Thaís Cirino Bueno
Bióloga e doutora em Agronomia – FCA – UNESP
tcscirino@hotmail.com
Roberta Thiago
Graduanda em Engenharia Agronômica – UNESP
roberta.thiago@unesp.br
Dentre as principais lagartas que afetam o algodoeiro, destacam-se as espécies: Alabama argillacea (Lepidoptera: Noctuidae), lagarta popularmente denominada como curuquerê, considerada uma das piores pragas do algodoeiro, que ocasiona principalmente danos foliares. Seu desfolhamento pode promover a abertura e o amadurecimento precoce das maçãs, acarretando queda da qualidade das fibras e da produção.
Heliothis virescens (Lepidoptera: Noctuidae), conhecida como lagarta-das-maçãs, também ocupa posição de destaque em relação à lavoura algodoeira, atacando geralmente os órgãos frutíferos, resultando em queda de estruturas, causando danos nas fibras, sementes e maçãs.
Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) é responsável por danos em toda parte aérea do algodoeiro, com preferência por estruturas reprodutivas. Lagartas do gênero Spodoptera, como a Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae), a Spodoptera cosmioides (Lepidoptera: Noctuidae) e a Spodoptera eridania (Lepidoptera: Noctuidae), atacam desde a parte mediana até o ponteiro, raspando e perfurando os parênquimas das folhas, as brácteas, as flores e danificando as maçãs.
Chrysodeixis includens (Lepidoptera: Noctuidae), popularmente conhecida como falsa-medideira, promove a desfolha nas plantas, provocando orifícios no limbo foliar, atacando preferencialmente as folhas desenvolvidas; Agrotis ipsilon (Lepidoptera, Noctuidae).
Denominada comumente de lagarta-rosca, ataca plantas jovens e pode se alimentar de folhas e raízes, mas tem preferência pelo caule na região acima do colo, causando redução significativa no estande de plantas.
Já a lagarta Pectinophora gossypiella (Lepidoptera: Gelechiidae), chamada de lagarta-rosada, promove flores rosetadas que não abrem, afetando botões florais, maçãs, fibras e sementes.
Controle biológico
Na lavoura algodoeira, uma ampla diversidade de espécies realiza o controle biológico de lagartas, incluindo predadores, parasitoides e entomopatógenos. Entre os exemplos de insetos inimigos naturais desses lepidópteros-praga estão:
Trichogramma spp. (Hymenoptera: Trichogramatidae), que é um dos inimigos naturais mais utilizados, parasitando exclusivamente ovos;
Chrysoperla externa (Neuroptera: Chrysopidae), que alimenta-se de ovos e lagartas de várias espécies de lepidópteros;
Sirfídeos (Diptera: Syrphidae), que se alimentam de larvas e pupas de lepidópteros;
Podisus nigrispinus (Heteroptera: Pentatomidae), que é um predador generalista de lagartas e larvas de diferentes espécies;
Euborellia annulipes (Dermaptera: Anisolabididae), que tem alta capacidade de ataque e se alimenta de diversas presas, particularmente, de ovos em fases imaturas de insetos de lepidópteros.
Já em relação aos entomopatógenos, os principais exemplos que podem ser destacados são: Bacillus thuringiensis, Metarhizium anisopliae, Metarhizium rileyi e Beauveria bassiana.
Infecção
A infecção fúngica de um hospedeiro ocorre em quatro estágios: adesão, germinação e diferenciação, penetração e disseminação. Quando um inseto infectado morre, o fungo produz um antibiótico chamado “oosporina” que é usado para vencer a competição bacteriana no intestino do inseto.
Em seguida, as hifas de B. bassiana penetram o tegumento do inseto, que fica branco e com textura de algodão. Por fim, os conidióforos emergem no cadáver mumificado após alguns dias e carregam novos conídios da infecção para a transmissão.
A B. bassiana é utilizada em escala comercial em países como Estados Unidos e México para a produção de biopesticidas. No mundo, existem vários produtos comerciais de biocontrole contendo B. bassiana como ingrediente ativo.
A eficácia do produto é influenciada por fatores abióticos ambientais, principalmente umidade, temperatura, chuva e radiação solar; e biológicos como idade do hospedeiro, suscetibilidade e comportamento.
Eficiência no algodoeiro
Isolados de B. bassiana foram estudados e resultaram em viabilidade superior a 95%, confirmando mortalidade de lagartas de A. argillacea 10 dias após inoculação. Os isolados de B. bassiana foram testados contra A. argillacea em algodoeiro, resultando em porcentagens de mortalidade variando de 30 a 60%, na concentração de 10⁷ conídios/mL .
Formulações microencapsuladas de B. bassiana promoveram mortalidade de 33,3 e 56,6% de lagartas de primeiro instar de Heliothis virescens. A emergência de pupas e adultos de Helicoverpa armigera foi inversamente correlacionada com a infecção fúngica por B. bassiana.
Houve significativa mortalidade dos ovos e larvas neonatais e a redução na eficácia alimentar das larvas de segundo instar de Spodoptera frugiperda tratadas com isolados de B. bassiana. E em um estudo utilizando B. bassiana e extrato de folhas de nim a 20%, ocorreu um melhor desempenho no controle de S. eridania.