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Cultivo orgânico do shimeji e hiratake

Bruno Englerth PedrozoGraduando em Agronomia – Centro Universitário de Ourinhos (Unifio)bruno_englerth@hotmail.com

Adilson Pimentel JúniorProfessor de Agronomia – Unifioadilson_pimentel@outlook.com

Cogumelo – Crédito: Freepik

O mercado mundial de cogumelos movimenta US$ 35 bilhões anualmente. Estimativas apontam para um crescimento de 9,0 a 12% no volume comercializado em 2021. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Cogumelos (ABPC, 2020), a produção no Brasil gera em torno de 3,0 mil empregos diretos, sendo a produção concentrada no Estado de São Paulo.

O Brasil está longe de produzir o suficiente para abastecer o mercado interno. Hoje, a produção é de 12 mil toneladas de cogumelos in natura, sendo necessária a importação de cogumelos de países como China, Estados Unidos, Itália e Holanda, que estão no topo da lista dos maiores produtores para o suprimento interno.

Orgânicos

A produção orgânica no sistema de cultivo com cogumelos é facilitada, por se tratar de um produto de rápido crescimento e o sistema de cultivo permite um controle total das condições climáticas e sanitárias. O cogumelo orgânico se faz necessário pois é consumida praticamente toda sua estrutura, a qual deverá estar ausente de moléculas de defensivos.

A produção de cogumelos demonstra ser uma alternativa extra na alimentação e renda das famílias produtoras. Com pouca exigência de espaço e diversas opções de materiais para montagem das estufas, a atividade apresenta boa rentabilidade.

Estes dados apontam para um importante nicho de mercado em ascensão no Brasil, o qual tem potencial para diversificar as atividades e gerar novas fontes de renda no campo, fortalecendo, principalmente, a agricultura familiar.

Cadeia produtiva

Antes concentrada na região do Alto Tietê em São Paulo, ao longo dos últimos anos, apesar de todas as dificuldades, a cadeia produtiva do cogumelo no Brasil tem se estruturado e, atualmente, o cultivo de cogumelos está disseminado em várias regiões do País.

Atualmente, os principais produtores estão nos Estados de São Paulo (Mogi das Cruzes, Pinhalzinho, Ibiúna, Sorocaba, Salto, Cabreúva, Juquitiba e Valinhos) e no Paraná (Castro, Tijucas do Sul e Curitiba), além de cultivos em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sul da Bahia, Pernambuco, Brasília e Rio Grande do Sul.

A produção de cogumelo no país passou a crescer, beneficiando-se com a ascensão de restaurantes japoneses inaugurados no Brasil entre 2005 e 2010. Hoje, 80% dos produtores brasileiros de cogumelos são pequenos e médios agricultores familiares.

Estima-se que o consumo pela população brasileira seja em torno de 0,16 kg/pessoa/ano, aquém dos países europeus (2,0 kg/pessoa/ano) e asiáticos (6,0 a 8,0 quilos/pessoa/ano), segundo a Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos.

Investimento inicial

A fungicultura tem como local de desenvolvimento galpões especialmente construídos. Não existe tamanho padrão para o local de cultivo. Os fatores a serem incluídos no planejamento são custos de construção, requisitos de espaço de maquinário, tamanho da bandeja ou da cama e design de empilhamento, baseado na produção esperada.

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As portas devem ser projetadas para atenderem todas as máquinas e equipamentos utilizados. Janelas não são necessárias, pois embora os cogumelos não exijam a escuridão completa para crescerem, a luz solar direta não deve alcançar as camas.

Indica-se uma estrutura de painéis isotérmicos que irão controlar a temperatura e a umidade interna. Qualquer equipamento elétrico instalado deve ser capaz de suportar alta umidade, e é preciso que as estufas sejam à prova de roedores. O isolamento por painéis de poliestireno evita flutuações de temperatura e aumenta a eficiência energética do ar condicionado.

Os pisos destas instalações devem ser de cimento com drenagem, para facilitar a limpeza e as operações de higiene. O telhado deve ter inclinação suficiente para evitar que a condensação pingue nas camas.

Um bom sistema de ventilação é essencial para fornecer um fluxo constante de ar fresco e evitar o acúmulo de dióxido de carbono. As unidades de ventilação devem ser totalmente ajustáveis em termos de volume de circulação e incluir um filtro que impeça a entrada de insetos. É importante limpar os filtros regularmente.

Rentabilidade

A produtividade destes tipos de cogumelos frescos é estimada com base na massa úmida do substrato, sendo que a maioria dos substratos proporciona produção de cogumelos frescos na faixa de 20 % da massa úmida, ou seja, cada unidade de produção contendo 1,0 kg de substrato úmido produzirá 200 gramas de cogumelos frescos durante o ciclo produtivo, que é de 60 dias.

Portanto, considerando que um produtor possua uma sala de 12 metros quadrados (4,0 m x 3,0 m), com capacidade média para 600 kg de substrato ou 600 unidades de produção contendo 1,0 kg de substrato cada, ao final de 60 dias terão sido produzidos em torno de 120 kg de cogumelos frescos.

Por meio do manejo de produção escalonada, estes 120 kg de cogumelos frescos serão colhidos durante oito semanas, correspondendo a 15 kg semanais. Se o produtor comercializar sua produção semanal ao custo de R$ 40 o quilograma fresco, sua renda bruta semanal será de R$ 600. Considerando que os custos médios de produção giram em torno de 40 %, este produtor terá retorno líquido mensal de R$ 1.440.


Shimeji

O shimeji é um dos cogumelos mais rentáveis e com investimento relativamente baixo de produção, podendo ser produzido sem climatização em regiões com temperaturas favoráveis e algumas épocas do ano.

Uma sala de 6,6 m x 15 m pode alojar uma média de 9.000 kg de composto para cogumelos. A produtividade média de uma sala climatizada é de 25% de cogumelos frescos, portanto, 2.250 kg de shimeji fresco. O valor de mercado do shimeji é de R$ 15,00 o kg, ou seja, um faturamento bruto de R$ 33.750 por sala, em dois meses.

A despesa de composto para cogumelos é comum em vários sistemas produtivos, variando de R$ 9.000 (comprando composto) a R$ 5.400 (fabricando composto). Demais despesas podem ser computadas, como o custo de energia elétrica. Portanto, em média, uma sala geraria lucro líquido de R$ 20.250 (para quem compra o composto) e R$ 23.850,00 (para quem fabrica o próprio composto).


Em quanto tempo o retorno começa?

Para iniciar uma atividade de produção e comercialização de cogumelos, é preciso um bom investimento em estrutura, estudo constante e muita dedicação em todas as etapas de produção. A rentabilidade depende de muitas variáveis e os produtores obtêm 20% de rentabilidade sobre os custos de produção.

Uma alternativa para os pequenos produtores interessados na atividade seria formar uma associação para que possam enfrentar o mercado e sempre ter produto para entregar em maior escala aos estabelecimentos.

Os cogumelos ainda não fazem parte da dieta da maioria da população brasileira, pois o seu cultivo no País é recente, apresentando baixa produtividade quando comparado ao seu potencial de consumo.

Com o desenvolvimento de novas técnicas de cultivo, o mercado desses produtos tornou-se uma cultura cara, sendo que a sua popularidade depende da redução do preço de comercialização, que poderia ser alcançado por meio do aumento da produção.

Tecnologias

Apesar de serem cogumelos do mesmo gênero, o shimeji e o hiratake têm sistemas de produção bastante distintos, sendo que o último tem tecnologia mais simples e exige menor investimento inicial.

Atualmente, no Brasil, tem-se consagrado o cultivo do hiratake em sacos plásticos de polietileno, dispostos em prateleiras de madeira ou metálicas, no interior de galpões ou câmaras de alvenaria.

O cultivo de shimeji é feito em blocos e sua produção se dá em câmaras climatizadas, onde as condições ambientais, como a temperatura, umidade e a renovação de oxigênio são controladas.

Do plantio à colheita

O ciclo de cultivo de cogumelo está entre 45 e 180 dias. A produção de cogumelos apresenta várias etapas, que incluem o preparo do substrato, produção de inóculos, inoculação, incubação e colheita. Os substratos são de material vegetal, incluindo as toras de madeira e resíduos agrícolas, precisa ser preparado e esterilizado na sala de preparo do substrato.

O substrato esterilizado e úmido será então embalado em sacos plásticos próprios para a produção de cogumelos. Após o preparo do substrato, os sacos plásticos são transportados para a sala de inoculação, onde serão inoculados com o fungo selecionado.

A sala deve permanecer sempre limpa e desinfetada com luz ultravioleta ou agentes químicos, a exemplo de água sanitária, antes da inoculação. Os inóculos, denominados sementes ou spawn (material portador totalmente colonizado pelo micélio do cogumelo), serão obtidos diretamente de empresas produtoras visando à redução do custo e da probabilidade de contaminação inicial da produção.

Da sala de inoculação os sacos serão levados para a sala de incubação, onde são colocados em estantes e distribuídos nas prateleiras. Na sala de incubação estão presentes fileiras de estantes de aço inoxidável. A temperatura da sala de incubação será entre 21 e 26,5ºC. O processo de incubação e colonização do substrato é de 30 dias.

Controle de ervas daninhas, pragas e doenças

A presença de insetos, ácaros, crustáceos e outros artrópodes micetófagos e decompositores dos substratos sintéticos ou madeira, utilizados no cultivo dos cogumelos, vem sendo notificada pelos produtores progressivamente, prejudicando ou mesmo limitando o desenvolvimento normal dos cogumelos.

Insetos de importância, como besouros e larvas de Dípteros das famílias Sciaridae, Phoridae e Cecidomyiidae podem inviabilizar o produto para consumo, levando a perdas em torno de 20%, podendo também ser transmissores de doenças para a cultura.

Os insetos, principalmente em sua fase imatura (larvas), perfuram o estipe e píleo dos cogumelos, abrindo galerias em seus interiores, causando a sua depreciação geral. Métodos químicos para o controle de pragas, destacando-se o uso de piretroides, são necessários.

Apesar de definidos genericamente pela cor, existem vários microrganismos capazes de causar mofos coloridos. São fungos cosmopolitas, destacando-se o Aspergillus sp., Penicillium sp., Trichoderma sp. (mancha verde e branca), Chaetomeium sp. (bolor verde oliva), Stemonitis sp., Peziza sp., Alternaria sp., Mucor sp., Cladosporium sp. e Papulospora sp., entre outros (na maioria, fungos imperfeitos ou Deuteromycota).

Para manter o cultivo com baixo índice de contaminações, doenças e pragas, são essenciais todas as medidas de higiene: pasteurização eficiente do substrato ou esterilização no cultivo axênico, controle preventivo de pragas que são vetores de contaminantes e patógenos e tecnologia de cultivo a mais controlada possível, desde a fase de colonização do composto pelo cogumelo.


Cuidados que podem fazer a diferença

Para se obter boa produtividade, os tratos culturais são essenciais. Geralmente, deve-se sempre manter a umidade entre 80 e 90%, a temperatura não poderá exceder a 30°C, mínima de 23°C e ideal de 25°C. A água utilizada tem que ser isenta de substâncias químicas, principalmente de cloro e de metais pesados (chumbo, cobre e mercúrio).

Nos dias quentes, deve-se molhar duas vezes por dia, uma pela manhã e outra no final da tarde. O ambiente de cultivo deve ser mantido limpo e isento de plantas invasoras, insetos e pragas.

Deve-se evitar usar defensivos agrícolas e inseticidas, periodicamente, e é necessário esterilizar o local com ácido pirolenhoso (extraído a partir da queima da madeira), o qual possui funções antimicrobianas.

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