Manejo integrado de serradores em florestas

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Pedro Guilherme Lemes
Engenheiro florestal, doutor em Entomologia e professor – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
pedroglemes@hotmail.com

Crédito Fibria

Besouros-serradores recebem esse nome devido ao hábito de anelar ramos, galhos e troncos de árvores sadias, e o fazem com tanta habilidade que parece que uma pessoa, com a ajuda de uma serrinha, o fez.

Existem várias espécies e gêneros de besouros com esse hábito, mas nas Américas, o principal gênero é o Oncideres. As principais espécies pragas são Oncideres dejeanii, Oncideres impluviata (conhecido como o cascudo-serrador no Sul do Brasil) e Oncideres saga.

Esses besouros atacam uma grande variedade de árvores, especialmente leguminosas, mas são importantes mesmo como pragas na cultura da acácia-negra e bracatinga na região sul do Brasil.

Anelamento

Normalmente, são as fêmeas que fazem o anelamento dos galhos, de cabeça para baixo, removendo tira por tira da casca, em um movimento circular, até que fique fundo ao ponto de o vento ou próprio peso do ramo quebrá-lo.

O anelamento pode variar de horas a dias, dependendo do tamanho do ramo. Oncideres impluviata anela galhos mais finos, enquanto O. saga e O. dejeanii podem anelar até troncos de árvores.

As fêmeas anelam os galhos para que se acumulem nutrientes, e após terminar o anelamento, coloca vários ovos sob a casca do galho amputado, onde as larvas eclodirão, irão se desenvolver por um longo período (normalmente, um ano) e empupar. Após esse período, novos adultos sairão renovando o ciclo da praga.

Prejuízos

Oncideres saga e O. impluviata também podem ser consideradas pragas da arborização urbana e do paisagismo, pois atacam muitas espécies arbóreas plantadas para essas finalidades.  Essas espécies já foram registradas em várias outras espécies frutíferas e usadas na silvicultura, mas sem causar maiores prejuízos.

A maior consequência ocorre quando o anelamento é feito no fuste ou no ponteiro principal da árvore, podendo resultar em bifurcações, perda de dominância apical e depreciar o valor comercial da madeira.

Anelamentos de fuste feitos por O. saga podem causar a perda total da copa e a morte da árvore. O anelamento pode gerar perda de vigor, redução no crescimento em diâmetro e altura, além de reduzir a produção de casca, de tanino e lenha em acácias, comprometendo a produtividade florestal.

O anelamento intenso de galhos laterais causa grande perda de área foliar, reduzindo a assimilação fotossintética e, consequentemente, o crescimento da árvore.

Controle

O principal meio de controle populacional da praga é feito pela catação dos galhos anelados no campo, e posterior queima dos mesmos. Esse método de controle é obrigatório para produtores do Rio Grande do Sul, conforme A Lei Estadual no 9.482, de 24 de dezembro de 1991.

Nesse processo, ao se coletar e queimar os galhos, o produtor estará interrompendo o ciclo da praga e reduzindo as futuras infestações. É uma medida preventiva, logo, essa técnica tem baixa efetividade em áreas altamente infestadas.

Os galhos devem ser queimados sempre em local seguro, a fim de evitar incêndios florestais. A catação dos galhos deve ser feita em área total do plantio e pode, inclusive, se estender a áreas nativas próximas às plantações florestais para atingir maior eficiência.

Plantações de produtores que não realizam a catação podem servir como refúgio para a praga. Em áreas pequenas, pode ser realizada a catação e eliminação dos besouros adultos que foram encontrados nas árvores.

Medidas básicas, como manter o vigor das plantas, plantar espécies adaptadas ao local e evitar qualquer tipo de estresse às árvores também ajudam na redução da incidência dessa praga. Ainda, é muito importante preservar a natureza e a vegetação do entorno da plantação e do sub-bosque, pois nesses locais podem habitar inimigos naturais que auxiliam na regulação populacional dos serradores.

Em casos de grandes surtos, inseticidas à base de imidacloprido + ciflutrina e tiametoxam) + lamda-cialotrina foram usados em caráter emergencial, com autorização especial do Ministério da Agricultura, visto que não existem produtos registrados para o controle dessa praga.

Armadilhas

A captura de besouros adultos já foi feita por armadilhas do tipo caça-moscas, com orifícios maiores e contendo melaço a 10%. No entanto, a eficácia dessas armadilhas varia muito e nem sempre elas são eficientes. O mesmo vale para armadilhas que usam etanol como atrativo.

Alerta

Muitos outros insetos, incluindo insetos bons, como parasitoides e predadores, também se desenvolvem dentro dos galhos anelados pelos serradores. Logo, devemos buscar alternativas de controle que evitem incinerar os ramos anelados, visto que podemos estar destruindo esses organismos benéficos também.

Uma solução seria colocar os galhos dentro de gaiolas no campo, com telas que permitam a passagem de organismos menores que o serrador, mas impeçam a saída do serrador.

Mais informações

Já está disponível o Novo Manual de Pragas Florestais Brasileiras. O livro é digital e gratuito, e contou com a participação dos maiores pesquisadores de entomologia florestal do Brasil. Para ler, basta fazer o download pelo link https://www.researchgate.net/publication/356759640_Novo_Manual_de_Pragas_Florestais_Brasileiras

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