Angelo Lopes Pineda
Engenheiro de Processos Agrícolas e graduando em Agronomia – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos – Unifio
angelolpd@gmail.com
Davi Leonardo Ferreira
Graduando em Agronomia – Unifio
davileonardof@gmail.com
Aline M. S. Gouveia
Engenheira agrônoma, doutora e professora – Unifio
aline.gouveia@unifio.edu.br
A cana-de-açúcar se destaca como uma das principais culturas cultivadas no Brasil. Segundo a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) na safra 2022/23 o Brasil apresenta capacidade produtiva estimada de 572,9 milhões de toneladas, com redução de 1% quando comparado com a safra 2021/22.
A área plantada atualmente corresponde a 8.127,7 milhões de hectares, com produtividade média de 71,34 toneladas por hectares. Na presente situação, o País terá uma produção de 33,89 milhões de toneladas de açúcar e 30,35 bilhões de litros de etanol.
A indústria sucroenergética depende não somente do volume de matéria-prima, mas da qualidade dela. É a partir da mensuração dos Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) que se obtêm maiores retornos econômicos com a atividade sucroalcooleira.
Uso de maturadores
Neste caso, o uso dos maturadores são uma ótima ferramenta de gestão da safra agrícola, já que se pode flexibilizar a colheita, antecipando-a em determinadas situações que exijam entrega de matéria-prima na indústria para moagem.
O uso de maturador em cana-de-açúcar tem como principal objetivo a conversão dos fotoassimilados produzidos pela atividade fotossintética e utilizados para o crescimento vegetativo em reserva energética, potencializando a concentração de sacarose nos colmos.
Sua atuação promove maturação fisiológica da cana-de-açúcar e, consequentemente, condições ideais para a colheita, que promovem altas produtividades e altos teores de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) importante parâmetro para a indústria sucroalcooleira.
O indicador ATR corresponde à soma total dos açúcares contidos na cana de açúcar, que consequentemente será utilizado no processo de produção de açúcar e etanol pela indústria. O ATR é precificado a partir da quantidade do mesmo contido no colmo da cana-de-açúcar colhida e comparado diretamente com o preço de venda dos seus produtos, etanol e açúcar.
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Retorno econômico
A cana comercial presente na maioria dos canaviais brasileiros tem como objetivo entregar em final de ciclo o máximo de seu potencial energético presente nas suas reservas. Pensando em valores proporcionais, quanto maior a reserva energética de açúcar, maior o retorno econômico.
Com isso em mente, o uso dos maturadores é fundamental para potencializar o acúmulo de sacarose antes do ciclo natural da variedade. Dessa forma, consegue-se antecipar a colheita de cana em uma área, sem a necessidade de comprometer seu potencial produtivo e econômico.
Os maturadores
Os maturadores são produtos químicos que aceleram o acúmulo de açúcares nos colmos da cana e contribuem com a manutenção do ATR, minimizando as perdas ao final da safra. No início da safra os maturadores são utilizados em variedades precoces com o objetivo de acumular sacarose na cana e inibir o florescimento da planta.
No meio da safra, esses produtos são aplicados para explorar o máximo do potencial de sacarose das variedades. Já no final da safra, os maturadores são usados para manter o acúmulo de sacarose, permitindo a extensão do período de safra.
Sua aplicação deve atender condições adequadas e isso inclui: condições climáticas, condições do canavial, época do ano e variedade, que são os principais fatores que podem alavancar os valores de ATR do canavial.
Além disso, é uma alternativa na hora de programar a logística de colheita de uma usina, no qual pode-se optar por sua aplicação na ausência de um canavial em condições ótimas de maturação, principalmente para início e final de safra agrícola.
Custo-benefício
A transformação da energia de crescimento, isto é, a quantidade de exposição à luz e à amplitude térmica, são fatores que afetam a concentração de açúcar na planta. Nesse sentido, os maturadores podem ser utilizados para antecipar o processo de maturação, auxiliando o agricultor no planejamento da colheita e propiciando a ele um aporte no retorno líquido do seu capital investido, pois este tipo de manejo tem como benefício elevar o teor de sacarose presente nos colmos da cana.
Outro benefício está relacionado à flexibilização do planejamento de colheita, em que pode-se antecipar a colheita de cultivares precoces para o início do ano-safra com uma maior quantidade de sacarose, mesmo próximo de períodos de maiores índices pluviométricos e de altas temperaturas, período em que a planta se encontra em processo de crescimento vegetativo.
Já para as cultivares tardias, o incremento do maturador pode propiciar a antecipação da colheita, mitigando a ocorrência de chuvas e o aumento de temperatura característicos do período da primavera, em que posteriormente a soqueira da cultivar pode aproveitar este período para o seu desenvolvimento vegetativo do próximo ciclo da cultura.
Máximo potencial produtivo
Para a maximização do potencial produtivo, a utilização dos maturadores vem se tornando praticamente obrigatória devido às adversidades climáticas sofridas nos últimos anos agrícolas e assim garantir um maior retorno de capital investido para o produtor.
Mas, é necessário o manejo correto desta ferramenta e algumas premissas devem ser seguidas, como: o planejamento rigoroso, pois o período de atuação do maturador na planta pode variar de 30 a 60 dias, dependendo da variedade do canavial e o tipo de maturador.
Com isso, o processo de colheita deve respeitar o período de carência do produto para potencializar o aporte em sacarose na planta. Na aplicação, é importante se atentar para o modo de aplicação.
- Via aérea: uso de aviões pulverizadores para grandes áreas e de drones para pequenas e médias áreas, respeitando sempre as áreas de restrições, como áreas de APP e perímetros urbanos. Dar preferência para a aplicação nas primeiras horas do dia, pois os fatores climáticos devem ser levados em consideração, como vento entre 3,0 a 15 km/h, temperatura do ar na faixa de 25 a 30°C e umidade relativa do ar em 55%.
Neste período, as plantas estão mais túrgidas, propiciando uma melhor absorção do produto. A aplicação do maturador não deve ser realizada durante períodos chuvosos pois, posterior à precipitação pode ocorrer lixiviação e a não eficiência do produto na fisiologia da planta.
Saiba mais
No Brasil, os maturadores químicos ethephon, trinexapac-ethyl e bispyribac-sodium são classificados como reguladores de crescimento, enquanto clethodim e glyphosate como herbicidas.
Particularmente, em doses recomendadas, proporcionam estresse químico às plantas e minimizam o crescimento dos colmos, sem prejuízos à gema apical. Dentre as classes de maturadores comerciais, o glyphosate é a opção mais barata e eficiente, entretanto, sua aplicação é recomendada em canaviais que serão reformados, pois pode comprometer a rebrota da cana para o ciclo posterior.