Camila Queiroz da Silva Sanfim de Sant’Anna
Engenheira agrônoma e doutora em Produção Vegetal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)
agro.camilaqs@gmail.com
Matheus Roussenq
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
matheusrous@gmail.com
Paulo Henrique Santarosa
Engenheiro agrônomo – ESALQ/USP
santarosa.pauloh@gmail.com
O inseto- praga, segundo Gullan e Craston (2017), é todo artrópode capaz de provocar danos econômicos ao ser humano. Esse dano econômico é proporcional à densidade populacional das pragas, ou seja, será caracterizado por diferentes níveis populacionais para as pragas agrícolas.
O dano econômico pode ser direto, quando o produto com um fruto injuriado por uma mosca-das-frutas, e indireto, quando o dano não correr diretamente no produto econômico, mas o prejudicará indiretamente.
A mosca-branca se alimenta da seiva dos tomateiros, enfraquecendo-os. A sucção contínua de seiva pode levar ao amarelecimento e enfraquecimento das folhas, redução do crescimento e da produção de frutos.
Outro dano indireto muito comum consiste na transmissão de vírus pelo fator. Esses vírus são transmitidos quando a mosca-branca se alimenta de uma planta infectada e depois se move para outra planta saudável, espalhando a infecção.
Os vírus podem causar sintomas como o amarelecimento das folhas, enrugamento, deformações e redução na produção de frutos.
Vírus
Alguns dos principais vírus transmitidos pela mosca-branca são os seguintes:
● Vírus do mosaico do tomateiro (Tomato mosaic virus, ToMV): causa manchas amareladas ou mosaicos nas folhas do tomateiro, além de deformações e redução na produção de frutos.
● Vírus do enrolamento das folhas do tomateiro (Tomato leaf curl virus, ToLCV): é um dos vírus mais comuns transmitidos pela mosca-branca e causa o enrolamento e o amarelecimento das folhas, afetando o crescimento e a produção de frutos.
● Vírus do amarelecimento severo do tomateiro (Tomato yellow leaf curl virus, TYLCV): resulta em um amarelecimento intenso das folhas do tomateiro, redução no crescimento e na produção de frutos.
● Vírus do enrugamento do tomateiro (Tomato rugose fruit virus, ToRFV): causa enrugamento e distorção dos frutos do tomate, podendo levar a perdas significativas na qualidade e comercialização dos frutos.
Ciclo da praga
Os adultos da mosca-branca se alimentam na face inferior das folhas, em que pode ser encontrada também a fumagina, decorrente da excreção açucarada dessa espécie. O ciclo biológico tem de 14 a 27 dias.
A mosca-branca ataca as plantas em diferentes ambientes, como viveiros ou lavoura, procurando infestar, principalmente, as folhas jovens e os brotos. Os adultos sugam a seiva e diminuem a capacidade fotossintética da planta.
Quando ocorre a alimentação, os insetos injetam toxinas, as quais podem gerar anomalias nas plantas. A infestação severa pode ocasionar o nanismo, a murcha e até a morte de mudas e de plantas jovens.
O principal dano causado pela mosca-branca no tomateiro é a transmissão de vírus, especialmente o begomovírus e o crinivírus, que podem comprometer a produtividade das plantas.
Sintomas
Os sintomas das infecções por begomovírus variam, mas geralmente incluem o amarelecimento das folhas, o enrugamento, o encurtamento dos entrenós (espaços entre os nós), o encurvamento das folhas e a redução na produção de frutos. Em alguns casos, as plantas infectadas podem morrer prematuramente.
Dentre os begomovírus que afetam os tomateiros, o vírus do enrolamento das folhas do tomateiro (Tomato Leaf Curl Virus, ToLCV) é um dos mais comuns. Ele causa o enrolamento e o amarelecimento das folhas, afetando o desenvolvimento da planta e a qualidade dos frutos.
Entre os principais crinivírus transmitidos por essa praga estão o Tomato chlorosis virus (ToCV) e o Tomato infectious chlorosis virus (TICV). Esses vírus causam doenças conhecidas como clorose do tomateiro, que podem resultar em danos significativos nas plantas e redução na produtividade.
Os sintomas da infecção por crinivírus incluem clorose nas folhas, que se manifesta como áreas amareladas ou avermelhadas, redução no tamanho e deformação dos frutos, retardamento no crescimento das plantas e queda prematura das folhas.
Além disso, a transmissão desses vírus pela mosca-branca pode facilitar a infecção por outros patógenos, o que pode agravar os danos causados às plantas.
Resistência da praga
O manejo adequado da mosca-branca e dos crinivírus no tomateiro é essencial para minimizar os danos causados às plantas. As estratégias de controle mencionadas anteriormente, como o monitoramento, o controle cultural, o controle biológico e o uso seletivo de inseticidas, também são aplicáveis para o controle dos crinivírus transmitidos pela mosca-branca.
Além disso, é importante adotar boas práticas de manejo integrado, como o uso de variedades resistentes, a rotação de culturas, a limpeza adequada da lavoura e a capacitação dos agricultores para identificar os sintomas e tomar medidas adequadas de controle.
Historicamente utilizava-se inseticidas sintéticos no controle eficiente, porém, infelizmente o uso de inseticidas sintéticos no controle da mosca-branca do tomateiro está se tornando cada vez menos eficaz.
Entre os motivos está o fato de a mosca-branca ter desenvolvido resistência aos inseticidas sintéticos usualmente usados. A população desses insetos possui a capacidade de se adaptar e se tornar menos suscetível aos inseticidas químicos.
Além disso, o impacto ambiental desses produtos químicos é alto, por persistirem no ambiente por longos períodos, causando danos ao ecossistema, além do uso excessivo de inseticidas sintéticos poder levar à eliminação dos inimigos naturais da mosca-branca e permitir o aumento de outras pragas secundárias, o que pode agravar o problema.
Alguns inseticidas sintéticos utilizados para o controle da mosca-branca podem ter ação semelhante contra outras pragas. Se ocorrer resistência cruzada, ou seja, a resistência a um inseticida usado no controle de outra praga, isso pode reduzir ainda mais as opções de controle eficaz.
Solução
Para resolver a situação, surge o manejo integrado como forma de controle eficaz da mosca-branca no tomateiro. Esta é uma abordagem de controle de pragas que busca integrar diferentes estratégias para manter as populações de pragas abaixo do nível de dano econômico, minimizando o uso de produtos químicos.
Caso seja necessário o uso de inseticidas, é preferível utilizar produtos seletivos, que tenham menor impacto sobre os inimigos naturais da mosca-branca e outros organismos benéficos.
A seguir estão algumas medidas que podem ajudar a controlar a mosca-branca no tomateiro:
1. Monitoramento regular: faça o monitoramento frequente das plantas para detectar a presença da mosca-branca. Utilize armadilhas adesivas amarelas para capturar os adultos e realizar inspeções visuais para identificar os ovos, ninfas e danos nas folhas.
2. Controle cultural: adote práticas culturais adequadas para reduzir a infestação da mosca-branca. Isso inclui o uso de sementes certificadas e livres de doenças, rotação de culturas para quebrar o ciclo de vida da praga, eliminação de plantas hospedeiras voluntárias e manejo adequado de restos de cultura.
3. Controle biológico: utilize inimigos naturais da mosca-branca, como parasitoides e predadores, para controlar as populações da praga. Encoraje a presença desses inimigos naturais através do cultivo de plantas que ofereçam abrigo e alimento para eles.
4. Uso de barreiras físicas: utilize barreiras físicas, como telas ou coberturas, para impedir o acesso da mosca-branca às plantas de tomateiro.
5. Uso seletivo de inseticidas: se necessário, utilize inseticidas seletivos que tenham menor impacto sobre os inimigos naturais da mosca-branca. Siga as recomendações de dosagem e aplicação correta dos inseticidas e evite a aplicação excessiva.
6. Uso de armadilhas adesivas: coloque armadilhas adesivas amarelas nas plantas para monitorar a presença da mosca-branca e reduzir a população de adultos capturados.
7. Variedades resistentes: utilize variedades de tomateiro que sejam resistentes ou tolerantes à mosca-branca. Essas variedades podem ter menor incidência de infestação e danos.
8. Rotação de culturas: pratique a rotação de culturas, evitando o plantio contínuo de tomateiro no mesmo local, pois isso pode favorecer o aumento das populações de mosca-branca. A rotação ajuda a interromper o ciclo de vida da praga.
9. Higiene na lavoura: realize uma boa limpeza e eliminação dos restos de cultura após a colheita para reduzir a sobrevivência da mosca-branca.
Eficácia
Lembre-se que a combinação dessas estratégias é fundamental para um controle eficaz da mosca-branca. O manejo integrado, envolvendo a combinação dessas medidas, é a abordagem mais sustentável e eficiente para controlar a praga no tomateiro.
A produção de hortaliças em campo aberto exige investimento considerado de médio a alto, e boa parte é focada no controle de pragas. A correta identificação dos insetos-pragas é o caminho mais rápido para obtenção de um controle efetivo, econômico e eficaz.