Túlio de Paula Pires
Engenheiro agrônomo, mestrando em Agricultura e Informações Geoespaciais – Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisador Fronterra
tuliopiresagro@gmail.com
Alisson André Vicente Campos
Engenheiro agrônomo, doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) e pesquisador Fronterra
alissonavcampos@yahoo.com.br
O manejo do cafeeiro é muito dinâmico e oneroso, devendo sempre obter novas tecnologias a fim de reduzir custo como também facilitar seu manejo. Dentre as diversas atividades, o controle de plantas daninhas tem elevado ainda mais o custo, devido à pressão de seleção de biótipos resistentes.
Alguns cafeicultores têm utilizado o mulching de polietileno como uma das alternativas de manejo, proporcionando aumento da produtividade e, consequentemente, da lucratividade. Embora essa tecnologia ainda seja pouco explorada na cafeicultura, são necessárias mais pesquisas, a fim de validar e difundir ainda mais essa inovação.
Pesquisas
Pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia, campus Monte Carmelo (MG), estão desenvolvendo uma técnica para reduzir os custos de produção no plantio do café que pode diminuir em até 38% os custos de controle de plantas invasoras na cultura do café.
O experimento conduzido mostrou que, após dois anos do trabalho, as plantas de café cultivados sob o filme de polietileno tiveram crescimento elevado aos do plantio convencional, tanto em relação ao número de ramos produtivos quando ao número de nós presentes em cada ramo, de forma que essas características morfológicas têm uma relação direta com a produtividade do cafeeiro.
Variedade de coberturas
No mercado de filmes de polietileno, existe uma grande variedade de coberturas de solo disponíveis para compra. Os filmes de cor preta são recomendados para regiões de clima mais ameno.
Isso porque ele propicia o aumento da temperatura do solo em torno de 3ºC em relação ao solo sem cobertura. O polietileno dupla face branco/preto é apropriado para áreas de clima tropical, evitando que haja uma elevação da temperatura da superfície do plástico que queime as folhas e frutos.
Além disso, aumenta a fotossíntese da planta, pois reflete melhor a luz. Já o dupla face prata/preto apresenta efeito intermediário entre o preto e o branco, quando comparado à temperatura, além de repelir insetos.
Benefícios
Existem muitos benefícios na utilização do mulching na cafeicultura. Entre eles, estão: otimização do uso da água no solo, retenção da água no solo, menor compactação, diminuição da amplitude térmica, favorece o rápido crescimento e uniforme das plantas, diminui o impacto das gotas vindas das chuvas, impede o crescimento de plantas invasoras, com menor erosão no sulco de plantio.
Um ponto interessante do uso do mulching é a retirada das capinas na linha de plantio, sendo elas feitas de forma manual, ou utilizando herbicidas seletivos, isso porque onera muito o custo.
O filme plástico protege e impede o crescimento de plantas invasoras ao redor da muda, de forma que não haverá concorrência da muda com as plantas daninhas, assegurando seu desenvolvimento pleno.
Limitações
Quando em desenvolvimento inicial e com a presença de capinas manuais com uso de enxadas, é comum observar lesões nos ramos das plantas. A falta de técnica dos trabalhadores, pelo contato da ferramenta com a planta, acaba danificando o pé de café proporcionando a entrada de fungos e bactérias.
Há, também, a utilização de herbicidas não seletivos, visto que pode acabar intoxicando o cafeeiro, assim prejudicando seu crescimento. A produtividade é um dos principais fatores que impulsionam o cafeicultor na adoção de novas tecnologias.
Mais produtividade
A utilização do mulching, independentemente da cor e largura utilizada, proporcionou produtividade média de 19,8 sacas ha-1, ocasionando um acréscimo de 16,9 sacas ha-1 em relação ao tratamento controle no experimento conduzido pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Manejo
Quando se fala em implantação do cafeeiro utilizando o manejo com o mulching, existem duas possibilidades para o cafeicultor aderir. A primeira é plantar as mudas na área e depois vir com o plástico por cima, fazendo uma abertura para colocar a muda.
Na segunda, o plástico é colocado primeiro e depois se faz o plantio das mudas. As operações de colocar o plástico na área podem ser feitas de forma manual ou mecanizada.
Há a opção, no mercado, de adquirir a lona venha perfurada no espaçamento que o próprio produtor utilizará, facilitando a implantação. Após a instalação, recomenda-se a deposição de terra próximo à lona para manter o material no local, deixando-a fixa no chão.
No caso da operação mecanizada, esse procedimento já é feito.
Durabilidade
No campo, o plástico é mantido em torno de dois anos ou até o café atingir a primeira safra significativa. Quando o café entra na fase de produção, manter o plástico na lavoura é inviável, pois o cafeicultor precisa fazer várias operações.
A varrição consiste em recolher os frutos de café que caem no chão, chegada do cisco, que consiste em voltar o que está no meio da rua para de baixo da planta, favorecendo melhores condições ambientais.
Nesse sentido, há uma busca constante no mercado por um material que seja ecologicamente correto e sustentável: o mulching biodegradável. Logo, o produtor não precisa retirá-lo do campo, pois ele se decompõe sozinho.
O lado do produtor
As principais dificuldades encontradas pelos cafeicultores que utilizam o mulching são a realização da adubação de cobertura em áreas não irrigadas e que, portanto, não utilizam a fertirrigação.
Neste sentido, o uso de adubos de liberação controlada pode ser tornar uma alternativa viável, reduzindo o número de parcelamentos das adubações, em função do fornecimento regular e contínuo de nutrientes para as plantas.
As aplicações de fungicidas e inseticidas de solo se torna dificultada devido ao impedimento do filme plástico.