Autores
Dyeme Antonio Vieira Bento
Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas e pesquisador
dyeme.bento@gmail.com
Ludmila Oliveira Medeiros Brasil
Graduanda em Engenharia Agronômica – Centro Universitário UNA
ludmila.medeirosbrasil@gmail.com
Algumas informações são necessárias antes de detalhar o manejo cultural do melão. As principais regiões produtoras no Brasil estão na região nordeste e são elas: a região de Mossoró, no Rio Grande do Norte, abrangendo ainda parte do Ceará, e a região do Vale do São Francisco, abrangendo parte dos Estados da Bahia e de Pernambuco.
As diferentes condições, características de mercado e nível tecnológico empregado em cada uma dessas regiões irão influenciar o manejo da cultura. A distribuição da área cultivada se dá conforme o quadro a seguir:
Local/safra | Área (ha) 2018/19 |
Rio Grande do Norte/Ceará | 12.300 (89%) |
Vale do São Francisco (BA/PE) | 1.450 (11%) |
Total | 13.750 |
Especialistas em melão
No polo de Mossoró (RN), principal região produtora do País, o foco é o mercado externo, especialmente o europeu. Nesta região estão concentradas as principais empresas exportadoras da fruta, que possuem alto investimento e nível de tecnologia.
Nessa região utilizam-se somente híbridos e os principais tipos de melão cultivados são o Gália, Pele de Sapo, Cantaloupe, Amarelo e Honey Dew. No Vale do São Francisco o foco é o mercado interno e o investimento em tecnologia é inferior.
A utilização de sementes de híbridos vem crescendo, mas ainda se utilizam variedades de polinização aberta. O principal tipo de melão cultivado é o Amarelo, que possui maior aceitação no mercado brasileiro. O manejo cultural descrito a seguir terá como referência aquele que se emprega na região de Mossoró (RN), devido à sua maior expressão para a cultura do melão no Brasil.
Na região mencionada o cultivo é realizado durante todo o ano, tanto por pequenos produtores quanto grandes empresas exportadoras. No período chuvoso (dezembro-maio) a área semeada é menor, devido à maior incidência de doenças. Na época seca (junho-novembro) a semeadura é intensificada e é quando se dá a maior produção, aproveitando a principal janela de exportação, que ocorre durante o inverno europeu.
Em detalhes
O melão é cultivado em canteiros, sendo o campo organizado de forma padrão em talhões de oito linhas de 200 m, com 2,0 m entrelinhas; o espaçamento entre plantas dependerá do tipo a ser cultivado. É utilizado o mulching (plástico), de forma a favorecer a manutenção da umidade no solo e auxiliar no controle de plantas invasoras.
É mais comum a realização do transplante de mudas, o que favorece o estabelecimento do número de plantas desejado, sendo possível, porém menos utilizada a semeadura direta, cuja principal desvantagem é o ataque de roedores, que se alimentam das sementes.
Desde o transplante até o florescimento os canteiros são recobertos por manta de TNT (tecido não tecido), protegendo as plantas do ataque de insetos, principalmente da mosca minadora (Liriomyza trifolii) e da mosca-branca (Bemisia tabaci) inseto vetor do vírus do amarelão. Após a abertura das flores femininas, a cobertura de TNT é retirada para que ocorra a polinização, que é realizada por abelhas.
O sistema de irrigação empregado é o de gotejamento, sendo as mangueiras (com gotejadores) instalados sobre os canteiros, sendo em seguida cobertas com o mulching. A fertilização é realizada juntamente com a irrigação (fertirrigação). O tipo e quantidade do fertilizante irão variar dependendo da fase da planta: crescimento inicial, florescimento, vingamento de fruto, crescimento de fruto e maturação.
Até a etapa de vingamento de fruto é feito o controle químico de plantas invasoras; durante as etapas de crescimento de fruto e maturação, a rama já recobre praticamente toda a superfície do talhão e o controle pode ser feito de forma manual, se necessário.
A colheita é realizada de forma manual ou semimecanizada e o ciclo, incluindo o período médio de 10 dias para a produção da muda, pode variar de 65 a 80 dias.
Tratos culturais
Os tratos culturais, já mencionados anteriormente, podem ser resumidos no esquema a seguir: preparo do solo (aração, gradagem) – encanteiramento – instalação das mangueiras para fertirrigação – aplicação mecânica do mulching – transplante – controle químico (inseticida) – cobertura com TNT – controle químico de invasoras – retirada do TNT – monitoramento da polinização por abelhas – controle químico (inseticida) – controle manual de invasoras – colheita
No preparo do solo para o cultivo do melão, a aração em profundidade de aproximadamente 30 cm é suficiente para o adequado desenvolvimento do sistema radicular. Em seguida, a gradagem deve ser realizada para o destorroamento de forma a permitir formação adequada do canteiro, que deve ter altura de aproximadamente 20 cm.
Em seguida é instalado o sistema de irrigação, em que as mangueiras com gotejadores são colocadas sobre os canteiros. De forma geral utiliza-se mangueiras com gotejadores espaçados a 30 cm, com vazão de 1,5 Lh-1. Conforme já mencionado, as áreas para cultivo do melão são organizadas em talhões com oito linhas de 200 m, com 2,0 m entre linhas e diferentes espaçamentos entre plantas, dependendo do tipo: 0,50 m para o Pele de Sapo, que é um melão de maior calibre (10 000 plantas ha-1) e 0,40m (12 500 plantas ha-1) para os demais tipos.
Para melões de calibre menor, como os Gálias e alguns Cantaloupes, pode-se adensar a 0,35 ou 0,30 m entre plantas. A irrigação é realizada em dois ou três turnos diários, sendo os valores de referência: 15,0 L m-2 antes do transplante, para garantir a adequada umidade do solo nessa operação, seguindo-se 2,0 L m-2 dia-1 até o início do florescimento; 4,0 L m-2 durante o florescimento e vingamento de frutos; 7,5 L m-2 durante o crescimento de frutos e 4,0 L m-2 na fase de maturação.
Transplante
O transplante é realizado em média após 10 dias da semeadura, entretanto, pode variar de oito a 12 dias. A semeadura é feita em geral em bandejas de 200 células, com substrato fino de fibra de coco. Nos quatro primeiros dias após a semeadura, as bandejas são mantidas em ambiente com ausência de luz e com umidade acima dos 90%, para a emergência das plântulas.
Após a emergência as bandejas são levadas à estufa ou telado, recebendo irrigação por aspersão até a emissão das duas primeiras folhas verdadeiras. No transplante, são feitas covas perfurando-se o mulching ao longo do canteiro no espaçamento desejado, com profundidade de aproximadamente 3,0 cm.
Polinização e fertilização
A polinização do melão é realizada por abelhas, sendo necessárias em média cinco colmeias por hectare. Cerca de 25 dias após o transplante tem início a abertura das flores femininas, quando se retira a cobertura de TNT e inicia-se o monitoramento da atividade das abelhas, que é mais intensa no período da manhã.
A fertilização é realizada durante os turnos de irrigação, distribuída conforme mencionado, em dois ou três turnos diários, e varia conforme a fase da planta. Os valores de referência para os principais nutrientes (NPK) são mostrados na tabela a seguir.
Importante saber
O controle químico de plantas invasoras deve ser realizado até a cobertura da área pela rama, durante a fase de crescimento de frutos; a partir daí o controle pode ser feito de forma manual, quando necessário.
O ciclo da cultura depende do tipo de melão cultivado: 65 dias para Cantaloupes precoces e Gálias, 75 dias para Cantaloupes tardios, Amarelos e Honey Dews e 80 dias para Peles de Sapo, já incluindo-se o período médio de 10 dias para a produção da muda.
Tamanho x produtividade
Inicialmente, é importante destacar que no mercado de melão a produtividade está ligada ao tamanho adequado do fruto por tipo, isto é, o que determinará a produtividade será o número total de caixas por hectare. Frutos muito acima ou abaixo do padrão para serem embalados em caixas para a exportação, para cada tipo, são considerados descartes.
A avaliação da produtividade, portanto, deve considerar o tamanho ideal do fruto por tipo. De forma bastante generalizada, a tabela a seguir mostra a quantidade de frutos por planta e a variação em termos de kg/fruto que é aceita para exportação.
Na prática
Os resultados práticos em campo referem-se à produção de frutos de alta qualidade para o mercado, cumprindo os requisitos do exigente mercado externo em termos de produção, Brix (teor de açúcar) acima de 12, mas podendo chegar a 16 para os híbridos de mais alta performance, tamanho ideal para a exportação, que é realizada em caixas e requer o calibre adequado de fruto, bem como excelente pós-colheita, que deve ser de no mínimo 25 dias, para a chegada do fruto em boas condições de consumo na Europa.
Há, hoje no mercado, sementes de híbridos de Gálias e Cantaloupes com excelente resistência à minadora e ao vírus do amarelão, bem como alguns híbridos de Pele de Sapo com boa resistência ao mesmo vírus; esses materiais são fruto do melhoramento genético realizado por diversas empresas produtoras de sementes que realizam atividades de pesquisa na região.
Em evolução
Os produtores de melão na região de Mossoró trabalham hoje com alto nível de profissionalismo, em um mercado de alto valor e alto risco, o que minimiza a existência de erros recorrentes.
Fatores adversos geralmente ocorrem devido a falhas no monitoramento da lavoura, que deve ser diário. Como o ciclo do melão é curto, com desenvolvimento bastante rápido, problemas relacionados ao controle adequado da mosca minadora e mosca-branca devem ser identificados no início e imediatamente corrigidos, assim como deve ser rigoroso o monitoramento da atividade das abelhas e da ocorrência de deficiência ou excesso de nutrientes devido a falhas na fertirrigação.
Todos os erros podem ser evitados com o acompanhamento diário do desenvolvimento das plantas no campo.
Custo x rentabilidade
Dados de uma pesquisa de produção de melão no RN visando alta tecnologia mostram custo de produção inicial de R$ 16.700 considerando todo investimento necessário para a área de 1,0 hectare (10.000 m2), desde custos operacionais, insumos e mão de obra, visando colher frutos em aproximadamente 60 dias com peso médio de 1,6 kg obtendo uma produção média de 30 toneladas por hectare.
Com o valor de R$ 0,80 kg para o mercado interno, alcança-se um faturamento bruto de R$ 24,000/ha. Os valores apresentados podem variar em suas condições locais, tecnologia utilizada, custo de insumos e preço de mercado. O valor médio de venda foi baseado no mercado local de (RN), sem a inserção de atravessador.