Daniele Maria do Nascimento
daniele.nascimento@unesp.br
Marcos Roberto Ribeiro Junior
marcos.ribeiro@unesp.br
Engenheiros agrônomos e doutores em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP – Botucatu
Adriana Zanin Kronka
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e professora – UNESP – Botucatu
adriana.kronka@unesp.br
Na safra 22/23, aproximadamente 56,1 mil hectares foram dedicados ao cultivo de girassol. Com uma média de produtividade de 1.520 kg/ha, essa área rendeu impressionantes 85,2 mil toneladas desse grão.
A rentabilidade também chama a atenção, com o preço médio da saca variando entre R$ 100 a R$ 120, superando os lucros obtidos com o plantio de milho e sorgo na safrinha.
Além do aspecto financeiro, a crescente demanda no mercado interno é um fator motivador para os agricultores investirem no girassol. O consumo interno absorve bem a produção, proporcionando segurança aos produtores para expandir suas lavouras.
Características nutricionais
A qualidade excepcional do óleo de girassol, rico em ácidos graxos, destaca-se como sinônimo de saúde. A extração por prensagem a frio preserva muitos nutrientes, diferenciando-o dos óleos processados termicamente.
Mesmo em um cenário econômico desafiador, os preços do óleo vegetal continuam em ascensão, impulsionados pela crescente demanda dos consumidores finais, que buscam opções mais saudáveis e dietas equilibradas.
Versatilidade
A versatilidade é outro grande trunfo dessa cultura, onde tudo, desde raízes até flores, pode ser aproveitado. Sua capacidade de adaptação a diferentes regiões, resistindo a secas e geadas, faz do girassol uma escolha robusta.
Além disso, seu baixo consumo hídrico, em comparação com outras culturas da safrinha, aliado a um ciclo produtivo de aproximadamente 120 dias, torna-o ainda mais atrativo.
No entanto, é crucial garantir uma distribuição adequada de 200 a 700 mm de água ao longo desse ciclo, especialmente durante as fases críticas de germinação, florescimento e enchimento de grãos.
O cuidado nesses períodos é fundamental, pois déficits hídricos podem comprometer o potencial produtivo, especialmente na fase pós-polinização.
Raízes profundas e benefícios para o solo
As raízes do girassol, do tipo pivotantes, não apenas conferem benefícios à planta, mas também ao solo e às culturas subsequentes. Com potencial para alcançar até 2,0 metros de profundidade, essas raízes fornecem uma base sólida, dificultando o acamamento da planta.
Em períodos de escassez hídrica, como os veranicos, essas raízes têm a capacidade de buscar água em profundidades inacessíveis a outras plantas.
Quais são então os benefícios para o solo e as safras futuras? O girassol é eficiente na reciclagem de nutrientes, especialmente o potássio, presente em camadas do solo pouco exploradas.
A maior parte desse nutriente não é exportada para o grão, sendo deixada principalmente para a palhada, que se decompõe rapidamente. Isso resulta na disponibilidade de potássio para as culturas subsequentes.
Além do potássio, outros nutrientes, como nitrogênio, cálcio e boro são igualmente reciclados, melhorando as características químicas, físicas e biológicas do solo.
Quando utilizado para adubação verde, uma prática que envolve incorporar restos vegetais ou manter a palhada na superfície do solo, o girassol pode ser semeado de 60 a 80 dias antes do plantio da cultura comercial.
Antes da semeadura, ele é incorporado ao solo, reduzindo a incidência de plantas daninhas na área e, consequentemente, diminuindo os custos de produção. Essa prática representa uma estratégia eficaz para melhorar a saúde do solo e otimizar o manejo agrícola.
Cuidados estratégicos para uma colheita produtiva
A produtividade no cultivo de girassol é resultado de cuidados específicos durante o plantio e os tratos culturais ao longo da safra. Desde a escolha criteriosa da área até a colheita, cada passo é crucial para garantir bons resultados.
A preparação do solo, a época de semeadura, o manejo adequado da plantadeira e a atenção à adubação são aspectos determinantes nesse processo.
O solo, inicialmente, precisa estar corrigido e fértil, com especial atenção ao pH em torno de 5,5. A preparação convencional do solo, por meio de aração e gradagem, é recomendada, a menos que o cultivo seja em sistema de plantio direto.
A escolha da época de semeadura, alinhada ao zoneamento agroclimático do girassol, é essencial para minimizar riscos de escassez hídrica.
Durante a semeadura, o produtor enfrenta desafios, como a adaptação de equipamentos para lidar com sementes pequenas e a necessidade de espaçamento entre linhas. A atenção à uniformidade da lavoura, com população ideal entre 30 a 60 mil plantas/ha, contribui para maiores produtividades.
Ademais, a adubação deve ser personalizada de acordo com a análise de solo, destacando a importância dos macro e micronutrientes, como o boro, para o desenvolvimento da planta.
Ao atingir aproximadamente 110 dias após a semeadura, a colheita é realizada quando a umidade dos grãos está entre 12 a 14%. A eficiência na colheita pode ser alcançada tanto com colhedoras específicas quanto com a modificação de plataformas de milho ou soja/trigo, proporcionando uma conclusão bem-sucedida da safra de girassol.
Desafios na lavoura
O manejo adequado das ervas daninhas é essencial para assegurar a produtividade na cultura do girassol. Nos primeiros 30 dias após a emergência, período crítico, as plantas ainda apresentam crescimento lento, sendo suscetíveis a perdas de até 70% se as ervas não forem controladas.
No entanto, após esse período, o girassol desenvolve a capacidade de competir com essas plantas indesejadas.
As pragas também representam desafios significativos, com destaque para as lagartas desfolhadoras, como a lagarta do girassol (Chlosyne lacinia), e aquelas que afetam as flores, causando danos diretos aos grãos.
Percevejos, insetos sugadores, adicionam outra camada de risco, injetando toxinas diretamente nos grãos. O controle dessas pragas é complexo devido ao porte das plantas, que dificulta a passagem eficiente das máquinas.
Além disso, na fase de floração, a aplicação de inseticidas pode afetar os insetos polinizadores, principalmente as abelhas, e inimigos naturais.
Ameaça
Uma ameaça adicional é o mofo-branco, ou podridão branca, doença causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum. Este patógeno é considerado um dos mais impactantes para o girassol globalmente, estando presente em todas as áreas produtoras.
O fungo pode sobreviver no solo por vários anos através de estruturas de resistência (escleródios) e tem uma ampla gama de hospedeiros, incluindo culturas como soja, canola e feijão.
O manejo integrado é a recomendação principal, envolvendo o uso de sementes sadias, rotação de cultura com gramíneas, eliminação de ervas daninhas hospedeiras alternativas, escolha cuidadosa da época de semeadura para evitar condições favoráveis ao desenvolvimento do patógeno.
Atualmente, no Brasil, existem 28 produtos registrados para o controle da podridão branca no girassol, pertencentes aos grupos químicos das fenilpiridinilamina, anilinopirimidina, benzimidazol, estrobilurina e fenilpirrol, segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Entretanto, apesar da disponibilidade desses produtos, o controle químico ainda não tem se mostrado eficiente.
Parceria de sucesso: girassol e braquiária
Nas vastas terras do cerrado, os agricultores têm investido no consórcio entre girassol e braquiária, uma estratégia que promete sucesso. O girassol, adaptado às condições climáticas da região, destaca-se por sua resistência à seca, superando o milho e o sorgo nesse aspecto, além de proporcionar sombreamento adicional.
A parceria com a braquiária não apenas potencializa esses benefícios, mas também auxilia no manejo do temido mofo-branco. Estudos indicam que a palhada resultante da dessecação da braquiária atua como uma barreira física à formação dos apotécios, estruturas semelhantes a cogumelos que se desenvolvem a partir dos escleródios, gerando os esporos sexuados.
Contudo, para alcançar sucesso no controle do mofo-branco, outras medidas são necessárias. O controle biológico emerge como uma estratégia promissora nesse cenário, demonstrando eficácia e contribuindo para a saúde da lavoura.
Oportunidades futuras
Quanto às oportunidades futuras para o cultivo de girassol no Brasil, estas estão alinhadas com as tendências do mercado. A crescente demanda por alimentos saudáveis e óleos vegetais de alta qualidade oferece oportunidades de expansão, assim como a busca por alternativas sustentáveis na agricultura.
Ademais, a integração de práticas inovadoras, como o consórcio com braquiária, pode agregar valor ao cultivo de girassol, tornando-o ainda mais atrativo para os agricultores.
Caramuru: uma jornada de crescimento e inovação no girassol
Na última safra, a Caramuru consolidou-se como uma referência no cultivo de girassol, trabalhando 46.400 hectares com a cultura. Túlio Ribeiro da Silva, gerente de girassol da empresa, conta que a meta da Caramuru é ousada. “Planejamos alcançar 53.000 hectares em 2024 e vislumbramos atingir a marca de 80.000 hectares em dois anos. Essa é a evolução que projetamos.”
Posicionamento no mercado nacional e internacional
O consumo de óleo de girassol no Brasil é significativo, com uma média de 115 mil toneladas por ano. Surpreendentemente, apenas 26.000 toneladas são produzidas localmente, enquanto o restante é importado da Argentina.
Túlio destaca que toda a produção, tanto de farelo quanto do óleo de girassol, é destinada ao mercado interno, e a exportação dos derivados da cadeia do girassol não acontece há bastante tempo.
Custo produtivo
Em relação ao custo de produção, Túlio destaca que o girassol apresenta um custo-benefício atrativo. “Atualmente, o custo por hectare é de aproximadamente R$ 1.750, tornando-se uma alternativa promissora. Ele é cultivado na safrinha, momento em que o produtor teria a oportunidade de cultivar milho de média ou baixa tecnologia. Comparativamente, o custo do milho por hectare não é inferior a R$ 3.000, representando mais de 50% do custo do girassol”, compara.
Com um custo de produção em torno de 16 sacos a R$ 110,00, ele garante que os produtores podem obter uma rentabilidade de aproximadamente R$ 1.600 por hectare.
Destaque
O girassol se destaca em regiões com condições climáticas adversas, especialmente devido à sua maior tolerância à seca em comparação com o milho. “Com 250 milímetros de chuva, o girassol atinge resultados produtivos elevados, enquanto o milho requer mais que o dobro dessa quantidade. Essa característica faz do girassol uma escolha preferencial em regiões com histórico de seca, apresentando um considerável potencial de expansão”, continua.
Em termos de plantio, nas regiões mais desafiadoras, o girassol é plantado entre fevereiro, até no máximo 05/03. Nas regiões com melhor pluviometria, o plantio ocorre na primeira quinzena de março, aproveitando as chuvas que persistem até maio.
Quando questionado sobre tecnologias inovadoras, Túlio enfatiza o cuidado no plantio dentro da janela adequada como chave para a rentabilidade. “O gerenciamento eficiente da janela de plantio é crucial para garantir uma colheita bem-sucedida”.
Tendências e perspectivas
Túlio Ribeiro acredita em uma tendência de crescimento para o cultivo de girassol. Ele destaca a importância da diversificação das propriedades agrícolas para garantir segurança e gerenciar riscos de maneira eficiente.
A Caramuru, com um aumento impressionante de 140% na área plantada de girassol de 2020 a 2023, demonstra que essa cultura se tornou uma peça-chave no portfólio da empresa.
No final das contas, o sucesso no cultivo de girassol na Caramuru é resultado de um planejamento estratégico, investimentos robustos e a capacidade de se adaptar às demandas do mercado e às condições climáticas variáveis.
“O girassol não é apenas uma cultura, mas uma promissora fonte de oportunidades para os produtores brasileiros”, define Túlio.