Daniel Henrique Ferreira da Cunha – Graduando em Agronomia – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado) – danielhfcunha07@alunos.unicerrado.edu.br
Givago Coutinho – Doutor em Fruticultura e professor efetivo – UniCerrado – givago_agro@hotmail.com
Pedro Maranha Peche – Pós-doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Pesquisador PNPD/CAPES – UFLA – pedmpeche@gmail.com
Dentre as espécies da família Solanácea, em termos de Brasil destaca-se a produção de batata, seguida pelo tomate, nos quais, segundo dados do IBGE (2022), no ano de 2020 o País produziu cerca de 3.767.769 toneladas de batata e 3.753.595 toneladas DE tomate, respectivamente, sendo estas as duas principais espécies desta família cultivadas a nível comercial. Contudo, outra espécie dessa família, ainda pouco cultivada no Brasil, vem sendo uma alternativa para a agricultura familiar: physalis (Physalis peruviana).
Originária da América do Sul, com fins de produção comercial no Brasil, é cultivada apenas a espécie Physalis peruviana, visando a produção de frutos, pois apresenta elevado potencial de mercado. Contudo, existem outras espécies, como Physalis angulata e Physalis pubescens, dentre outras, que apresentam potencial de produção, mas ainda são pouco exploradas comercialmente.
O cultivo de physalis é relativamente recente no Brasil, mesmo apresentando boas perspectivas de produção. Neste sentido, o conhecimento acerca das principais práticas adequadas ao cultivo de physalis são essenciais para aumento na produção e viabilidade econômica para os produtores que desejam investir na cultura.
Origem da physalis
No Brasil, a comercialização da physalis é vista com preços altos, entre R$ 20,00 a R$ 90,00/kg. A Estação Experimental de Santa Luzia, localizada no Estado de São Paulo, foi a primeira a produzir esta fruteira em 1999.
Vale lembrar que, no Brasil, tanto o estudo relacionado a esta fruta quanto o cultivo da physalis teve início em 1999 no Estado de São Paulo, e só foi expandir na região sul em meados de 2008. Atualmente, há produtores que se dedicam à cultura em áreas de produção localizadas no Estado do Rio Grande do Sul.
Potencial de produção
A physalis é um fruto que pode ser considerado exótico pelo seu nome, aparência e preço. Atualmente, é comercializada na forma in natura e processada. A Colômbia é o maior produtor mundial dessa fruta, sendo que compõe 45% do faturamento em dólar das exportações desta, perdendo somente para a cultura da banana.
O fruto de P. peruviana, por exemplo, é consumido no Brasil predominante na forma in natura, sendo considerado exótico e apresentando preço bastante elevado. Em sua composição apresenta alto teor de vitaminas A, C, fósforo e ferro, além de flavonoides, alcaloides, fitoesteroides, carotenoides e compostos bioativos considerados funcionais.
Além do consumo principalmente do fruto, outras partes da planta, como a raiz e as folhas, são utilizadas no mercado farmacológico e o cálice do fruto em ornamentações. Além disso, os frutos são considerados como matéria-prima na elaboração de geleias, sucos, doces em pasta ou cristalizados, tortas e bolos caseiros. Na indústria, são utilizados na produção de polpas, frutos congeladas, iogurtes e sorvetes.
Espécies promissoras de physalis
[rml_read_more]
Physalis angulata: é uma espécie anual que apresenta o hábito de crescimento ereto e ramificado e pode chegar a medir de 35 a 55 cm de altura. Seu fruto é climatérico do tipo baga carnosa de coloração amarela, quando madura, sendo totalmente envolvido pelo cálice acrescente e inflado, contendo pequenas e numerosas sementes. O fruto mede cerca de 2,0 cm de diâmetro.
Physalis peruviana: caracteriza-se pelo seu fácil cultivo e por possuir folhas aveludadas e triangulares. Tão somente dispõe de talo herbáceo e piloso. O fruto em si pode medir de 1,25 a 2,50 cm e peso entre 4 a 10 gramas. Cada planta produz aproximadamente 2,0 a 3,0 kg de frutas por safra.
Sua tipificação pertence à classe de frutas exóticas e de alto interesse, caracterizado pelo consumo de grupos de elite e pela distribuição em hotéis, restaurantes, confeitarias e mercados especializados.
A espécie suporta diversos tipos climáticos e solo, assemelhando-se assim com o cultivo do tomate. De acordo com Zapata et al. (2002), a primeira colheita após o plantio se dá em período médio de 90 dias e quando se trata de áreas mais elevadas prolonga-se o período. A planta tem vida produtiva de até dois anos, apresenta colheita constante que, dependendo da demanda das coletas, pode ser semanal.
Physalis pubescens: é uma planta de crescimento herbáceo, produtora de frutos carnosos do tipo baga, que são comestíveis. Suas raízes, caules e folhas são utilizados na medicina tradicional, principalmente como antipiréticos, diuréticos, antitumorais, analgésicos e anti-inflamatórios.
Posto que no desenvolvimento da planta haja o acompanhamento devido, esta pode alcançar até dois metros de altura. Detém ramos de coloração esverdeada, angulosos e hialinos, com a presença de tricomas glandulares e tectores distribuídos por toda sua superfície.
Há uma diferenciação de diâmetro nas folhas – são isoladas, de aspecto membranáceo, com bordas recortadas, pubescentes ao longo das nervuras, com grande quantidade de tricomas.
Segundo Soares et al (2009), as flores possuem de 0,3 a 1,2 cm de comprimento e os frutos maduros de 1,0 a 1,5 de diâmetro. Possuem grande quantidade de sementes e coloração alaranjada. Conforme relatos do mesmo, o ápice de floração se divide em dois ciclos: abril a julho e novembro a dezembro. Nota-se que o fruto é folhado, ou até mesmo resguardado, pelo cálice inflado que, com a maturação do fruto, se torna uma espécie de “folhagem” seca.
Physalis mínima: é uma planta conhecida como uma erva que tem seu caule médio de 0,5 a 1,5 m de altura, e muitas vezes é tido como uma planta daninha em campo de cultivo. É encontrada em toda a Índia, Afeganistão, África tropical, Singapura, entre outros países, sendo considerada de grande importância, por seu efeito medicinal.
As folhas têm um grande potencial medicinal, para tratar infecções abdominais, vaginais, garganta inflamada, diabetes, dores de cabeça, entre outros. Os frutos são utilizados em bebidas típicas do sul da Ásia, e também pode ser feita uma pasta do fruto, a qual é indicada para dores de ouvido.
Physalis ixocarpa: é uma planta nativa do México, conhecida como tomate mexicano, muito cultivada em todo o hemisfério ocidental. Esta espécie pode apresentar hastes longas, que podem chegar a três metros de altura. Se adapta a climas amenos a secos, e produz fruto esférico de coloração verde.
Os frutos apresentam coloração verde, sabor levemente azedo e doce, usados em receitas culinárias, como doces, tortas, e no México são muito utilizados para molhos. É conhecido como salsa-verde ou molho verde. Estes frutos podem conter também vitaminas A, B, B2 e C, e polifenóis.
Propagação
A espécie P. peruviana pode ser propagada via assexuada por estacas, cultivo in vitro e enxertia, contudo, em se tratando de produção comercial, a propagação da physalis é comumente feita via sexuada, ou seja, por sementes. Esta última, aliás, é a principal forma de propagação de espécies como P. angulata e P. pubescens, que tem sua propagação feita exclusivamente por sementes, além das demais espécies promissoras, como P. minima e P. pubescens.
Além disso, o cultivo de physalis pode vir a ser uma alternativa para a agricultura mais sustentável, no que se refere ao pequeno e médio agricultor.