Autor
Givago Coutinho – Doutor em Fruticultura e professor – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado) – givago_agro@hotmail.com
Dentre as espécies pertencentes à família Caricaceae, que apresenta seis gêneros com 35 espécies (Badillo, 2000), o mamoeiro (Carica papaya L.) é a espécie de maior importância econômica. Contudo, outra espécie vem chamando atenção pelo seu potencial: o jaracatiá (Jacaratia spinosa (Aubl.) A.DC. sinonímia Jacaratia dodecaphylla (Vell.) A. DC.).
Nativa do Brasil, especificamente do Cerrado brasileiro, o jaracatiá, também chamada de mamão-do-mato, é uma fruta tipicamente brasileira. Sua ocorrência em solo brasileiro se dá desde a região norte, nos Estados do Pará, Amazonas, Acre, Rondônia e Amapá, passando pelo Nordeste (Bahia, Maranhão, Ceará, Alagoas, Pernambuco e Paraíba), Centro-oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás), Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo) e Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Assim, a espécie está presente nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
Botanicamente, o fruto do jaracatiá é uma baga de formato alongado, atingindo até 10 cm de comprimento e 3,0 a 5,0 cm de largura, de coloração amarelo intenso a alaranjado, após o amadurecimento (Donadio, 2007), sendo seus frutos comestíveis.
O aproveitamento dos frutos para consumo ao natural e, sobretudo na agroindústria, tem despertado o interesse de diversos fruticultores que veem na espécie grande potencial para cultivo. Assim, conhecer aspectos pertinentes ao comportamento fenológico e culturais são essenciais na exploração racional do jaracatiá em áreas comerciais.
Versatilidade
De grande versatilidade, o jaracatiá tem diversas aplicações e utilidades. Na alimentação humana, os frutos comestíveis são consumidos em estágios mais avançados de maturação ou mesmo assados. Já o fruto ainda verde pode ser utilizado na fabricação de doces.
Segundo a Embrapa, utilizado popularmente como planta medicinal, o leite (latéx) do fruto verde é usado contra opilação, os frutos são antihelmínticos e usados no combate a infecções hepáticas e dores no corpo. Além disso, ocorre a comercialização de sementes.
Oferta e demanda
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Ainda não são relatados cultivos comerciais expressivos, sendo comumente encontradas algumas plantas em propriedades rurais, contudo sem função comercial.
O Brasil é rico em diversidade de espécies frutíferas que devem ser cultivadas em maior escala e melhoradas para o cultivo intensivo e aceitação do consumidor. Elas fornecem nutrientes, sabores acentuados, elevados teores de fibras, minerais, água e compostos antioxidantes, contribuindo de maneira benéfica com a saúde da população (Negri et al., 2016). No caso do jaracatiá, apresenta potencial para cultivo, pois permite a exploração do caule, frutos verdes e maduros, além do látex (Freitas et al., 2011).
Manejo da fruta
Espécie heliófita, o crescimento do jaracatiá ocorre sob exposição direta à luz solar. Naturalmente, o jaracatiá é uma espécie zoocórica, ou seja, a dispersão de sementes é feita por animais.
A planta apresenta crescimento rápido e copa pouco densa e caducifólia, sendo a ocorrência de sua floração concentrada entre os meses de dezembro a março. Com relação aos fatores edáficos, tem preferência por solos ricos em matéria orgânica e com pH variando entre 5,0 a 6,5.
Com relação à propagação, é predominantemente feita por meio de sementes, conforme ressaltam Freitas et al. (2001), sendo que a presença da sarcotesta (material viscoso que protege a semente) pode prejudicar a germinação e desenvolvimento das plântulas. Na produção de mudas, Marana et al. (2015) observaram que mudas que se desenvolveram em condições de 60 dias em sombreamento, seguidos de 60 dias a pleno sol, demonstraram melhores resultados.
Cuidados
Como espécie nativa, o jaracatiá se encontra em risco de extinção devido ao fato de partes do seu caule serem utilizadas pela indústria de doces caseiros em substituição à polpa do fruto de coco (Freitas et al., 2011).
Assim, a adequação e desenvolvimento dos cultivos comerciais de jaracatiá são essenciais na preservação da espécie e expansão do consumo, de forma racional e responsável, tornando-a fonte de renda a diferentes perfis de produtores, sobretudo aqueles de base familiar, que já utilizam esta espécie ainda de forma extrativista.
Pós-colheita
Importante ressaltar que os frutos devem ser consumidos bem maduros, devido ao fato de quando ainda imaturos apresentarem látex cáustico que provoca irritação na boca ao serem consumidos crus.
Um fato interessante é a utilização de partes tenras do caule do jaracatiá como fonte de alimento humano, tendo grande apreciação pela população na fabricação de doces (Aguiar et al., 2012). Além das partes tenras do caule, partes da raiz também são utilizadas na fabricação de massa para doces.
Outra curiosidade sobre a espécie é o fato do nome científico do jaracatiá (Jaracatia spinosa) ter origem indígena e ser devido ao caule recoberto por espinhos.
Produtor se especializou na produção de doces
Adauto Augusto de Assis é produtor de jaracatiá no Sítio São Jorge, no município de Santo Antônio da Alegria (SP). As mudas de jaracatiá são plantadas em vários pontos da propriedade sentido linear, na beira de cercas, de córregos, ao lado de reservas, sendo que o produtor tenta não plantar grande quantidade junto para evitar doenças.
Atualmente, são poucas as árvores que dão frutas, em torno de 30%, produção que acontece de janeiro ao final de fevereiro. “Só colhemos as sementes das frutas entre janeiro e fevereiro. Elas são semelhantes às do mamão, e podem ser implantadas em viveiros em saquinhos e transplantadas depois de setembro, quando as chuvas são frequentes. Lembrando que a terra tem que ser boa, mas não precisa de tratos culturais, quando o cultivo é orgânico, facilitando o manejo”, pontua Adauto.
Só no município, ele já plantou, em oito anos, em torno de três mil árvores de mudas que fez nesse período. O tempo para colheita das frutas é de quatro anos, e o corte está na média de seis anos. “Já cortei árvores com sete anos que deram três mil quilos de doce do caule. Temos algumas árvores que produzem uma quantidade alta de frutas, uma média de 10 caixas por árvore”, calcula.
Consorciação
Há oito anos Adauto vem produzindo o fruto consorciado com o café e outras culturas. Ele utiliza a fruta para fazer o doce, e diz que para colher é necessário derrubar o pé de jaracatiá. O doce já faz parte da culinária paulista hoje, revelado por meio da secretaria de cultura. Adauto ficou conhecido nessa região e desde então envia doces para várias cidades via encomendas. Ele conta que uma árvore de jacaratiá rende, em média, mil vidros de doces.