orgânica de cenoura envolve alguns desafios, a começar pela transição dos sistemas de cultivo. O investimento inicial pode ser maior para a conversão de práticas e adequação da estrutura existente.

Outro ponto é o próprio processo de certificação orgânica. Os produtos devem estar em conformidade com padrões e regulamentos específicos, o que pode implicar em custos adicionais com empresas certificadoras, detalhamento de documentação e auditorias constantes.

Em relação ao manejo do solo para a agricultura orgânica, o emprego de rotação de culturas, adubação verde e a compostagem demandam maior conhecimento e requerem mais tempo em comparação ao simples uso de fertilizante sintético no cultivo convencional.

Desta forma, o manejo do solo influencia diretamente a nutrição das plantas, sendo essencial manter a fertilidade do solo.

Fitossanidade

Para o controle de pragas e doenças, se faz necessário a compreensão detalhada do equilíbrio do ecossistema, com emprego de controle biológico e plantas repelentes em detrimento ao uso de agrotóxicos.

Entre as doenças, destacam-se as foliares, que estão entre os fatores mais limitantes para o cultivo de cenoura. Por isso, é importante o plantio com cultivares específicas, como a BRS Paranoá, desenvolvida pela Embrapa.

Entraves

No quesito mão de obra, a agricultura orgânica é mais dependente de trabalho manual para o controle de plantas daninhas e colheita seletiva, o que pode resultar em maiores custos.

A produtividade pode ser menor que a produção convencional, pois as práticas se limitam à utilização de produtos não sintéticos, respeitando o tempo de desenvolvimento da cultura.

Custo produtivo

O custo de produção se difere do cultivo convencional devido a práticas e requisitos específicos associados à agricultura orgânica. Para que um produto seja rotulado como orgânico, os agricultores precisam passar por um processo de certificação orgânica.

Isso pode envolver taxas e custos associados à documentação, inspeções regulares e conformidade com os padrões orgânicos estabelecidos pelas autoridades competentes.

Na agricultura orgânica, é dada ênfase à saúde do solo por meio de práticas como rotação de culturas, compostagem e uso de adubos orgânicos. Embora essas práticas contribuam para a sustentabilidade do solo, podem requerer mais tempo, esforço e recursos para serem implementadas, o que pode resultar em um custo operacional mais elevado em comparação aos métodos convencionais que utilizam fertilizantes sintéticos e agrotóxicos.

Do mesmo modo, para o controle de pragas e doenças são utilizados métodos naturais, como armadilhas, barreira física, controle biológico e rotação de culturas, o que torna o processo de cultivo mais trabalhoso e moroso.

As sementes orgânicas certificadas podem ser mais caras do que as sementes convencionais. Além disso, as variedades de plantas utilizadas na agricultura orgânica muitas vezes são escolhidas por sua adaptabilidade ao ambiente natural e resistência a pragas, o que pode impactar o custo inicial.

Em alguns casos, o rendimento por área cultivada na agricultura orgânica pode ser menor do que no cultivo convencional. Ainda, o tempo de crescimento pode ser mais longo. Isso pode influenciar os custos de produção, pois os agricultores orgânicos podem precisar de mais espaço de terra e tempo para obter a mesma quantidade de produto.

Contudo, apesar da agricultura orgânica normalmente apresentar custos mais elevados na produção comparada ao cultivo convencional, o preço dos produtos orgânicos compensa esta diferença, pois também apresenta valor maior na sua comercialização.

Otimização do sistema

Para otimizar os custos sem comprometer a qualidade, os produtores orgânicos podem investir na implementação de compostagem, com produção própria de insumo a partir dos resíduos orgânicos da propriedade, para reduzir a dependência da compra de fertilizantes.

Também pode investir nas práticas sustentáveis de manejo do solo, como a rotação de culturas e adubação verde que, a longo prazo, melhoram a fertilidade do solo naturalmente, e realizar monitoramento de pragas e doenças, lançando mão do controle biológico como medida preventiva para evitar grandes infestações.

Quanto à irrigação, realizar a captação de água da chuva, por exemplo, para diminuir a dependência de fontes externas e implementar práticas de irrigação eficientes, como a irrigação por gotejamento.

É importante apostar no uso eficiente de energia e explorar fontes de energias renováveis, como a solar, sempre que possível. Realizar parcerias locais e economia circular, estabelecendo troca de insumos e compartilhamento de conhecimento e recursos.

Ainda, é essencial fornecer treinamento adequado à equipe de trabalho, tornando a mão de obra mais eficiente no desenvolvimento das práticas de manejo. E na parte final da cadeia, reduzir os custos de distribuição por meio da venda local e marketing direto, comercializando diretamente o produto aos consumidores.

Ao combinar estratégias, os produtores orgânicos podem otimizar seus custos de produção, tornando a agricultura orgânica viável.

Valorização dos orgânicos

O consumo de orgânicos ainda representa um nicho do mercado, no entanto, é uma tendência mundial ver pessoas mais preocupadas com o consumo de alimentos mais seguros e saudáveis, sem o uso de agrotóxicos, aliado a um processo de produção ambientalmente e socialmente responsáveis. 

Nesse contexto, apesar de os produtos orgânicos apresentarem custo mais elevado quando comparados aos produtos convencionais, eles possuem garantia de venda. A diferença no valor de produtos orgânicos se torna mais expressiva quando a comercialização ocorre em grandes redes de supermercados, enquanto que em feiras a diferença entre os preços de alimentos orgânicos e convencionais é menor.

Há estudos que relatam diferenças quanto à qualidade em produtos orgânicos quando comparados aos produtos convencionais. Em vegetais foi obtido diferença em sabor e valor nutricional, como aumento do teor de ácido ascórbico (vitamina C), carotenoides e polifenóis em determinados vegetais.

Dicas para um manejo sustentável

Visando a sustentabilidade na produção orgânica de cenoura, pode-se adotar algumas práticas como o plantio intercalado, além de utilizar a área para cultivos mais adequados em determinadas épocas com possibilidade de bom retorno financeiro.

Essa prática ajuda a quebrar o ciclo de pragas e doenças da cultura da cenoura e reduzir a necessidade de insumos externos, como fertilizantes, pois pode haver ciclagem de nutrientes e aproveitamento mais eficiente em virtude da cultura intercalar empregada.

Desta forma, quando estiver sendo cultivada a cenoura, a qualidade e uniformidade de raízes tende a ser maior e melhor.

A programação de plantio e a escolha da cultivar são fatores diretamente relacionados à rentabilidade e a qualidade do produto. A cultivar deverá ser a recomendada para as condições climáticas do período visando reduzir os riscos associados ao clima e otimizar as condições de desenvolvimento da cultura.

O monitoramento da cultura também se faz estratégia importante para acompanhar as infestações de pragas, doenças e plantas daninhas, evitando ataques e competição por água e nutrientes.

A gestão de resíduos é uma prática muito interessante a ser implementada pelos produtores orgânicos, pois eles ajudam a reduzir o desperdício e minimizar o descarte, gerando fonte de adubo, como na compostagem, além de promover a sustentabilidade ambiental.

Pós-colheita

Na agricultura orgânica, é dada ênfase à saúde do solo

Os cuidados na pós-colheita também são pontos importantes, pois para que o produto final chegue com qualidade ao consumidor, é preciso dar continuidade ao trabalho realizado no campo, implementando práticas adequadas ao manuseio, beneficiamento, armazenamento e transporte.

O armazenamento e transporte devem se dar em temperatura e umidade adequadas para evitar a perda de massa fresca o que traz aspecto murcho e também desenvolvimento de doenças pós-colheita.

No transporte, também deve-se atentar ao tipo e à forma de acondicionamento, evitando ferimentos e machucados que reduzem o valor do produto e proporcionam o desenvolvimento de microrganismos, tornando o produto inviável para comercialização.

Vale a pena?

A agricultura orgânica enfatiza práticas agrícolas sustentáveis que respeitam o meio ambiente. Os consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos cultivados de maneira ambientalmente consciente, valorizando as práticas éticas e a responsabilidade social, com respeito aos trabalhadores agrícolas e o apoio a comunidades locais.

Por meio de uma produção ambientalmente consciente, a agricultura orgânica reduz a contaminação do solo e da água por resíduos químicos, o que é visto como benéfico para o meio ambiente e para a saúde humana.

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