Antônio Rafael Neri dos Santos – rafaelnsantos29@gmail.com
Lucas Guilherme Araujo Soares – lucasifpa@gmail.com
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal da Amazônia (UFRA), Campus Capitão Poço, Pará
Thiago Feliph Silva Fernandes – Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia/Produção Vegetal – FCAV/UNESP – thiagofeliph@hotmail.com
O Capsicum annum L., conhecido popularmente como pimentão, é uma hortaliça-fruto originária do México, pertencente à família Solanaceae, de grande importância nacional e internacional. Esta espécie apresenta inúmeras variedades, dentre as quais podemos citar os pimentões de coloração verde, amarela e vermelha.
A produção dessa cultura é bastante difundida no Brasil, em que o consumidor brasileiro tem maior apreciação pelos frutos característicos de formato cônico e alongado. O pimentão possui altos valores em vitamina C (Silva et al., 2010).
Estima-se que no Brasil sua produção seja aproximadamente de 290 mil toneladas em uma área de 13 mil hectares (ha), sendo os principais Estados líderes de produção: São Paulo (SP), Minas Gerais (MG), Bahia (BA) e Rio de Janeiro (RJ) (Silva, 2017).
A cultura é tradicionalmente produzida aos modelos agrícolas convencionais intensivos, que promove elevada produção dessa hortaliça-fruta, no qual são baseados na utilização de altos investimentos de insumos industriais (agroquímicos e fertilizantes minerais de alta solubilidade).
Entretanto, estudos realizados desde 2001 têm evidenciado os elevados índices de irregularidade na aplicação de insumos industriais, principalmente aqueles empregados no controle de insetos e doenças (ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2013).
Resíduos
Relatório publicado entre 2017 e 2018 a ANVISA demonstra que o pimentão é a hortaliça-fruta com maior presença de resíduos sintéticos, com 82% de amostras inadequadas para consumo. Isso significa que a cada 10 pimentões analisados, aproximadamente oito tinham resíduos químicos suficientes para ocasionar uma intoxicação aguda ao consumidor.
Portanto, métodos alternativos para produção de C. annum L são demandados não só para os consumidores, mas também para os produtores. Logo, a produção orgânica surge como uma alternativa na eliminação dos riscos provenientes da utilização de agroquímicos e para contribuir com a qualidade da alimentação humana, bem como o desenvolvimento sustentável do meio ambiente.
Medeiros e colaboradores (2012) compartilham desse pensamento, e afirmam que cresce a demanda da população por produtos livres de resíduos químicos, e métodos de produção que tenham menores impactos negativos ao meio ambiente.
Nesse sentido, a produção orgânica é uma alternativa, em que os agroquímicos são substituídos por insumos orgânicos e práticas conservacionista sustentáveis.
Ponto de partida
Para o desenvolvimento do plantio adequado, saudável e vigoroso do pimentão, deve-se observar com atenção o manejo da cultura, desde a etapa da semeadura até a colheita. Em relação à produção orgânica, uma série de práticas adotadas no manejo fitossanitário tem como objetivo buscar o equilíbrio ecológico do sistema, dentre elas a seleção de cultivares resistentes, a adubação orgânica com a devida atenção ao fornecimento equilibrado dos nutrientes para as plantas, rotação e consórcio de cultura, bem como o manejo correto do solo, das plantas espontâneas e da irrigação (Souza, 2008).
A preferência de quando deve haver a implantação do pomar de pimentão depende do clima da região. A temperatura ideal para o desenvolvimento do pimentão varia entre 20 a 25°C, e embora seja uma planta que se adapte aos climas quentes, acima de 30°C há uma redução no tamanho dos frutos, e abaixo de 10°C não há maneiras de produzir pimentão orgânico (Campos, 2017).
O pimentão pode ser semeado o ano inteiro. Na região sul, a época de plantio ocorre entre os meses de setembro e fevereiro, na região sudeste entre agosto e março, na região nordeste de maio a setembro, na região centro-oeste entre agosto e dezembro e na região norte de abril a julho (Pimentel et al., 2002).
Na etapa de semeadura é necessário haver a correta seleção de semente. Vale ressaltar que as mesmas não devem ter passado por nenhum processo químico. A fase mais crítica de uma planta é a sua germinação, logo, é recomendado que se faça a produção de mudas em sementeiras para que estas germinem em um ambiente controlado, aumentando assim a taxa de germinação.
As sementes devem ser colocadas a aproximadamente 0,5 cm de profundidade e cobertas com terra ou substrato. A germinação durará entre 8,0 e 10 dias (Pimentel et. al., 2002).
Transplante e tratos culturais
Quando as mudas estiverem com uma altura entre 10 e 15 cm devem ser transplantadas para o local definitivo de plantio. É importante que as mudas tenham bom aspecto fitossanitário, sem a presença de pragas e de doenças, para evitar sua introdução no ambiente de cultivo (Brandão Filho et al., 2018).
O espaçamento recomendado é entre 40 a 60 cm entre plantas, e entre 60 a 120 cm entre linhas, totalizando aproximadamente 41.667 plantas/ha no espaçamento 40 x 60 cm; 27.778 plantas/ha no espaçamento 60 x 60 cm; 20.833 plantas/ha no espaçamento 40 x 120 cm; e 13.889 plantas/ha no espaçamento 60 x 120 cm.
Algo a ser analisado é o fato de que o pimentão precisa de tutoramento. Ao chegar a 30 cm de altura, é necessário o tutoramento, que pode ser feito com estacas de madeira ou taquara com 1,0 m de comprimento. As plantas de pimentão devem ser amarradas utilizando fios de nylon, os mesmos empregados na cultura do tomate (Oliveira, 2014).
Irrigação
Em relação à umidade relativa do ar, deve estar entre 50 e 70%, e caso o ambiente não seja favorável a manter essa taxa de umidade é preciso utilizar sistemas de irrigação (Campos, 2017).
Um dia após as mudas terem sido transplantadas para o local permanente, elas devem ser irrigadas. O sistema recomendado é o gotejamento, mas também pode ser utilizado o de aspersão. A dispersão dos fungos ocorre também pela irrigação por aspersão – quanto maior o tempo de irrigação, maiores as possibilidades de incidência e severidade da doença, assim como por via sementes contaminadas (Silva, 2017).
Vale ressaltar ainda que o excesso de umidade do solo proporciona queda prematura das primeiras folhas, por isso, é necessário o manejo correto da irrigação (Oliveira, 2014).
Luz na medida
Outro elemento a se atentar é a iluminação, apesar de a cultura ser considerada neutra ao fotoperíodo (Pádua et. al, 1984; Campos, 2017). Em locais muito quentes é necessário o uso de sombreamento parcial para evitar a queima-das-folhas.
Ainda, é importante atentar-se a temperaturas elevadas e baixa umidade relativa do ar, associada à baixa luminosidade, pois essa combinação proporciona ambiente ideal para o desenvolvimento de ácaros (Moura, 2015).
A respeito da radiação solar, é importante frisar que o sombreamento excessivo no cultivo ou fotoperíodos curtos podem resultar em um significativo aumento na taxa de abortamento de flores, agravando-se com a ocorrência simultânea de temperaturas elevadas (Brandão Filho et al., 2018).
Adubação verde e orgânica
A utilização de material orgânico, como cobertura morta do solo no pomar de pimentão, é considerada uma técnica de grandes benefícios para o cultivo (Oliveira, 2014; Alvarenga, 2001). Essa cobertura é interessante para o produtor que utiliza o plantio direto de pimentão orgânico, com a adoção de adubos verdes, como pré-cultivos mantidos em cobertura após a roçagem, indicado como uma prática promissora na busca de uma produção agrícola mais sustentável e facilitadora para as condições de agricultura familiar.
A prática é baseada em rotação de culturas e aumento da biodiversidade, além de preservação das características físicas, químicas e biológicas do solo, resultando em aumento significativo de produtividade (Silva, 2017).
Outra prática benéfica para cultura é a adubação em cobertura utilizada entre 30 a 45 dias após o transplantio, podendo ser aplicada a adubação orgânica como esterco de galinha (em quantidade de 150g) em torno das plantas. E ainda pode ser utilizado o biofertilizante líquido, preparado com materiais orgânicos ricos em nitrogênio e potássio, como farelos de soja, cacau, torta de mamona e cinza vegetal.
As aplicações devem ser realizadas semanalmente, a partir do 30° dia, até a fase da frutificação. Usa-se uma quantidade de 200 ml por planta, aconselhando-se também o plantio de pimentão em um solo arejado, com boa capacidade de drenagem e rico em matéria orgânica, com o potencial hidrogeniônico (pH) variando entre 5,5 e 7,5 (Oliveira, 2014; Campos, 2017).
Contudo, estudos do Sistema integrado de produção agroecológica (SIPA) demonstraram que o pré-cultivo de Crotalária juncea pode ser uma alternativa ao esterco de cama de aviário (Neves et. al., 2004).
Colheita
A colheita do pimentão é realizada entre 12 e 16 semanas após a germinação das mudas (Campos, 2017). Segundo a Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM), com 80 dias de plantio é possível colher e negociar o pimentão verde, mas se o produtor tiver paciência e condição de esperar mais 20 dias, o pimentão vai variando a coloração à medida que vai amadurecendo, ficando com aspecto de cor vermelho ao amarelo, podendo ser comercializado a um preço médio 50% ou mais, em relação ao pimentão de coloração verde.
O resultado econômico pode ser influenciado por fatores agroclimáticos e pela oferta-demanda (Filgueira, 2008).