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Controle de bicho-mineiro em café utilizando crisopídeos

O controle biológico utilizando crisopídeos nas lavouras de café tem impactado positivamente a sustentabilidade e o equilíbrio do ecossistema

Harianna Paula Alves de Azevedo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitotecnia e professora – Faculdade de Ciências e Tecnologias de Campos Gerais (FACICA)
harianna_tp@hotmail.com

O “bicho-mineiro” do cafeeiro refere-se a uma praga específica, que é a larva de uma mini mariposa chamada Leucoptera coffeella.

Sintomas do bicho-mineiro em café
Crédito: José Braz Matiello

Essa praga é conhecida pelo seu hábito de minar as folhas das plantas de café, causando danos significativos às lavouras. O controle do bicho-mineiro do cafeeiro é desafiador, e os agricultores frequentemente recorrem a diferentes estratégias, incluindo o uso de inseticidas, a poda de ramos infestados e o controle biológico com predadores naturais, como os crisopídeos.

Por meio da utilização do controle biológico com crisopídeos, pesquisas mostram que as lavouras de café passam a ser mais equilibradas, favorecendo a ocorrência de outros insetos benéficos, como abelhas e vespas predadoras e parasitoides, sendo esses últimos também inimigos naturais do bicho-mineiro.

Os crisopídeos

O controle biológico utilizando crisopídeos nas lavouras de café tem impactado positivamente a sustentabilidade e o equilíbrio do ecossistema agrícola de várias maneiras.

O uso para controlar o bicho-mineiro permite a redução do uso de produtos químicos. Isso é benéfico tanto para o meio ambiente quanto para a saúde dos trabalhadores rurais, além de minimizar os resíduos de resíduos químicos nos grãos de café.

Ao introduzir predadores naturais, o equilíbrio natural entre pragas e predadores é restabelecido. Isso evita o surgimento de resistência das pragas a inseticidas, promovendo a eficácia contínua do controle biológico.

Custo x retorno

A diminuição da dependência de químicos pode resultar em custos de produção reduzidos para os agricultores. Embora a introdução inicial de crisopídeos possa ter um custo, a manutenção do equilíbrio biológico a longo prazo pode ser mais econômica.

O controle biológico reduz a contaminação do solo e da água por substâncias químicas tóxicas. Além disso, promove a biodiversidade ao preservar e incentivar populações de insetos benéficos.

Os crisopídeos, ao se alimentarem das larvas de bicho-mineiro, têm um efeito residual positivo ao reduzir a população da praga ao longo do tempo. Isso significa que, mesmo após a liberação inicial, os crisopídeos continuam a exercer seu papel na manutenção do equilíbrio populacional.

Em laboratório

Pesquisas atestam a eficácia dos crisopídeos em controlar o bicho-mineiro em cafeeiro, realizadas em vários países produtores de café, e obtiveram resultados favoráveis.

No Brasil, em regiões produtoras, estudos têm avaliado a eficácia de diferentes espécies de crisopídeos no controle do bicho-mineiro. Observou-se que a liberação de crisopídeos como Chrysoperla spp. e Ceraeochrysa spp. foi eficaz na redução das populações de larvas de bicho-mineiro em lavouras de café, contribuindo para o controle efetivo da praga.

Diversos experimentos em campo têm demonstrado que a introdução de crisopídeos pode ser uma estratégia eficaz, quando combinada com práticas de manejo integrado de pragas.

Também têm destacado a importância do controle biológico para a promoção da biodiversidade nas plantações de café. O uso de crisopídeos contribui para a preservação de inimigos naturais, mantendo um equilíbrio mais saudável no ecossistema da lavoura.

Versatilidade

A presença de crisopídeos nas lavouras de café não só ajuda no controle do bicho-mineiro, mas também favorece a ocorrência de outros insetos benéficos, equilibrando o sistema.

Os crisopídeos são predadores generalistas e se alimentam de várias outras pragas que podem afetar as plantações de café, como pulgões, cochonilhas e ácaros. Sua presença, portanto, contribui para o controle biológico de uma gama mais ampla de pragas.

Assim, permite a redução da dependência de produtos químicos, criando um ambiente mais favorável para insetos benéficos sensíveis a esses produtos. A presença desses predadores naturais pode persistir em ambientes com menor presença de substâncias químicas prejudiciais.

A presença deles pode criar condições propícias para outros predadores e parasitoides benéficos, como joaninhas, aranhas predadoras e vespas parasitoides. Isso é crucial para a criação de um ecossistema agrícola mais resiliente e equilibrado, pois diferentes espécies benéficas interagem e se beneficiam mutuamente.

O café agradece

A presença de abelhas e vespas predadoras nas plantações de café oferece diversos benefícios que vão além da polinização e controle de pragas específicas.

Abelhas, especialmente, desempenham um papel crucial na polinização das flores do café. A polinização eficiente é essencial para garantir uma produção adequada de grãos de café.

Pesquisas atestam a eficácia dos crisopídeos
Crédito: José Roberto Pujol

Além disso, a polinização por abelhas pode aumentar a uniformidade e a qualidade dos grãos. Uma maior taxa de polinização pode resultar em uma quantidade significativa de frutos formados, contribuindo para colheitas mais robustas.

Predadores naturais

Algumas espécies de vespas são predadoras naturais de insetos-praga. Elas podem ajudar no controle biológico de pragas que afetam as plantações de café, contribuindo para a redução da necessidade de químicos.

Com uma maior diversidade de insetos benéficos, contribui para a resiliência do ecossistema agrícola. Em ambientes mais diversificados, a probabilidade de surtos de pragas e doenças é reduzida.

Nichos ecológicos

A presença de crisopídeos cria um ambiente mais complexo e diversificado, promovendo a criação de nichos ecológicos favoráveis aos parasitoides. Esses insetos benéficos podem encontrar abrigo, alimento e condições adequadas para reprodução, aumentando suas populações nas lavouras.

Durante sua alimentação, os crisopídeos podem abandonar resíduos, como restos de presas não consumidos. Esses resíduos podem servir como fonte de alimento para parasitoides, atraindo esses inimigos naturais para a área onde os crisopídeos estão ativos.

Desafios

O uso de crisopídeos no controle biológico enfrenta alguns desafios e limitações. Crisopídeos podem ser sensíveis a alguns inseticidas. Se houver uma aplicação excessiva na lavoura, isso pode afetar negativamente a população de crisopídeos.

É recomendado reduzir a dependência de químicos e optar por métodos mais seletivos. A implementação do manejo integrado de pragas visa minimizar o uso de químicos e favorecer predadores naturais.

Os crisopídeos podem ter uma capacidade limitada de dispersão, o que significa que sua eficácia pode ser mais significativa nas áreas específicas onde foram liberados. A distribuição estratégica de crisopídeos nas áreas de maior incidência de pragas é uma prática comum.

Além disso, práticas como a liberação contínua ou a introdução de crisopídeos em diferentes estágios de desenvolvimento ajudam a abordar esse desafio. O monitoramento constante das populações de crisopídeos e pragas, juntamente com ajustes nas práticas de liberação, é importante para manter o equilíbrio.

Isso porque eles se desenvolvem melhor em ambientes com temperaturas médias entre 20 e 30°C. Níveis moderados a altos de umidade relativa, geralmente acima de 60%, proporcionam um ambiente mais favorável para oviposição e desenvolvimento das larvas.

Conscientização

O custo inicial associado à compra e liberação de crisopídeos pode ser um desafio para alguns agricultores. A conscientização sobre os benefícios a longo prazo, a redução dos custos com inseticidas pode ajudar a superar esse desafio.

O controle biológico com crisopídeos permite a redução significativa da dependência de inseticidas químicos nas lavouras de café. Isso minimiza a contaminação ambiental, preserva a qualidade do solo e da água, e reduz os riscos para a saúde humana e a biodiversidade.

O controle biológico favorece a resistência sustentável no manejo de pragas. A diversidade de inimigos naturais, como crisopídeos, ajuda a prevenir o desenvolvimento de resistência por parte das pragas a longo prazo, em comparação com o uso repetitivo de pesticidas químicos.

A introdução de crisopídeos e a promoção de outros insetos benéficos aumentam a biodiversidade nas plantações de café. Isso cria um ambiente mais robusto e resiliente, promovendo a coexistência de diferentes espécies e contribuindo para a saúde geral do ecossistema.

O controle biológico eficaz contribui para a produção sustentável de café, melhorando a qualidade dos grãos. A adoção de práticas de controle biológico, alinhadas com princípios sustentáveis, pode aumentar a aceitação dos produtos no mercado de café sustentável, onde a preocupação com práticas agrícolas e ambientais responsáveis é crescente.

Essa abordagem reflete o compromisso com a conservação dos recursos naturais, a redução do impacto ambiental e a promoção de práticas agrícolas social e economicamente viáveis.

Orientações práticas

O manejo integrado de pragas em plantações de café envolve uma abordagem estratégica e cuidadosa.  Deve-se realizar o monitoramento regular para avaliar as populações de pragas, especialmente do bicho-mineiro, e a presença de inimigos naturais, incluindo crisopídeos.

O treinamento dos agricultores para identificar corretamente as pragas e seus inimigos naturais é crucial para ajudar a determinar o momento certo para a liberação dos crisopídeos.

Cafeeiro afetado pela praga do bicho-mineiro
Crédito: Ascom Embrapa

A liberação dos crisopídeos deve ser feita de maneira estratégica, priorizando áreas onde a infestação de bicho-mineiro é mais significativa e deve ser feita em momentos-chave do ciclo de vida da praga para maximizar a eficácia.

A taxa de liberação pode variar dependendo do tamanho da área, da intensidade da infestação e das condições climáticas. Importante integrar o controle biológico com crisopídeos a outras táticas de manejo integrado de pragas, como o uso de armadilhas, a aplicação seletiva de inseticidas quando necessário e práticas culturais adequadas.

Sempre preservar e promover habitats que sejam favoráveis aos crisopídeos e outros inimigos naturais.

Mantenha registros detalhados das práticas de manejo, incluindo a liberação de crisopídeos, as condições climáticas e as observações sobre as populações de pragas. Esses registros ajudarão na avaliação e ajuste contínuo das estratégias.

A consultoria especializada pode fornecer informações valiosas sobre as melhores práticas e para avaliar a eficácia do controle biológico, ajustando as práticas conforme necessário.

A resposta das pragas e dos inimigos naturais pode variar ao longo do tempo, exigindo adaptações constantes. A cooperação entre agricultores, pesquisadores e especialistas em manejo integrado de pragas é fundamental para alcançar resultados sustentáveis e eficazes.

Seguindo estas orientações práticas, os agricultores podem efetivamente incorporar o controle biológico com crisopídeos em suas plantações de café, adotando uma abordagem eficaz e sustentável no manejo de pragas.

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