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Fosfitos podem controlar patógenos de solo e parte aérea

Rayla Nemis de Souza Engenheira agrônoma e mestranda em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)rayla.ns@outlook.com

Rafael Rosa Rocha Engenheiro agrônomo, mestrando em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Unemat, com especialização em andamento em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas (FAZU) rafaelrochaagro@outlook.com

Rejeane Maria da Silva Graduanda em Engenharia Agronômica – Unematrejeane_maria@hotmail.com

Marla Silvia Diamante Doutora em Agronomia/Horticultura – UNESPmarlasdiamante@gmail.com

Crédito Daniel Cassetari

A interação “patógeno-hospedeiro e ambiente” é essencial para a ocorrência de doenças em plantas, conceito conhecido como triângulo da doença. Entretanto, a severidade das doenças, bem como sua taxa de desenvolvimento, depende de outros fatores dentro dos três vértices do triângulo, podendo ser de maior ou menor intensidade.

As culturas agrícolas podem ser acometidas por um grande número de doenças fúngicas, por diversas causas e meios de contaminação. Além disso, a disseminação pode afetar todo o seu ciclo, desde sementes até plantas adultas.

Em condições ambientais favoráveis ao seu desenvolvimento (temperatura e umidade), os patógenos podem causar morte de plântulas, necrose nos pecíolos e nervuras, manchas nas folhas, hastes, vagens e espigas, entre outras formas de sintomas e ataques, e as perdas podem chegar a altos níveis.

Relação nutrição x fitossanidade

Segundo Huber (2005), a nutrição de uma planta determina em grande escala a sua resistência ou suscetibilidade à doença, e a habilidade dos patógenos de causar doenças. As relações entre a nutrição e as doenças de plantas são estudadas e demonstram sempre efeitos relevantes, tanto em enfermidades causadas por organismos de solo como em doenças de parte aérea e o uso de micro e macronutrientes.

Uma das ferramentas no controle desses patógenos é o uso do fosfito, que é um composto originado a partir do ácido fosforoso (H3PO3), considerado um sal inorgânico derivado da reação do ácido fosforoso com uma base forte (hidróxido de K, Cu, Mn, Zn, etc.) e pode atuar tanto na nutrição e ativação dos mecanismos de resistência do hospedeiro como por toxidez direta ao patógeno.

Opções

Atualmente, há no mercado diversas formulações à base de fosfito (fosfito de potássio, de cálcio, de sódio e de amônio), cuja utilização tem se intensificado nos últimos anos. Essas formulações são recomendadas como fungicida ou como suplemento de P, indicadas para diversas culturas. 

Os fosfitos são considerados os únicos fungicidas sistêmicos que translocam através do floema e xilema, seguindo o fluxo da transpiração. Isso ocorre devido à ausência de um oxigênio em relação à molécula de fosfato. Assim, ele é metabolizado de maneira diferente na planta (funções bioquímicas e ativação enzimática modificadas), tornando-os mais assimiláveis pelas plantas através das membranas.

É importante ressaltar que os fosfitos possuem alta solubilidade, e essa característica é importante por possibilitar a aplicação em caule (injeção) ou foliar (pulverização), sendo transportados para os tecidos das raízes, facilitando o manejo de patógenos de solo. Também podem ser aplicados nas raízes, controlando os insetos da parte aérea e do sistema radicular.

Pesquisas

Alguns trabalhos demonstram a eficácia da aplicação de fosfitos na parte aérea de soja, visto que o aumento da dose de fosfito de potássio promove redução linear do míldio da soja (Peronospora manshurica), além de gerar incrementos no índice de área foliar de plantas em condições de campo (Silva et al., 2011). Já a aplicação de fosfito de potássio após a aplicação promoveu controle da ferrugem asiática da soja (Neves & Blum, 2014).

Com relação à podridão de carvão (Macrophomina phaseolina) em soja, foi observada redução da severidade com a aplicação de fosfito de manganês, associado à bactéria Pseudomonas fluorescens (Simonetti et al., 2015). Alguns trabalhos também relatam a eficácia de fosfitos aplicados via tratamentos de sementes no manejo de doenças em soja e em outras culturas.

Em feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris), por exemplo, o uso de formulações comerciais de fosfitos (K e Mn) foi eficiente no controle da antracnose (Colletotrichum lindemuthianum) em campo (Gadaga et al., 2017).

Em sementes de batata (cultivares Shepody e Kennebec), um estudo foi realizado com intuito de verificar a eficiência do fosfito na emergência das plântulas. Para isso, as sementes foram inoculadas com Phytophthora infestans, Fusarium solani e Rhizoctonia solani, e tratadas com fosfitos de cálcio e de potássio.

As sementes tratadas tiveram maior emergência, quando comparadas com sementes inoculadas e não tratadas (Lobato et al., 2008). Além disso, a formulação de fosfito de potássio aplicado no sulco de plantio em tubérculos de batata-semente (Solanum tuberosum) aumenta a emergência, a área foliar e a matéria fresca das plantas (Tambascio et al., 2014).

Portanto, é possível que o fosfito atue de duas formas sobre o patógeno: inibindo diretamente o desenvolvimento do microrganismo e/ou induzindo a planta a mecanismo de defesa contra o fitopatógeno, pois, como já dito, os fosfitos podem ser translocados na planta via xilema e floema e, devido à translocação descendente, têm sido largamente utilizados no manejo de patógenos radiculares, principalmente espécies de Phytophthora.

Proteção orgânica

Os fosfitos são uma alternativa de proteção orgânica, podendo substituir os fungicidas convencionais, já que os mesmos agem de forma inibidora no desenvolvimento micelial e na esporulação dos patógenos, além de serem menos tóxicos ao ambiente, comparados aos fungicidas químicos.

São considerados de baixo risco à saúde, tornando-o um produto ambiental, social e economicamente vantajoso no controle de doenças, visto que o custo é reduzido, quando comparado ao dos fungicidas químicos, entregando ótimos resultados e custo inferior aos químicos.

Cuidados

Tendo em vista os benefícios do fosfito, é de suma importância saber como e quando utilizá-lo, pois existem certos pontos que devem ser observados antes de optar por sua aplicação em qualquer cultura: estado nutricional da planta, tipo de fosfito e alvo em questão.

Um exemplo é o risco de fitotoxidez em plantas com baixo suprimento de fósforo (P), portanto, conhecer os níveis de nutrientes nas plantas é importante para que ocorra o sucesso da aplicação. Quanto ao tipo de fosfito, atribui-se essa questão ao cátion que o acompanha, não esquecendo de analisar o alvo em questão.

Como citado, a aplicação como indutor deve ser prévia ao ataque do patógeno, não apresentando eficiência satisfatória posteriormente. Outro fator importante a se atentar é a dosagem, que quando realizada em excesso pode causar danos e diminuir a produtividade.

A aplicação deve-se obedecer às recomendações do responsável técnico pelo acompanhamento da aplicação e também os valores de dose expostos pelos fabricantes em relação às culturas aplicáveis. O excesso pode comprometer todo o sistema de arquitetura foliar das plantas, impedindo a fotossíntese e causando diminuição de produtividade e ganhos.

A aplicação de fosfito tem início, na maioria das vezes, nas fases vegetativas, apresentando custo-benefício em aplicações quinzenais, associado ao uso de formulações químicas para o controle de doenças.

Custo x benefício

Em caráter sistêmico, os fosfitos têm a possibilidade de potencializar a ação de fungicidas químicos em aproximadamente 15%. Considerando o valor de mercado, situado entre R$ 50,00 e R$ 200,00, pode-se dizer que os fosfitos geram ganhos econômicos por meio das melhorias fisiológicas das plantas.

Ainda, cabe ressaltar que a qualidade do produto utilizado é importantíssima. O produtor deve procurar por marcas idôneas, que garantam a concentração do produto indicado no rótulo, obedecendo às informações no momento de aplicação.

Hora da aplicação

Usualmente, as aplicações com fosfito são feitas no final do dia. Não obstante, é recomendado associar as aplicações a práticas variadas no manejo integrado de doenças para o controle de patógenos, pois aumentando a resistência das plantas por meio de um mecanismo fisiológico, garantimos maior sanidade durante o ciclo, sendo possível, dependendo da cultura e do ambiente, diminuir o número de aplicações, levando ao retorno financeiro e sustentável do sistema agrícola.

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