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quarta-feira, maio 8, 2024
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Fungicidas multissítios têm avanço expressivo na soja

Fernanda Lourenço Dipple
Engenheira agrônoma e professora – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
fernanda.dipple@unemat.br

A crescente preocupação do produtor em controlar a ferrugem asiática e outras doenças economicamente relevantes da soja tracionou o mercado de fungicidas “multissítios” (proteção por contato).

Crédito: DVA

O FarmTrak Soja, estudo exclusivo da consultoria Kynetec Brasil, revela que entre as safras 2018-19 e 2022-23 as transações envolvendo esses produtos avançaram 218%, de R$ 1,2 bilhão para R$ 3,8 bilhões.

Fitossanidade em destaque

As doenças de maior importância na cultura da soja podem variar de ano para ano, bem como de região, época de semeadura, condições ambientais e manejo.

A cultura da soja possui diversas doenças preocupantes, dentre elas a ferrugem asiática, mancha alvo, a famosa anomalia da soja, crestamentos, mancha parda, entre outras.

No Estado de Mato Grosso, além da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi), a mancha alvo (Corynespora cassiicola) e anomalia das vagens (complexo de patógenos) são algumas das doenças e patógenos que mais preocupam e o uso de fungicidas multissítios estão sendo grandes aliados no manejo delas.

Fungicida “multissítio”

Os fungicidas podem ser classificados conforme o modo de aplicação, função e mecanismos de ação. Um exemplo são os fungicidas sítio-específicos, do grupo dos triazóis.

Trata-se de um grupo químico de suma importância para o manejo de doenças de grandes culturas, entretanto, atua em um único mecanismo de ação, na biossíntese de esteróis da membrana plasmática de fungos “verdadeiros”.

Já os fungicidas multissítios atuam em diversos mecanismos de ação, afetando a produção de energia, permeabilidade da membrana, são antiesporulantes, desintegrantes e atuam em vários locais na célula fúngica.

Um ponto importante é a característica química destas moléculas, composição molecular, solubilidade e indicação. Os multissítios têm efeito residual e protetor, pois não são absorvidos pela planta e fixam nas estruturas vegetais, protendo a planta da infecção e colonização fúngica.

O mancozebe, por exemplo, tem ação protetora e de contato, registrado como fungicida e acaricida.

Evolução do sistema

Atualmente, a maioria dos produtores de soja brasileiros fazem, em média, três aplicações de fungicidas na cultura, quantidade que pode mudar devido à necessidade, orçamento, entre outros fatores.

Para o manejo das principais doenças da cultura da soja, são utilizados poucos mecanismos de ação sítio-específico. Dentre os principais, temos os triazóis, estrobilurinas e carboxamidas, os quais são aplicados, muitas vezes, mais de uma vez, fato que favorece o processo de resistência dos fungos a estes mecanismos de ação e reduz a eficiência de controle das doenças.

O uso de multissítios junto a moléculas sítio-específicas aumenta a eficiência de controle, diminui o risco de resistência e atua diretamente de forma positiva na produtividade. Assim, houve aumento considerado da indicação dos fungicidas multissítios.

Quem são eles

Multissítios mais indicados para manejo de doenças para a cultura da soja:

Clorotolanil: Peronospora manshurica (míldio), Phakopsora pachyrhizi (ferrugem asiática) e Septoria glycines (mancha parda).

Mancozebe: Cercospora kikuchii (mancha púrpura da semente), Corynespora cassiicola (mancha alvo),  Phakopsora pachyrhizi (ferrugem asiática) e Septoria glycines (mancha parda);

Oxicloreto de cobre: Cercospora kikuchii (mancha púrpura da semente), Microsphaera diffusa (oídio), Phakopsora pachyrhizi (ferrugem asiática) e Pseudomonas savastanoi pv. glycinea (crestamento bacteriano).

Cobre bioativo e sulfato de cobre: também utilizados como protetores preventivos para manejo de doenças e promotores de saúde da planta.

Perfil brasileiro

O uso de multissítios está crescendo a cada ano, devido aos benefícios no manejo de doenças em todo o Brasil. Saímos de 5% de adoção, em 2014/15, para 78% das áreas agrícolas de soja na safra 2022/23.

 Em destaque neste crescimento temos os estados brasileiros de maior importância para a produção de soja, como Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.

Um exemplo do crescimento é o estado de Mato Grosso – em 2014/15 a adoção era de 2%, enquanto na safra 2022/23 passou para 90% das lavouras utilizando multissítios.

Conforme levantamentos, houve crescimento do uso de fungicidas multissítios de 2014 para a safra 2022/23 – em 2014 se usava 1% das aplicações, já na safra 2018/19 houve aumento de 107% e em 2022/23 + 96%, um crescimento expressivo em utilização e evolução do mercado em negócios de fungicidas (FarmTrak, 2023).

Vantagens dos fungicidas “multissítios”

• Efeito protetor e residual sobre as estruturas vegetais, impedindo a germinação e crescimento de patógenos;

• Redução do risco de resistência dos fungos aos fungicidas;

• Possibilidade de misturas com sítio-específico aumentando a eficiência do manejo de doenças;

• Aumento da eficiência e durabilidade das moléculas sítio-específicas;

• Manejo de fungos, ácaros e bactericida;

• Redução de aplicações de fungicidas sítio-específicos;

• Aumento de produtividade.

Como escolher o melhor

Ponto importante é que o produtor deve ter um histórico de doenças e realizar o planejamento da compra dos defensivos que irá utilizar. A partir daí ele deve fazer a rotação de mecanismos de ação e, sempre que possível, utilizar os multissítios em todas as suas aplicações, podendo ser misturados com sítio-específico.

Alguns produtores têm uma certa resistência a determinadas moléculas, devido à baixa solubilidade, tempo e velocidade de mistura para aplicação e incompatibilidade de misturas de tanque.

Como há incompatibilidade entre moléculas de fungicidas multissítios com alguns herbicidas, eles podem ser utilizados na mistura com outros fungicidas sítio-específicos. Porém, atualmente temos multissítios com formulações mais eficientes, reduzindo estes entraves.

Os fungicidas multissítios são aliados no manejo mais eficiente de doenças, reduzindo o aparecimento de resistência dos fungos, promovendo residual, proteção e auxiliando de forma preventiva no controle de doenças, resultando em maior produtividade.

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